O tamanho da carga tributária do Brasil atualmente, incluindo aí a seguridade social, está em 33,4%, dados de março de 2016, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Pelo andar da carruagem, se houve alguma mudança nesse índice foi para cima.
Esse índice é bem superior ao Quinto, nome do imposto português, que cobrava 1/5 de todo o minério extraído na Colônia Portuguesa (Brasil), praticamente a única atividade econômica da época. Segundo relatos históricos, na Capitania de Minas Gerais, em 1789, a Coroa Portuguesa resolveu aplicar o mecanismo da ‘Derrama’, que permitia o governador da época efetuar a cobrança forçada do imposto, que de 1762 a 1789 acumulara uma dívida de 768 arrobas de ouro, que equivale a 11.520 quilos (cada arroba pesa 15 quilos).
Há 250 anos atrás, o Brasil já tinha uma carga tributária de 20% e só a Capitania de Minas Gerais tinha uma dívida externa (com a Coroa Portuguesa) de 11.520 quilos de ouro. A cotação do ouro na bolsa de valores está em R$ 125,50 o grama. Já naquela época o Brasil devia um caminhão de ouro ao Reino de Portugal e transformando na cotação atual, o tamanho da dívida se equipara perto da corrupção e da roubalheira que a Lava jato está apurando.
Amanhã, sexta-feira, é feriado nacional dedicado ao mártir Joaquim José da Silva Xavier, o ‘Tiradentes’, que morreu enforcado em 21 de abril de 1792, na antiga Vila de São José do Rio das Mortes, que hoje leva o nome de Tiradentes. Ele teve seu corpo esquartejado e preso a postes, exposto ao público para desencorajar outros inconfidentes a se insurgirem contra a dominação portuguesa sobre o Brasil e sua avidez na cobrança de impostos.
Resumindo a ópera, o Reino de Portugal encontrava-se em dificuldades financeiras e a Colônia no Brasil era a sua esperança de salvação.
Fazendo uma sobreposição desse passado nos dias atuais, só mudou o ‘modus operandi’, mas a ânsia do governo por arrecadar só aumentou, graças à volúpia do poder. Com as devidas exceções, no Brasil, ocupar cargos nos poderes não é sinônimo de responsabilidade, de obrigatoriedade não; é sinônimo de autoridade, de autoritarismo, de abuso de poder. Em muitos casos de formação de quadrilha, de improbidade e de muitos outros crimes.
Despudor do poder
O Judiciário, com uma independência maior, mas mesmo assim repleto de exemplos de relações promíscuas entre membros de seus quadros com membros dos outros poderes, se destaca. Entretanto, os poderes executivo e legislativo tornaram-se irmãos siameses, vivem colados um ao outro; em muitos casos não se sabe quando termina um e começa o outro; estabelecendo uma relação incestuosa nefasta para a nação, para estados e para municípios.
Via de regra, o governo brasileiro tem sido ruim para com o seu povo, principalmente nessas duas últimas décadas, quando os ditos avanços sociais foram usados para cobrir uma teia complexa e sofisticada de corrupção, desmascaradas a partir da instituição da operação Lava Jato.
No Brasil Colônia a luta era de um povo contra uma nação dominante e imperialista que era Portugal. Teve um mártir, que foi Tiradentes, que liderou um movimento insurgente, abafado pela Corte, mas que não extirpou de vez os ideários da independência.
No Brasil de hoje a luta não é de um povo contra outro povo; nem de uma nação contra outra nação; mas sim de um povo contra o seu governo, contra seus representantes, a quem lhes foram confiados os votos para representá-los nas devidas esferas de poder.
No Brasil de hoje não há mais espaço para um mártir, porque nos tornamos inteiramente um povo mártir frente a tantos desmandos e corrupção.