Os cerca de 100 gatos castrados que vivem em harmonia com a fauna e a flora no Parque Pedra da Cebola, em Vitória, podem estar com os dias contados. Isto porque, a Prefeitura de Vitória, na gestão do prefeito Lorenzo Pasolini, pretende publicar um decreto onde permitirá o acesso de cães ao espaço público, atitude que de acordo com ativistas que estão preocupados com a situação, pode gerar o extermínio dos felinos e atrapalhar o trabalho realizado há anos.
Desde que foi entregue a população em 1997, é proibida a entrada de cães no Parque que tem uma mata nativa preservada. Além disso, outros animais vivem livres na Pedra da Cebola, como gansos, patos, galinhas, gambás, teiús (lagartos) e diversas espécies de pássaros, que passam a correr risco com a circulação de cachorros.
As oito colônias de gatos que vivem no Parque, todos eles, são castrados, alimentados por voluntários que tiram o dinheiro do próprio bolso para alimentar, vermifugar e promover cuidados veterinários, quando se faz necessário.
Um deles é o médico Fernando Furtado de Melo, que desde 2017, se desdobra entre um plantão e outro para se dedicar a alimentar e cuidar dos gatos do Parque. “Os gatos vivem livres, estão saudáveis, têm comida e água todos os dias que eu mesmo alimento e troco. A ração, 75 quilos por semana sou eu quem compra, assim como os petiscos. Os gatos que vivem aqui recebem medicação quando necessário, em caso de alguma doença de pele, como sarna, nós que tratamos”.
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O maior medo do cuidador é que com a presença de cães, os gatos fujam, se tornando presa de outros animais e até mesmo sendo atropelados em via pública. “Mesmo com regras, sabemos que as pessoas não vão manter os cães com guia ou focinheira no parque. Vai haver um extermínio dos bichos, não só dos gatos, mas de todos os animais que vivem ali dentro. Vai ser uma tragédia”, alerta.
Fernando tem o apoio também do grupo Gatinhos Pedra da Cebola que auxilia com a castração dos animais quando necessário e com internação em clínica.
“As meninas do grupo dão o apoio com a parte veterinária e todos os que foram testados na colônia do Parque que tinham doença como Fiv/Felv (que são doenças específicas de gatos e não são transmissíveis para humanos), foram recolhidos e enviados para lar temporário e outros foram adotados. Quando começamos eram cerca de 200 gatos, com a castração e os cuidados conseguimos fazer o controle populacional. Tudo isso foi feito de forma independente sem ajuda do poder público”.
Ilka Westermeyer, do Gatinhos Pedra da Cebola, disse que o grupo enxerga a situação como muito preocupante, e acredita que os gatos correm risco de morte.
“Ainda não sabemos como nos mobilizar a respeito e vamos precisar muito da força e ajuda de todos. Como bem sabem, estamos há 5 anos investindo o tempo e o dinheiro de todos os voluntários em cuidar da colônia de gatos do parque para mantê-la saudável, com controle reprodutivo, vivendo em harmonia com a fauna e flora local”, disse Ilka.
Ilka afirmou que a abertura do parque para os cães, fará com que os gatos se escondam, além de ficar assustados e ariscos. “Coloca diretamente em risco a vida dos mais de 150 gatos que cuidamos naquele parque hoje. Pois eles não são socializados com cachorros e também não sabemos como cachorros diversos podem agir na presença de gato, criando até mesmo situações de violência entre os animais, devido a irresponsabilidade que prevemos ocorrer sem uso de guias e atenção necessária”.
No último dia 27, foi realizada uma reunião entre o grupo e a Secretaria de Meio Ambiente de Vitória para tentar reverter a situação, o que foi totalmente ignorado pela gestão do prefeito Lorenzo Pasolini.
O jornal Tempo Novo procurou a Prefeitura de Vitória para falar sobre o assunto. Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam) informou que há uma proposta de decreto que visa permitir o ingresso e a permanência de animais de estimação nos parques urbanos de Vitória, assegurando aos visitantes e usuários o convívio pacífico com os pets e os seus condutores, desde que em observância às regras e legislações em vigor.
A Semmam observa ainda que está trabalhando para implementação de políticas públicas inclusivas para a causa animal e que vem conversando com protetores independentes visando apresentar a proposta e aprimorar a política de inclusão.
A medida, caso implementada, contará com ações de monitoramento pela Semmam, por meio da Educação Ambiental, com abordagem da guarda responsável e do setor de Bem Estar Animal para monitoramento do comportamento dos cães, de forma a cumprir a legislação vigente (recolhimento de dejetos e andar com o cães com coleira e guia, conforma legislação vigente.
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A proposta de decreto prevê uso de coleira ou peitoral com guia de condução em todos os animais, adequada à tipologia racial de cada animal; a apresentação de carteira de sanitária do animal atualizada, assinada por médico veterinário devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina Veterinária, para levar segurança aos frequentadores dos parques; e fixação de plaqueta de identificação junto à coleira, com o nome do animal e o telefone do seu responsável.
Além disso, os cães das raças Pit bull, Mastim napolitano, Rottweiler, American stafforshire, Dobermann, Bull Terrier, Pastor alemão, Fila, Boxer, seus mestiços e outros de porte físico e força semelhantes, segundo classificação da Federação Cinológica Internacional – FCI, devem ser, obrigatoriamente, conduzidos por pessoa maior de 18 anos e deverão utilizar guia de condução de comprimento máximo de dois metros, focinheira e colar de grampo adequados à tipologia racial de cada animal.
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