Uma abordagem da Polícia Militar gerou revolta no bairro Das Laranjeiras, em Jacaraípe, na Serra, na noite desta quinta-feira (3). Durante a ação, dois jovens foram agredidos por policiais, que também proferiram xingamentos contra moradores presentes no local.
Um vídeo gravado por moradores, que não registrou o início da abordagem, mostra um dos jovens sendo segurado por um policial, que o agride com socos. Outro policial aparece no vídeo apontando uma arma para a cabeça do mesmo jovem, que não oferece resistência à abordagem. Apesar disso, as agressões continuam.
As imagens também mostram outros dois policiais imobilizando o segundo jovem, que já está no chão. Um dos policiais teria ajoelhado sobre o pescoço dele enquanto tentava algemá-lo.
Veja vídeo:
Nesse momento, familiares e moradores entraram em desespero e tentaram intervir para retirar o policial de cima do jovem, que, segundo testemunhas, estaria sendo sufocado.
Todos os envolvidos foram levados à Delegacia Regional da Serra, localizada em Parque Residencial Laranjeiras, onde prestaram depoimento. Após serem ouvidos, os jovens foram liberados. Em seguida, eles se dirigiram a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Serra para obter os laudos médicos que comprovam as agressões sofridas.
“Agressão foi injusta”, afirma advogada dos jovens da Serra
A advogada dos jovens, Jéssica Antônia, afirmou ao Jornal Tempo Novo que a ação policial foi injustificada. De acordo com ela, os jovens estavam na porta de suas casas quando foram abordados e agredidos sem motivo aparente.
“Eles estavam na porta de casa quando a polícia os abordou e, sem qualquer justificativa, começou a agredi-los. Por não aceitarem apanhar injustamente, já que não haviam cometido nenhum crime, os policiais passaram a agir de forma ainda mais desproporcional e violenta. Um deles teve uma arma apontada contra si enquanto era agredido pelas costas, mesmo deixando claro que estava desarmado e não representava nenhuma ameaça”, explicou a advogada.
Jéssica também relatou que o segundo jovem quase foi asfixiado. “Outros dois policiais militares imobilizaram o mais novo, ajoelhando sobre seu pescoço e impedindo-o de respirar. Foi nesse momento que a população, que registrava a abordagem em vídeo, tentou intervir para evitar que o matassem”, relatou.
As advogadas Jessica Santos Antonia e Enia Julia Carvalho declararam que tomarão medidas legais contra a atuação dos policiais.
“A sensação é de impotência”, diz familiar
Um familiar próximo dos jovens, que preferiu não se identificar, desabafou sobre o caso.
“Ao ver os vídeos, me senti impotente. Uma instituição que deveria proteger e respeitar a população, na verdade, agride e desmoraliza. Felizmente, não houve um desfecho pior, mas está claro que, a qualquer momento, outra abordagem pode acontecer e ser ainda mais grave. Até quando teremos que ver nossos familiares e pessoas próximas passarem por esse tipo de situação apenas pela cor da pele e por morar na periferia? É desesperador”, declarou.
O que diz a Polícia Militar sobre a ação dos policiais na Serra?
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que os policiais foram ao local para atender ocorrência em que um cidadão informava que foi ameaçado por cinco indivíduos fortemente armados que estavam na rua fazendo uso de entorpecentes e ouvindo música em som alto.
“Os policiais abordaram cinco suspeitos no local, sendo que dois deles se recusaram a serem abordados, desobedecendo as ordens dos militares, desacatando-os e resistindo à prisão. Não foi encontrado nada de ilícito com eles”, diz o texto da nota.
Ainda segundo a polícia, os dois jovens foram levados à Delegacia Regional da Serra por terem praticado os crimes de desobediência, desacato e resistência. Foi lavrado Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
A Polícia Militar informou ainda que qualquer cidadão que se sentir prejudicado em uma abordagem da PMES pode procurar a Corregedoria da instituição e realizar a denúncia, munido de provas.