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“Quanto mais drenarem a região, maiores os riscos de incêndio nas turfas”

O coronel Fabiano disse que o Espírito Santo terá que conviver e se preparar para enfrentar os problemas com as turfas por causa do aumento das secas. Foto: Bruno Lyra

Por Bruno Lyra

Desde o final de janeiro um incêndio de grandes proporções consome as turfas ao redor do Mestre Álvaro. Além dos danos ambientais, a fumaça e os gases gerados viraram um grave problema de saúde pública. O Coronel Bonno, que assumiu recentemente o comando da operação de combate, detalha a situação e estratégias para tentar acabar com o incêndio. A entrevista foi concedida na manhã da última quarta (22) na área do TIMS, ponto onde o incêndio é mais intenso.

Como está a situação no momento?

Conseguimos cercar a frente do fogo e impedir que aumente a área a ser queimada.  Desde o início do fogo, pouco mais de um milhão de metros quadrados já foram atingidos. O nosso objetivo é conter o avanço do fogo. Conseguimos fazer isso com a abertura de trincheiras, inundando-as com água do Canal dos Escravos. A trincheira tem 1 metro de largura, com 2 metros de profundidade, pois tiramos todo o material orgânico para chegar ao solo.

Além disso, o que mais está sendo feito?

Nossa estratégia hoje para o combate desse fogo é ir fatiando a área queimada em lotes, dando prioridade à extinção daquela parte. Passamos a fatiar outra área e fazer o combate ali, sempre em direção ao fogo, até conseguir eliminar completamente.

Quantos estão trabalhando, entre homens do Corpo de Bombeiros e outras instituições? 

Oitenta bombeiros trabalham diariamente, mais vinte civis da Prefeitura da Serra, entre operadores de carros pipa, de máquina, efetivo da Defesa Civil Municipal também, auxiliando no apoio de logística. Há previsão de o número aumentar porque outros órgãos estão se mobilizando. A partir de hoje (quarta, 22), teremos o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), que vai oferecer uma máquina; a Prefeitura de Vitória com cinco carros pipa. A Vale com Bombeiros Civis e a ArcelorMittal com três carros pipa.

E a situação dos focos na região de José de Anchieta, que está afetando demais a população?

Como foi o início do foco e agora é o final estamos trabalhando lá com uma guarnição do Corpo de Bombeiros, um carro pipa, fazendo o monitoramento daquela área. Vamos encontrar a frente de lá com a do TIMS. Quando isso acontecer o fogo acaba.

Como fica a saúde dos homens do Corpo de Bombeiros, já que a fumaça é tóxica?

Além do nosso equipamento de proteção individual, procuramos fazer um rodízio dessas equipes na frente de combate, para proteger a saúde do militar. Trabalha uma hora e descansa outra. Além do trabalho físico, tem esse problema respiratório.

Na semana passada foi discutida a possibilidade de represar o Canal dos Escravos para a água inundar as baixadas…

Não é possível. Além do volume de água pequeno, teríamos que contar com o relevo. Teria que fazer uma descaída para a área que está incendiando.

E fazer poços artesianos para puxar água do lençol freático?

Tentamos esta possibilidade no dia 21 de abril, quando pedimos ao operador para usar a escavadeira para aprofundar no solo ao máximo que o braço da máquina alcançava. Mas a água não brotou.

Mas se usar um equipamento adequado para profundidades maiores?

Essa possibilidade tem a dificuldade de levar o apoio logístico para o meio da turfa, porque só chega lá trator esteira. E se estiver muito alagada teria que usar o recurso de andar sobre toras.

Considerando toda a estrutura disponível e se não chover, em quanto tempo esse incêndio pode ser extinto?

Com o apoio que está previsto para hoje, do poder público e de municípios vizinhos, nossa demanda está sendo bem atendida pela prefeitura da Serra, com as condições oferecidas pelo prefeito. A iniciativa privada também está colaborando. A previsão é de acabar com o incêndio e encerrar as operações em um mês.

Acha que deveria haver um plano de vigilância para acompanhar esta região?

Historicamente, aqui era uma área que alagava. Então não tinha problema de incêndio.  Para conter o alagamento em época de chuvas, fizeram uma drenagem nesta área, nos canais. Só que a drenagem amenizou o problema de inundação, mas em época de seca traz esse problema, pois o solo que fica de área alagada é bem orgânico, seca e vira este fogo que vemos hoje.

O sistema de drenagem e a seca contribuíram para a dimensão desse incêndio?

Sim, é como um cobertor curto: tapa os pés e destapa a cabeça. Resolveram o problema da inundação, que foi uma vitória. Mas a estiagem traz a complicação de secar mais rapidamente o solo. Quanto mais drenarem a região, maiores serão os riscos de incêndios.  A ocupação da região precisa ser melhor avaliada. É preciso ser estudada uma solução, pois esta novidade de problema com turfas já está latente no nosso Estado. Uma coisa que não existia, mas com o que agora temos que nos preocupar.

Há possibilidade de o incêndio ser criminoso?

São pequenos focos que vimos, nas áreas próximas às comunidades. Pela experiência que temos, são focos colocados, mas não dá pra saber se é alguém querendo colocar fogo ou se é a comunidade, com aquela cultura de queimar lixo.

O Corpo de Bombeiros disse que foi recolhida uma substância oleosa na região. Já tem resultado disso?

Esse material foi recolhido pela equipe de peritos e tem um prazo para ser analisado, creio que é de 30 dias. Findado esse prazo saberemos se o material era combustível.

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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