Meio Ambiente

Pandemia faz geração de lixo hospitalar crescer 40% na cidade em 2021

Cada tonelada de lixo hospitalar custa R$ 3 mil para o município coletar e destinar. Só nos três primeiros meses de 2021, a Serra coletou 285,5 toneladas nas unidades de saúde e hospitais públicos, contra 203 toneladas no mesmo período de 2020. Foto: Divulgação/Conascon

O avanço de casos de Covid-19 fez crescer a geração de lixo hospitalar na Serra, município que abriga dois (Dório Silva e Jayme Santos) dos principais hospitais públicos para tratamento da doença no ES. Fez também aumentar a demanda por enterro nos cemitérios municipais. As informações são do Secretário de Serviços da Serra, Ênio Bergoli, que neste terceiro bloco da entrevista concedida ao Tempo Novo no último dia 07 (veja o primeiro e segundo blocos nos respectivos links) explica como o município tem trabalhado para conseguir recolher os resíduos da saúde e impedir colapso funerário.

A pandemia da Covid-19 tem levado à imensa pressão no sistema de saúde, sejas nas unidades básicas, pronto-atendimentos e hospitais. Como isso tem refletido na geração de lixo hospitalar na Serra?   

Foram 204 toneladas de janeiro a março de 2020, quando praticamente não tinha pandemia. Este ano 285,5, ou seja, aumentamos em 40% o lixo hospitalar.

 Esse aumento da geração de lixo hospitalar por conta da pandemia preocupa? Qual o custo?

Não temos dificuldade não. Lixo hospitalar não tem jeito, você tem que recolher e dar destino. O problema é o custo. Custa mais de R$ 3 mil a tonelada. Inclusive deve ampliar este ano, por alguns motivos. Por exemplo, está inaugurando o hospital Materno Infantil. Nós já estamos cuidando do lixo hospitalar dele. Recentemente, no mês de março, a sede dos pontos móveis do Samu saiu de Vitória e veio para a Rodovia do Contorno (BR 101), na Serra. Quando vêm as ambulâncias do interior tem que fazer a assepsia ali na sede, então os resíduos acabam ficando, então nós estamos também recolhendo esses resíduos. E nesse momento de pandemia estamos dando prioridade absoluta na coleta de resíduos hospitalares.

Dos hospitais estaduais e unidades de saúde municipais a coleta é feita pela Prefeitura. Clínicas e hospitais privados também?

Fazemos a coleta só das unidades públicas. Na rede privada a coleta e destinação é da responsabilidade de cada gerador.

Nota da redação: O lixo hospitalar recolhido pela coleta pública é levado para o aterro sanitário da Marca Ambiental, localizado em Cariacica às margens da rodovia do Contorno.  

O recrudescimento da pandemia tem levado a um quadro inédito no país também observado no ES: estão acontecendo mais mortes que nascimentos. Como isso tem refletido nos seis cemitérios administrados pela Prefeitura?

Nós estávamos com média de sete sepultamentos diários nos últimos meses. Morte muito mais, porque nós temos também cemitérios privados. Nos últimos quinze dias (a entrevista foi concedida no último dia 07) piorou. Nós tivemos na semana passada uma situação que nos deixou muito preocupados. Começou com 12 enterros diários, teve dia que chegou a 16 enterros. Na média praticamente dobrou. Essa semana começou com pico mais alto, mas teve um dia com 08. E outro de 12. Mas estamos numa média móvel hoje com o dobro de sepultamento nas nossas unidades públicas.

Há capacidade para atender tamanha demanda?

Como a gente atende a demanda? Em parte com a abertura de novas covas, em parte com exumações. Uma vez a pessoa sepultada, você retira os ossos, vai para o ossário e abre uma vaga ali. A gente tem essa válvula de escape. Por enquanto não tem nada de alarmante. A gente está conseguindo dar conta dos sepultamentos, mas realmente acende uma luz amarela. Abrir novas covas não é a melhor maneira de resolver esse problema. Nos demos uma salto nas exumações. Por dia podemos exumar nove. Quando estava com média de sete sepultamentos por dia e exumando nove, nós tínhamos um saldo de dois (jazigos livres para receber corpos). Com isso acabamos acumulando um saldo.

Só que agora se morrer o dobro, eu entro em déficit. Um mês são sessenta. Um ano, 720, naquela média. Então uma situação confortável. Só que agora se permanecer esse média de 14 sepultamentos por dia eu passo a ter um déficit de 5 vagas, pois são 9 exumações por dia.

