A Prefeitura da Serra anunciou, na tarde desta terça-feira (12), que vai abrir as escolas da cidade durante o recesso de julho com o intuito de ofertar alimentação aos alunos da rede durante o período de recesso. A medida, que visa o combate à fome em meio ao aumento da vulnerabilidade social, não agradou aos professores e demais profissionais da Educação, que afirmam que perderão suas férias por conta da ação.
Em conversa com o Jornal TEMPO NOVO, os profissionais – que pediram para não ser identificados por receio de represálias – afirmaram que não terão direito às férias de julho por conta da distribuição de merenda. Citam ainda suposto “desvio de função” por parte da Secretaria Municipal de Educação, que segundo a categoria, pediu a ajuda dos professores e demais cargos, na organização da ação social.
Uma professora da rede afirmou à reportagem que todos os professores contratados estão revoltados com a situação. “Os professores deverão fazer o papel de Assistência Social e não são formados para isso. Somos uma classe pouco valorizada e ainda sem direitos, trabalhamos muito, mesmo em frente à Covid”, afirmou.
Já outra docente disse que suas férias serão cortadas por conta da medida. “Eu não tenho direito ao recesso? Nós queremos descansar. Os DTs (Contratado em Designação Temporária) terão que ficar nas escolas durante todo este período. Por que só a gente? Inventam moda e sobra para a gente”, afirmou.
Apesar das afirmações, um documento enviado pela Sedu às escolas, ao qual a reportagem teve acesso, não cita explicitamente um pedido que os professores atuem na distribuição de merenda. O texto justifica a manutenção da alimentação dos alunos nas unidades de ensino com a atual situação sofrida pelo brasileiro, que vem enfrentando um aumento da vulnerabilidade social e maior número de famílias que estão sofrendo com a fome.
“O objetivo é garantir a segurança alimentar, a assistência ao estado nutricional dessas crianças/estudantes, manter os hábitos alimentares desenvolvidos no ambiente escolar e contribuir para o desenvolvimento educacional”, diz o texto do documento.
Prefeitura diz que profissionais da Educação serão “apoio”
Por meio de nota, a secretaria de Educação informou que a alimentação será produzida e servida nos moldes da rotina habitual, ou seja pelos profissionais contratados, merendeiras e nutricionistas, com o apoio dos profissionais habitualmente presentes na escola neste período: Coordenador, pedagogo, auxiliar de creche, cuidadores, auxiliar de secretaria escolar e os demais que se sentirem no desejo de cooperar.
Merenda é alimentação principal de 80% dos estudantes da Serra
Um dado preocupante mostra que para 80% dos 72 mil alunos matriculados na Rede de Ensino da Serra, a merenda escolar é a alimentação principal. Isso não significa, na prática, que o estudante não consuma outros tipos de alimentos na sua residência, mas que a alimentação reforçada e com nutrientes principais para o funcionamento do corpo humano de forma saudável acontece nas escolas.
Como funcionará a alimentação durante recesso?
Conforme informado pelo Jornal TEMPO NOVO, a ação vai acontecer durante as férias que começam no dia 18 e vão até o dia 22 de julho. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Sedu), as famílias deverão expressar o interesse por meio do formulário cedido pelas escolas para que não haja desperdício dos alimentos durante o período de oferta, uma vez que a ação é optativa.
Será oferecido uma refeição por turno, sendo eles o matutino, vespertino e o noturno onde acontece o EJA, devidamente instruída pela equipe de nutrição, que segundo a prefeitura, planejou um cardápio rico em nutrientes necessários para os alunos.
Cada aluno terá o acesso à alimentação em sua respectiva unidade de ensino ou a mais próxima, o que será previamente acordado em comunidade escolar.
Em reunião realizada com diretores e profissionais das unidades de ensino foi determinado que as orientações vão ser passadas para as famílias até sexta-feira (15). Isso porque cada escola vai decidir internamente sua metodologia como horários e logísticas de transporte devido às particularidades de cada unidade.
Fabiana Negreli, secretária de Educação da Serra, ressaltou a importância da ação no momento em que o país lida com uma situação delicada e agradeceu aos profissionais da rede pelo apoio.
“A intenção desta ação é contribuir com a redução da insegurança alimentar em que se encontra uma parcela grande de nossa população mantendo a oferta de uma porção diária equilibrada, com nutrientes adequados ao desenvolvimento físico e cognitivo das crianças e estudantes de nossa rede, o que sem dúvida, em acordo com estudos já publicados, contribui para o processo de aprendizagem. Agradeço de forma especial também à equipe da Sedu que está engajada e comprometida com essa ação”.
Sindicato diz que professores terão férias
Por meio de nota, o Sindiupes – que representa os professores – afirmou que os contratados em designação temporária também terão direito ao recesso de julho. O posicionamento foi concedido após a publicação desta matéria. Veja nota na íntegra:
“O Sindiupes esteve reunido na tarde desta terça feira, 12, para conversar sobre a notícia que está circulando de que os DT’s não poderão gozar dos dias do recesso de julho.
Argumentamos que para além da letra fria da lei, existe uma prática no município de Serra de reconhecer este direito também a estes trabalhadores.
Alertamos para os transtornos que tal decisão trará a várias e vários colegas, bem como sobre o desgaste desnecessário, principalmente com tal decisão sendo tomada tão próxima do período em debate. Esperamos que nossa argumentação leve a administração a reflexão e que seja sensível a situação já tão desgastante da categoria.”
