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Por que a Serra tem o melhor salário para médicos e mesmo assim faltam profissionais? Fomos até o prefeito perguntar:

Prefeito concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Tempo Novo. Foto: Divulgação

Mesmo oferecendo os melhores vencimentos (salário + benefícios) do Espírito Santo, a dificuldade de contratação de médicos está no topo das reclamações da população da Serra.

Problema que atinge também diversas cidades brasileiras com grandes áreas periféricas. A maior dificuldade se concentra nas comunidades acima da linha territorial do bairro Parque Residencial Laranjeiras, já que grande parte dos profissionais reside na capital, Vitória, e acaba ficando distante para translado até a regiões como Serra Sede, Jacaraípe e Nova Almeida, por exemplo.

Paradoxalmente, enquanto há tanta dificuldade para que os profissionais se desloquem para a Serra, moradores de Vitória fazem o caminho contrário e acabam congestionando ainda mais a demanda da Serra que por si só já é bem grande.

A reportagem esteve no gabinete do prefeito Sergio Vidigal na tarde da última segunda-feira (16) para entender o panorama da Saúde da Serra. Vidigal revelou dados preocupantes, como, por exemplo: em abril, 22% de todos os atendimentos pediátricos na UPA de Castelândia, foram de crianças que moram na capital (vale lembrar que Vitória, mesmo sendo a cidade mais rica, não conta com nenhuma UPA, apenas P.A’s – Pronto Atendimento).

Vidigal ainda revelou os problemas enfrentados após o fim do Programa Mais Médicos, em 2020, que tirou 120 cubanos da Serra, que atendiam nas unidades de saúde em bairros com alta vulnerabilidade social. Fato que aprofundou o problema e fez com que a Prefeitura abrisse processos seletivos consecutivos que não tem sido ocupado por candidatos.

Isso obrigou a Serra a oferecer uma gratificação extra que pode chegar a R$ 4 mil por mês para os médicos. Medida que de acordo com Vidigal, vai poder atrair mais médicos para a Serra. O prefeito ainda apontou a modernização do sistema de saúde da Serra como um dos pilares para organizar a demanda da população. Confira:

– A queixa de ausência de médicos está entre as maiores que nós recebemos, é um problema que de uma forma ou outra sempre apareceu, visto que o crescimento da Serra é exponencial. Afinal, qual é o panorama da Saúde da Serra?

Uma cidade com 540 mil habitantes, sendo a maioria usuária do SUS, é um desafio para qualquer gestor. Mas com o fim do programa Mais Médicos em 2020 a Serra perdeu 120 médicos cubanos. Começamos em 2021 a abrir processos seletivos, que sempre davam deserto (quando não aparecem candidatos) e naquele momento não tínhamos como criar um atrativo salarial, pois a Lei 173/2020 (Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus) não permitia qualquer reajuste ou gratificação.

– Em 2021 a Prefeitura chegou a anunciar a contratação de uma terceirizada para fornecer mão de obra médica, qual foi o resultado?

Então, a partir daí fomos para a contratação de uma empresa, tivemos muita dificuldade na disputa, pois foi complexo e burocrático. Quando o processo começou a funcionar a quantidade de profissionais ainda não era suficientes para suprir a demanda da Serra. Até porque não estávamos subcontratando médicos e sim horas contadas; na prática, a gente comprava horas dos profissionais. Não é o modelo mais adequado, mas era a única solução em termos de gestão.

– Como assim ‘não é o modelo mais adequado’?

A atenção primaria (Unidades de Saúde) é diferente da urgência e emergência (UPA’s, por exemplo). Na atenção primária o médico precisa ‘ser o seu medico’, ter aquela relação médico-paciente, como um pediatra por exemplo. Nesta modalidade de contratação de horas, os médicos não são os mesmos. Imagina você levar seu filho ao pediatra e quando voltar o médico é outro. Não cria vínculo, não acompanha o desenvolvimento do paciente.

– Uma das reclamações da categoria na Serra era o salário, considerado baixo, desde o início da pandemia a Lei Federal não permitia reajuste, mas em 2022, isso mudou…

Esse ano, a Lei 173/2020 caiu e criamos uma gratificação para os médicos; funciona assim: para quem trabalhar até Laranjeiras teria gratificação de R$ 3.2 mil/mês, e para quem trabalhar de Laranjeiras para cima é de R$ 4 mil/mês, acrescido o salário, óbvio. Para você ter uma idéia: se hoje um médico trabalhar 20 horas/semana, com o salário gratificação e o auxílio de alimentação ele recebe R$ 7.5/mês; caso ele trabalhe 40 horas os vencimentos atingem R$ 15 mil/mês. É o maior do ES.

– E mesmo assim está havendo dificuldade?

Temos muita dificuldade de ocupar essas vagas, em especial para atender a região norte após Laranjeiras, pois a maioria dos médicos mora em Vitória. Depois da gratificação, já conseguimos colocar 50 especialistas, mas não atingimos os 102 médicos necessários para a rede pública, já estamos no quarto processo seletivo…

– Existem outras formas de facilitar isso, para diminuir burocracia? E quais soluções?

Nesse último agora nem estamos exigindo RQE (Registro de Qualificação de Especialista), que é o documento que se mostra o tipo de especialidade do médico na atenção primaria, para ver se facilita. Estamos tentando compensar isso nas UPA’s, mas é muito difícil, por que o paciente prioritário que chega com a pulseira amarela ou vermelha passa na frente e o paciente da pulseira verde não entende isso muito bem e cria um problema grande.

– A Serra é a única cidade a ter três UPA’s e ainda tem uma demanda gigante no sentido de atendimento… 

As nossas UPA’s atendem 240 mil crianças por ano, esse número é muito maior do que a população de crianças da Serra, então isso demonstra que a gente atende crianças também de outros municípios. Na UPA’s de Castelândia, por exemplo, só de crianças vindas de Vitória no mês passado (abril) foi 22% do total de atendimentos. Vitória só tem P.A. (pronto atendimento) e acabam vindo pra Serra.

– Quais as soluções serão tomadas para contornar todas essas dificuldades?

Estamos modernizando o sistema, o exame por imagem já pode ser marcado online. Nos próximos meses vamos fazer o mesmo com os exames laboratoriais. E as marcações de consultas online, já começamos com 5 unidades de saúde, na semana passada incluímos mais algumas. A previsão é que no mais tardar com 45 dias todas as 39 unidades da Serra já estejam em funcionamento com marcações de consulta online. Isso vai permitir mais organização e planejamento, além das gratificações extras que estamos oferecendo (citadas nos parágrafos) vamos conseguir contratar mais médicos.

Yuri Scardini

Morador da Serra, Yuri Scardini é repórter do Tempo Novo. Atualmente, o jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a editoria de política.

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