Bruno Lyra
Fabrício Ribeiro
Os últimos anos tem mostrado Cariacica mais dinâmica e atrativa para empresas e negócios, apesar da sua arrecadação modesta. Nessa entrevista, o prefeito Geraldo Luzia de Oliveira Junior (PPS), o Juninho, no seu segundo mandato consecutivo, diz que Cariacica vai se consolidar em logística e tecnologia e que vai abrigar uma zona franca. Defende um redesenho da mobilidade metropolitana da Grande Vitória – ES e que o aeroporto de cargas fique na Serra.
Cariacica vem atraindo novos empreendimentos e negócios. Isso num momento de crise.
Qual sua avaliação?
Cariacica teve uma história política difícil, mas isso mudou. O Ex-prefeito Helder (Salomão, PT, atual deputado federal) conseguiu mudanças e eu quando assumi, valorizei essas conquistas e trabalho muito para avançar. O que estamos fazendo é priorizar, organizar, planejar e, claro, muito envolvimento com a cidade.
O município tem cerca de 10 km de litoral na Baia de Vitória, mas pontes praticamente impedem o acesso de embarcações. É possível o aproveitamento portuário dessa orla?
Sim. Licenciamos uma área em Porto Novo para mais uma pedreira na cidade, onde queremos trazer um porto de barcaças, que são baixas e poderão passar por baixo da 2ª ponte e interligar aos portos de Vitória e Vila Velha, de onde vão poder escoar e receber mercadorias. Esse modelo é usado em Amsterdã, Holanda com sucesso.
Quais cargas seriam operadas neste porto?
De contêineres a veículos, produtos a granel, rochas. Com isso eu tiro o fluxo de veículos pesados das regiões de Campo Grande, Jardim América e 1ª e 2ª pontes.
Um porto em Cariacica então pode melhorar a mobilidade na Grande Vitória?
Sim. E uma outra iniciativa seria uma pista elevada de 3km entre Porto Novo até a rodovia do Contorno passando por trás das EADI’s (Estações Aduaneiras de Interior). Defendo tornar Cariacica, que é a única cidade da Grande Vitória que se comunica com as demais, ser o ponto de distribuição desse tipo de segmento levando em consideração o futuro porto no sul do estado.
O senhor está dizendo que mesmo a Serra sendo a capital logística do ES, Cariacica tem uma vocação mais precisa para isso?
Cariacica tem uma localização mais precisa. Tem muitas empresas de logística da Serra vindo para cá.
Qual é a atual planta logística de Cariacica e qual a perspectiva de crescimento?
Temos três Eadis (Estações Aduaneiras de Interior) que tem o privilégio legal disso: Terca, Silotec e Tegma. Também na região da rodovia do Contorno vamos receber uma Zona Franca similar a de Manaus. Assim, criaríamos toda uma convergência logística que dificilmente outra cidade no Brasil teria: BR´s 262 e 101, Contorno de Aroaba ( estrada quase pronta ligando a ES 080 ao Contorno de Vitória), linha férrea e o acesso ao mar pelo rio Santa Maria e por essa via futura que ligará a Porto Novo, além das Eadis.
E a demanda estadual por um aeroporto de cargas?
Para Cariacica é inviável em função do aterro sanitário da Marca Ambiental no raio de um quilômetro da área pretendida. Acho que ele deve ficar na Serra. Vila Velha tem um problema: ou você chega por terra pelo sul ou o restante é ponte, inclusive para Cariacica. A Serra consegue se comunicar com Vitória e Cariacica muito mais fácil. Sem contar que já existe um estudo antigo para o aeroporto na Serra.
E a sonhada quarta ponte?
Precisamos sim. Mas não pode sair de Porto de Santana para cair em Santo Antônio, como queria o Governo do Estado. Saio de um aglomerado menor para um maior. E de todas as formas terei que passar por dentro de aglomerados. Defendo que saia da região do Contorno, na altura da Terca, passando pelo Canal dos Escravos e saindo lá na Ufes, na região de Jardim da Penha.