Se perguntar se tem risco de não ter mais como sepultar? Não tem. Obviamente quando a gente percebe que todas as camadas, especialmente os mais jovens estão contraindo Covid, as classes mais carentes, C,D e E. São pessoas que demandam mais estrutura pública. Há uma grande incógnita em relação a esse crescimento nos cemitérios públicos.

Por isso estamos com essa luz amarela. Temos um saldo ainda por conta das exumações. E confiamos, obviamente, que estejamos no pico e que se comece a reduzir. Que comecem a ser contidas as mortes.

Enterro de vítima da Covid-19 no cemitério de São Domingos: tempo menor de exumação, covas verticais e preocupação com necrochorume Foto: Gabriel Almeida/ Jornal Tempo Novo

Há risco de ter que abrir valas comuns, como em cenários de guerra? 

Eu não creio nessa hipótese. Somos bastante organizados nesse sentido. Temos plano A, plano B, plano C, temos áreas anexas de alguns cemitérios que já vistoriamos, acho que não vai ser necessário. Só com algumas exumações e aberturas de covas – nós temos estrutura de contrato que cada cova abrem três vagas, botando vertical.  Se abrir uma cova convencional você vai ter ficar com aquele espaço travado até poder exumar. Então já estamos abrindo de três em três, modelo vertical, são aquelas plaquinhas de concreto.

Uma outra alternativa é a questão da exumação, aqui na Serra são quatro anos. Quase todas as cidades do Brasil, inclusive aqui do Espírito Santo, esse tempo é de três anos. Então estamos com proposição de legislação para reduzir esse tempo para três anos. São muitas alternativas. Eu particularmente não acredito em caos em relação a sepultamentos. Obviamente nós estamos num caos e precisamos nos proteger da pandemia. Mas não creio em colapso, com os dados de hoje, em relação a sepultamento nos cemitérios públicos.

Nota da redação: Em declaração ao Tempo Novo no dia 14 de abril, portanto sete dias após a entrevista do secretário Bergoli, o prefeito Sérgio Vidigal afirmou que há temor de colapso funerário e que prefeitura vem adotando medidas para evitá-lo. Leia a matéria aqui.

Quais são os cuidados com os coveiros para evitar surtos de Covid-19 entre esses trabalhadores? Há previsão de vacinação para eles, uma vez que a regra estadual define este público também como prioritário?

Chegou para mim pedido dos garis terceirizados para que possam receber vacina. Mas o marco regulatório sobre isso não inclui os garis. Tão importante quanto as pessoas que trabalham nos cemitérios, é a demanda dos garis que lidam com lixo no dia a dia. Inclusive recebemos uma provocação da empresa contratada por nós e encaminhei para a Secretaria Municipal de Saúde, que vai encaminhar para a estadual. Mas é uma coisa que não está prevista. E como a gente infelizmente no Brasil tem um número de vacina aquém das nossas necessidades.

Mas há norma estadual publicada em fevereiro prevendo vacina para os agentes funerários…

Eu recebi essa demanda dos garis e encaminhei. Para ser franco recebi do pessoal do cemitério reclamação – inclusive foi ontem (06) – e já atuei hoje em cima da empresa contratada. A reclamação era sobre falta de EPI, máscara. Então acionamos para reguralizar isso. Mas de vacina não. Mas tendo legislação nós vamos encaminhar essa demanda para a saúde.

Com aumento expressivo dos enterros por conta da pandemia, o que a Prefeitura está fazendo para impedir problema sanitário com o necrochorume, líquido resultante da decomposição dos corpos e que pode atingir solo, poços artesianos e cursos d’água no entorno dos cemitérios? 

Todos os cemitérios quando são instalados eles logicamente tem um estudo. E creio que aqui -eu estou passando a administrar a poucos meses – mas os cemitérios nossos eu não percebo que eles estão localizados em áreas de APP (área de preservação permanente), próximo de nascentes. Nós não temos registro de que tenha algum cemitério em área problemática. Mas vamos apurar. Para instalação dos cemitérios, um dos critérios é esse, de não instalar perto de lençol freático nem em área de preservação permanente. Mas é uma preocupação que todo cemitério deve ter. Mas os cemitérios daqui já estão consolidados há muitos anos. Acredito que nãom tenham esse problema. Mas se tiver algum tipo de denúncia nós vamos averiguar.

Redação Jornal Tempo Novo

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