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Por que as crianças se divertem tanto em repetir um palavrão?

Os palavrões, assim como estas palavrinhas, fazem parte do “mundo mágico das palavras”. Foto: Divulgação EBC / Pixabay

Em algumas famílias os palavrões fazem parte do vocabulário cotidiano, o que não surpreende em nada seu uso pelas crianças. Em outras, eles assustam porque soam como o estrondo de um trovão, uma ameaça à sobrevivência das palavras da boa educação – por favor, com licença, desculpa e obrigado.

Os palavrões, assim como estas palavrinhas, fazem parte do mundo mágico das palavras, o que torna impossível tentar evitar ou impedir qualquer ser humano de pronunciá-los em algum momento da vida.

Por volta dos 2–3 anos, a criança aprende as palavras relacionadas ao controle esfincteriano e repetem-nas com certa frequência. Aos 4 anos, com a percepção das diferenças sexuais, ela tem prazer em repetir palavras ligadas não apenas à excreção, mas também aos genitais. Esta repetição encanta pela sonoridade e pelo mergulho nas novas descobertas. No entanto, o grande fascínio pelas palavras com conotação sexual (ou existe palavrão com outra conotação?!) chega ao ápice na infância entre os 5–6 anos, quando a criança começa a perceber o efeito que elas causam entre amigos, na família e em si própria.

Da mesma maneira que ocorre com os adultos, o palavrão (ou mesmo a gíria) funciona como ingresso a um grupo, como contestação ou provocação, e como forma de comunicação ou manifestação de sentimentos que muitas vezes não encontram outra via de expressão. A diferença entre o palavrão sair da boca de uma criança ou de um adulto é que a criança, inicialmente, ainda não sabe o significado original da palavra. Ao adulto cabe ensinar-lhe o que cada palavra, dita com tanto gosto, significa.

Muitas crianças, ao perceberem a desconexão entre o emprego da palavra e seu significado ficam desapontadas com a falta de sentido; assim, logo ignoram aquele vocabulário. Outras, porém, continuam se “divertindo” em pronunciá-las. Neste caso, é importante reconhecer a serviço de quem ou do quê tais palavras estão sendo utilizadas.

1) O palavrão é apenas experimentação de sons divertidos? Se for momento de brincadeira, por quê não deixar a criança brincar?

2) Falar palavrão é passaporte para o mundo dos grandes, fortes e corajosos? Se for esse o caso, pode-se propor à criança construir uma lista com todos os palavrões que ela conhece. Ao legitimar seu saber, ela fica mais tranquila e, portanto, menos interessada no assunto (ela aprende que os outros já sabem o quanto ela sabe!). Ou então, ajude-a a encontrar outros termos ou a desenvolver outros meios, para além dos palavrões, que a faça se sentir grande, corajosa e forte.

3) O palavrão funciona como descarga de raiva, agressividade? Se assim for, a criança pode se “descarregar”, falar tudo o que tem vontade, desde que ela não esteja com pessoas que não desejam gratuitamente ouvir o que não estão interessadas (uma alternativa é a criança se isolar num canto onde possa ficar temporariamente sozinha falando o que quiser). Aliás, é muito importante que a criança aprenda desde cedo que nem todas as pessoas gostam de ouvir tais palavras, e que isto deve ser respeitado.

4) O palavrão é reforçado em seu ambiente? Ora, não adianta querer que a criança não fale determinadas palavras se os adultos de seu meio as pronunciam com frequência e/ou indiscriminadamente. Para valer para as crianças, tem que valer primeiramente para seus adultos de referência.

5)  Você se surpreende que a criança que está com você, na presença de outra criança, ri ou repete o que ouve do colega: “bunda” “peido”, “cocô mole”, “bosta” e “xoxota”? Se isto incomoda, não é preciso dar uma lição de moral nas crianças; apenas não se acanhe em fazer valer suas regras, nem conclua que a criança que começou a falar palavrão é uma “má companhia”. Às vezes a criança só está brincando ou testando sua permissividade, seu limite.

6) Alguém contou-lhe que na roda de amigos seu filho ou a criança por quem você é responsável adora um palavrão? Ótimo. Entre iguais o palavrão é permitido como forma de experimentação, oposição e identificação. O que não pode é seu uso enquanto ofensa e desrespeito ao outro.

Como qualquer palavra, os palavrões são uma forma de expressão. Portanto, antes de repreender uma criança porque fala palavrão, tente entender o sentido que seu uso tem naquele momento. Quando possível, ajude a criança a encontrar outras palavras, gestos ou ações capazes de expressar o que deseja, pensa e sente, deixando as palavras, às vezes pequenas, mas de força enorme, para os momentos de dor, susto, espanto e, por que não, extrema alegria.

Fonte: Agência Brasil / Ninguém Cresce Sozinho

Gabriel Almeida

Jornalista do Tempo Novo há mais de oito anos, Gabriel Almeida escreve para diversas editorias do jornal. Além disso, assina duas importantes colunas: o Serra Empregos, destinado a divulgação de oportunidades; e o Pronto, Flagrei, que mostra o cotidiano da Serra através das lentes do morador.

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