Mas e o gargalo das divisas Cariacica, Vitória e Vila Velha?
Quem quer ir para a Ilha do Príncipe ou Centro de Vitória, vai pela 2ª ponte, que poderá ser descongestionada pelo sistema de barcaças e pela via elevada exclusiva para cargas entre Porto de Santana e a região da Terca. A iniciativa privada já sinalizou interesse nisso. Essa estrada por sua vez se conectaria à futura 4ª Ponte na região do Contorno. É uma visão estratégica de longo prazo que já conversei com o Governo do ES.
Mas nesse caso, a mobilidade em Vitória seria um problema…
Um projeto está sendo contratado pela Associação de Empresários de Cariacica (AEC) com essa visão diferente do projeto original da 4ª ponte. A ideia é aproveitar o alargamento das faixas na Vila Rubim (na área onde prédios foram demolidos) e ter uma via exclusiva para a Cinco Pontes. Elevado e túnel completariam esse redesenho.
Prefeito, a rodovia Leste Oeste está com obras em andamento. Como ela vai dinamizar a economia de Cariacica?
É um canal viário para o porto de Vila Velha que está quase pronto. Por conta dessa via, a gente está trabalhando um novo polo industrial que será anunciado em breve que ficará entre Cariacica e Viana, na região de Padre Gabriel, pegando a futura rodovia 447, que vai ligar a Leste – Oeste à BR 262 na altura da Real Café, em Viana.
Quantos polos industriais já existem na cidade?
Dois polos. Um deles, o da Codep, fica na Rodovia do Contorno e é misto. Tem logística também. Lá tem Transilva, Arezzo e Aladim. O outro polo é o VTO, às margens da Leste – Oeste, na região de Bela Vista. Nós temos também dois micropolos: um na foz do rio Bubu e outro nos bairros Santo Antônio/Campo Verde na região da Rodovia do Contorno.
Que tipo de empreendimentos há nesses micropolos?
Moveleira, cozinha industrial, lavanderias. E temos ainda o micropolo de Jardim América que existe naturalmente próximo ao Engenheiro Araripe, mas ainda precisa ser formatado. Temos plano para ter outro elevado ali, saindo de Vila Velha e chegando da avenida do estádio Engenheiro Araripe. Já a alça que hoje sai da 2ª ponte e desce para Jardim América será só mão subindo.
Você falou sobre a instalação de uma Zona Franca de Cariacica. Como será?
Será com o mesmo modelo da Zona Franca de Manaus, que é por licitação. Empresas de Cariacica disputaram a zona franca daqui e duas ficaram no final e estão em litígio judicial para ver quem leva. Isso vai se resolver e a Zona Franca daqui ficará entre a Terca e a Silotec, na rodovia do Contorno.
Essa Zona Franca vai receber que tipo de empreendimento?
Temos de tudo. Desde equipamentos eletrônicos a produtos que serão nacionalizados, com regime fiscal diferenciado. O que não se cobra na Zona Franca de Manaus, não se cobrará aqui. Poe exemplo, não se cobrará ISS enquanto o produto não for nacionalizado. Quero criar ambiência para empresas para que montem equipamentos dos mais diversos aqui.
Cariacica também vem vai apostar em tecnologia e conectividade?
Estamos instalando cabos de fibra ótica por toda a cidade para interligar todos os prédios públicos, unidades de saúde, escolas. No futuro esse recurso também vai beneficiar a população com acesso e wifi através da empresa responsável. Nós conseguimos uma licitação que quebrou a hegemonia da Oi. Agora temos cabos duas vezes mais potentes e 50% mais baratos. Com isso vai dar para gerir saúde, educação e assistência social de forma integrada e em tempo real.
E na área de tecnologia da informação?
Vamos ter um centro tecnológico. É o Cepid, que vem sendo instalado pelo Estado. A proposta é trazer o mundo acadêmico e a previsão é que fique pronta até o fim do ano. A iniciativa privada está mobilizada, assim como a Findes. Vamos levar as empresas privadas para que possam trabalhar com o acadêmico, abrigando start ups e incubadoras.