Um ginásio que deveria ser palco de atividades esportivas e de lazer para a população virou moradia para pombos. É o que está acontecendo na comunidade do Setor África, em Cidade Continental. A quadra está imunda em razão das fezes das aves e, por isso, ninguém se arrisca mais a usar o espaço por medo de doenças que podem ser transmitidas. Os animais fizeram ninhos em meio às estruturas que sustentam o teto do ginásio.
“Pedimos socorro! Estamos impedidos de usar o ginásio. Já cancelamos vários projetos na quadra por causa da sujeira dos pombos”, relata a presidente da associação de moradores do Setor África, Eliane de Oliveira Sousa.
Atividades como capoeira e zumba, antes realizadas dentro do ginásio, não acontecem mais nesse espaço, e as crianças ficaram sem alternativas de lazer e esporte. “Levamos a capoeira para o centro comunitário, que é muito pequeno. Nossas crianças estão impedidas de usar o ginásio, porque os pombos estão usando no lugar da comunidade”, desabafa a líder comunitária.
Ela diz que limpava o ginásio toda semana, mas parou por medo de contrair alguma doença. Eliane lembra que o problema já dura três anos, mas nada é resolvido. “Pedimos que a Prefeitura da Serra retire os pombos daqui. Na semana passada, inclusive, protocolei um pedido para resolver isso”, ressalta.
Quem também está preocupado com a situação é o morador há 23 anos de Cidade Continental, Jessy da Silva. Em duas décadas no Setor África, ele afirma nunca ter visto uma infestação tão grande de pombos. “De uns três anos para cá, o ginásio passou a ser moradia dessas aves. Estamos passando um sufoco por causa delas. Ninguém pode fazer mais nada no ginásio, porque não adianta ter quadra para os pombos jogarem e as crianças não”, reclama o morador, que também cobra providências do poder público municipal.
Os moradores contam que vários pombos já foram mortos e, para espantar as aves, há os que lançam bombas dentro do ginásio, fato que incomoda quem mora ao lado e não resolve o problema.
Animais transmitem doença que pode matar
Segundo biólogo e professor Diogo Andrade Koski a comunidade do Setor África têm motivos para se preocupar. Ele explica que os pombos transmitem diversas doenças para os humanos, como criptococose, salmonelose e clamidiose. “A criptococose causa problemas respiratórios, como alergias, tosse, febre e até meningite, podendo levar à morte. A salmonelose provoca diarreia, vômitos, febre e dores abdominais. Já a clamidiose pode (ou não) apresentar sintomas respiratórios e/ou vômito e diarreia”, explica o biólogo.
Por isso, ele orienta que as pessoas evitem usar a quadra, já que as fezes são contaminadas. Diogo destaca que o local deve ser limpo e desinfetado com o uso de luvas e máscaras. “Depois disso, fazer barreiras físicas para que os pombos não entrem e se instalem no espaço”, completa. Segundo o especialista, os moradores não devem disponibilizar alimentos, uma vez que isso atrai as aves.
Diogo conta que os pombos são aves exóticas, oriundas da Europa, norte da África e sul da Ásia; logo, não pertencem à fauna brasileira, mas aqui se estabeleceram porque encontraram um ambiente farto de alimentos e abrigos e, também, devido à falta de predadores em áreas urbanas. “E como se reproduzem rapidamente, viraram uma praga urbana. É uma questão de saúde pública”, ressalta o biólogo.
E o TEMPO NOVO levou o problema à Prefeitura da Serra, que informou, por meio de nota, que ‘realiza o desalojamento de pombos mediante o contato da população’. O telefone do serviço é o 3381-3673. Disse, ainda, que a Secretaria de Serviços (Sese) vai enviar uma equipe ao local para realizar a limpeza.