Desde o desmonte de São José do Queimado, a economia da metade oeste da Serra entrou em declínio. Para remediar essa situação, há cerca de 100 anos, o município inverteu seu eixo de desenvolvimento, direcionando-se para o leste, em direção ao litoral. Posteriormente, os investimentos mais significativos foram concentrados no distrito de Carapina, com a implantação do Complexo de Tubarão. A faixa oeste permaneceu limitada a atividades de agricultura e pecuária, que atualmente representam menos de 1% da composição do Produto Interno Bruto (PIB) da Serra.
Porém, isso pode mudar nos próximos anos com o Contorno do Mestre Álvaro, que, após mais de um século, fez com que a cidade voltasse a enxergar sua faixa oeste como um espaço com potencial para abrigar novos negócios e ressignificar economicamente esse território. E é nesse sentido que estão em curso tratativas que podem acelerar significativamente esse processo. Na semana passada, o site Brazil Journal noticiou que a Serra estaria “prestes a abrigar o maior condomínio de galpões logísticos do Brasil”. O empreendimento teria cerca de 620 mil m² de área bruta locável, caracterizando-se como um projeto de grande porte.
A Private Construtora, através de sua vertical de logística, Private Log, está à frente do condomínio de galpões, com um investimento impressionante de R$ 2 bilhões. Trata-se de uma empresa capixaba, fundada pelo empresário Mateus Vitória Oliveira, com cerca de 10 anos de atuação no mercado e foco no setor de logística. A obra está prevista para começar em julho, com duração estimada de quatro anos. Além do complexo de galpões, o projeto incluirá um prédio comercial, posto de gasolina, heliponto, outlet e restaurantes.
A coluna apurou informações junto a pessoas estratégicas da Prefeitura da Serra, e o entendimento é de que o projeto é realmente robusto e com expectativas positivas. A área que pode abrigar o empreendimento é um terreno de 1,5 milhão de m², que foi negociado por aproximadamente R$ 378 milhões e pertence a uma família tradicional da Serra. Caso o projeto se concretize, trata-se de um empreendimento que consolidará o Contorno do Mestre Álvaro como um dos maiores corredores logísticos do Brasil. A região já vem atraindo outros investimentos, como o do grupo italiano Geon, que atua nos setores de indústria química, distribuição, construção e agro, e está investindo R$ 30 milhões na construção de uma operação no Contorno do Mestre Álvaro.
Entretanto, esse projeto da Private Construtora, pode se tornar, definitivamente, um divisor de águas para acelerar a reocupação econômica da faixa oeste da Serra, marcando um novo ciclo de desenvolvimento para além da já consolidada porção leste. A vocação logística da Serra é amplamente reconhecida. Em 2008, por exemplo, o setor de serviços superou a indústria na composição do PIB municipal, impulsionado exatamente pelas atividades logísticas. Essa tendência deve se manter como a principal geradora de negócios nos próximos anos, tanto no Contorno do Mestre Álvaro quanto no Contorno de Jacaraípe, que deverá se conectar ao fenômeno econômico centralizado em Aracruz.
A “nova Serra” é representada pela Serra oeste, que deverá transformar áreas atualmente utilizadas para pastagem e agricultura (até então) de baixo valor imobiliário, empurrando-as em direção ao rio Santa Maria da Vitória. Esse movimento expande o território urbano da cidade, um processo natural considerando que 60% da área da Serra ainda é rural, em um contexto onde as atividades agropecuárias têm baixa relevância econômica.
Por enquanto, na esfera do poder público, não foi formalizado nenhum processo burocrático para consolidar o que está sendo considerado o maior condomínio logístico do Brasil, já que as negociações ainda estão restritas ao âmbito comprador/vendedor da área. No entanto, o município parece acompanhar o projeto com entusiasmo, enxergando-o como uma oportunidade para elevar o patamar da Serra na economia logística e antecipar, em décadas, a consolidação do Contorno do Mestre Álvaro como o corredor logístico mais importante do Espírito Santo.
