BRUNA FANTTI
Policiais militares do Rio de Janeiro mataram a tiros um catador de recicláveis que carregava um pedaço de madeira que eles confundiram fuzil. O caso ocorreu na Cidade de Deus, zona oeste, na manhã desta quinta-feira (5).
A falha foi admitida em nota pela corporação. “Uma equipe se deslocava pela localidade do Pantanal, uma área historicamente conflagrada, quando se deparou com um homem conduzindo o que aparentava ser um fuzil, pendurado em uma bandoleira. Os policiais efetuaram disparos e o atingiram. O ferido não resistiu.”
A vítima foi identificada como Dierson Ges da Silva, 50, morador da comunidade. A reportagem teve acesso a um relatório feito pelo 18º BPM (Jacarepaguá), unidade que participava da operação, no qual policiais escreveram que se sentiram ameaçados.
“A guarnição deparou-se com um suspeito saindo de um barraco com um simulacro (similar a fuzil) em uma alça (similar a uma bandoleira), em postura similar a uma conduta de patrulha, em direção aos policiais militares. A guarnição sentindo se ameaçada, efetuou DAFs (Disparos de Arma de fogo) contra o suspeito, o qual veio a óbito.”
Os disparos teriam sido feitos pelo GAT (Grupo de Ações Táticas) da unidade. Após o crime, moradores cercaram os agentes e os chamaram de “assassinos”. O clima é tenso no local e o comércio foi fechado.
O caso foi encaminhado para a Delegacia de Homicídios da Capital que realizou perícia no local. Um policial civil ouvido pela reportagem, que não quis se identificar, afirmou que o objeto realmente é parecido com um fuzil, mas a falha policial é agravada pelo fato do suspeito não ter apontado o objeto em direção aos agentes.
A PM afirmou que instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias da morte. Ainda segundo a corporação, a operação conta com o apoio do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do BAC (Batalhão de Ações com Cães).
O objetivo da operação seria a prisão de criminosos que atuam no crime organizado daquela localidade e roubos na região, além de também apreender armas de fogo.
Em 2010, um morador do morro do Andaraí, zona norte do Rio, foi morto pelo Bope quando a furadeira que ele segurava foi confundida com uma arma. No ano anterior, André Luís de Souza foi morto ao ter o guarda-chuva confundido com um fuzil.
Em 2015, os amigos Thiago Guimarães Dingo e Jorge Lucas Martins Paes morreram baleados após outro erro da Polícia Militar: ambos estavam em uma moto e o macaco-hidráulico que um deles segurava foi confundido com uma arma.