Se estivéssemos em um universo paralelo do qual a pandemia do novo coronavírus não passasse de uma quimera de meia dúzia dos comerciantes de Wuhan, nós aqui na Serra – distantes 17 mil km, provavelmente já estaríamos na fase de afunilamento da pré-eleição para prefeito e vereadores, etapa que é sempre muito quente e acirrada. Entretanto, a realidade é outra, mais dura, cruel e execrável.
Mesmo que ainda existam os negacionistas (!!), o coronavírus e seus efeitos são fatos consumados na vida em sociedade, haja vista as milhares de pessoas que perderam a vida – das quais 359 moradores da Serra (data: 13/07). O coronavírus chegou como um tsunami e varreu da agenda de debates públicos praticamente todos os demais assuntos, criando um monopólio. Não podia ser diferente, de uma forma ou de outra, afetou a vida da maioria esmagadora da sociedade.
Entre os assuntos engolidos pela Covid, está a eleição, que inclusive teve datas prorrogadas para 15 e 29 de novembro (1º e 2º turno, respectivamente). Pelo que se sente na Serra, a partir de conversas com pré-candidatos e partidos políticos, há uma espécie de constrangimento ao falar sobre eleições nesse momento de pandemia, como se fosse algo extemporâneo a realidade. Por isso, apesar de movimentações expressivas nos bastidores, publicamente, estabeleceu-se uma resposta padrão entre pré-candidatos: “não pensamos em eleição e estamos focados no enfrentamento a pandemia”.
O que é sem dúvida uma meia verdade, pois os pré-candidatos estão sim pensando em eleição, e a própria resposta evasiva para não ficar mal com parte do eleitorado, já é sinal disso. Mas, é errado falar sobre eleição em meio à pandemia? A resposta é um sonoro não, afinal, uma das coisas que a pandemia tem ensinado é a importância de termos líderes capazes de enfrentar problemas e dar respostas à sociedade em momentos de fratura social, e a ferramenta civilizante que existe para a escolha dessas pessoas, é exatamente a eleição.
Ou seja, a resposta está na própria pergunta: não só podemos, bem como devemos sim falar de eleição, e o coronavírus é a prova objetiva. Mitigar os impactos durante a pandemia já é uma tarefa aguda e notável, que aqui na Serra está nas mãos do atual prefeito, Audifax Barcelos (Rede) e os 23 vereadores, que respondem pelo Poder Legislativo. Entretanto, o pós-pandemia será o desafio do século para os futuros líderes políticos do município.
E como será a Serra do pós-pandemia? Com certeza será uma cidade sequelada pelo vírus, assim como as demais, seja na queda da arrecadação pública devido à baixa na atividade econômica, que podem afetar os serviços prestados e os investimentos públicos; seja no aumento do desemprego; há previsão de ondas de outras doenças, em decorrência da demanda atualmente represada devido a Covid-19.
E o que falar da retomada das aulas para os 67 mil alunos da rede municipal, como a Prefeitura vai ‘tirar o atraso’ dos estudantes que vão competir nos processos seletivos com alunos da rede privada que continuam tendo aulas a distância?… sem falar no empobrecimento da população, aumento da fome e miséria. Como a maior cidade do ES vai dar conta da demanda social das famílias que perderam renda? São todas perguntas que os próximos líderes políticos vão ter que responder.
Na prática não se sabe como será o mundo após o coronavírus, mas certamente, estará diferente. A nossa vida vai mudar e alguém que pretende manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou a nova realidade.
E este processo para o novo mundo será guiado pelos futuros líderes. Na Serra, Audifax não poderá mais se reeleger, por isso, a única certeza que se tem, é que será outro prefeito, talvez novo, talvez não. Cravar favorito, ainda é impossível, mas a eleição é a porta de entrada e falar sobre ela, pelo menos nesse século, nunca foi tão importante como agora. Por isso, viva o processo democrático de escolha dos líderes da sociedade, chamada eleição, será a ferramenta civilizatória para o novo mundo ser um lugar melhor.