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Quarenta dias de reflexões e penitência para os cristãos

LIDERANÇAS RELIGIOSAS. Padre Carlos Magno, Pastor Ernóbio Velten, Sacerdotisa Márcia Demoner e o Kardecista Raphael Vivacqua

Por Anderson Soares / Bruno Lyra / Thiago Albuquerque 

A Quarta-feira de Cinzas, primeiro dia após o Carnaval, marca o início da Quaresma. É época de grande simbolismo para boa parte do mundo Cristão. Mesmo com as mudanças de hábito provocadas pela vida contemporânea, muitas pessoas guardam as tradições e seguem ritos do período.

Tradições que ganharam contornos diferenciados nas diversas vertentes do Cristianismo. Conheça um pouco dessas variantes nessas entrevistas feitas com religiosos de quatro denominações diferentes.

Foram ouvidos o padre Carlos Magno do Nascimento Machado, Pároco da Igreja Nossa Senhora da Penha, em Jardim Limoeiro, o pastor Ernobio Velten, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a sacerdotisa Márcia Demoner, zeladora da Casa de Candomblé em Vista da Serra eRaphael Vivacqua, vice-presidente de Orientação Mediúnica da Comunidade Espírita Kardecista Esperança.

O que é a Quaresma?

Padre – No princípio era uma prática preparatória para a Páscoa do Senhor, que incluía o jejum afirmado no séc.II. A partir do fim do séc.IV, a Quaresma passa a ser a dos quarenta dias, período do povo no deserto, ou seja, os quarenta anos, quarenta dias do profeta Elias no deserto e os quarenta dias da tentação de Jesus Cristo no deserto. Na prática quaresmal desenvolveu-se a disciplina penitencial para a reconciliação dos pecadores, que ocorria na manhã da Quinta-feira Santa e a preparação ao batismo, celebrado na noite de Páscoa.

Pastor – É um período, dentro do que chamamos de ano eclesiástico, de 40 dias, sem contar os domingos, que tem início na Quarta-feira de Cinzas se estendendo até o início da Semana Santa. Tem como referência principal os quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de iniciar sua missão de propagação do Evangelho.

Sacerdotisa – Embora haja o sincretismo com a Igreja Católica, para nós do Candomblé o período não tem significação especial e nem entra em nossos cultos. Mas respeitamos. Hoje, com a emancipação de nossa religião, não precisamos mais esconder nossa posição.

Espírita – É um rito celebrado por algumas igrejas cristãs, no período de quarenta dias de preparação para a festa de Páscoa, a qual celebra a ressurreição de Cristo. Durante essa preparação, os fiéis são orientados a realizar jejum, abstinência de carne, caridade e oração.

 Conforme a doutrina, como devem ser as práticas?

 Padre – É um tempo de conversão. O católico é chamado a fazer uma profunda análise da própria vida, do testemunho, da prática de fé.  A Igreja orienta seguirmos os exercícios quaresmais para assimilarmos a espiritualidade do período: o jejum, a oração e a esmola. Essa prática não deve ser vivida sem um sentido que cada pessoa deve dar buscar na própria vida.

Pastor – É tempo que cada pessoa luterana é convidada a silenciar um pouco mais para ouvir sua própria voz e, principalmente, a voz de Deus. Tendo Cristo como exemplo, somos chamados a pensar também em nossas atitudes, como cidadãos e cidadãs, reconhecer nossos pecados e procurar nos deixar transformar pelos valores cristãos.

Sacerdotisa – Como não seguimos, não há mudanças em nossas práticas. Desconheço se algum candomblecista ou mesmo umbandista segue os ritos da Quaresma. Mas se isto acontece não há problema temos por princípio a não discriminação de cor, gênero, raça ou credo.

 Espírita – A Doutrina Espírita não estabelece rituais, nem sacramentos, nem celebrações especiais. A prática do jejum não faz parte das orientações espíritas; apenas o zelo com a saúde, que inclui a moderação dos hábitos. A prática da caridade e da oração é orientação de conduta permanente para o bom espírita, independentemente de ritos ou períodos festivos.

 Como é a experiência popular e de que maneira isto prepara o Cristão para a Páscoa?

 Padre – Estamos vendo o surgimento de uma sociedade que relativiza e descarta os valores cristãos. Mas vemos também cristãos mais conscientes tenazmente buscando contribuir com Reino de Deus. Não se vê o raiar do dia sem passar pela escuridão da noite, e a Quaresma é um período de escuridão no qual nos mantém em vigília para celebrarmos os primeiros raios de sol que é a Páscoa do Senhor, a festa da Ressurreição.

Pastor – Um bom número de pessoas ainda busca uma postura diferenciada durante essa época, mas esse número tem diminuído. Quaresma quer aprofundar a reflexão sobre o amor de Deus por nós, que foi até as últimas consequências, e nos motivar para agirmos em amor para com nosso semelhante, assim como Cristo fez e continua fazendo por todos e todas nós.

Sacerdotisa – Pregamos sempre a Paz e o respeito mútuo em qualquer época do ano.

Espírita – Cada um exercita as orientações conforme o seu grau de fervor religioso e força interior.  Não se faz celebração da Páscoa. Mas qualquer pessoa bem intencionada, que intensifique a prática da caridade, da oração e da moderação dos seus hábitos durante este período, certamente se beneficiará dessa experiência.

 Um dos mandamentos de Jesus é amar ao próximo como a si próprio. Como é a vivência dessa fé numa cidade tão violenta como a Serra?

 Padre – A fé cristã é um modo de relacionamento com Deus que se expressa na transcendência do pensamento, mas que se aplica na realidade.

Quem faz da fé uma teoria ou simplesmente a resume a práticas litúrgicas não está vivendo a totalidade da fé.

Pastor – Cada pessoa pode contribuir com pequenos gestos, evitando atitudes violentas dentro da própria casa, no trânsito, não jogar lixo nas ruas.  O mandamento do amor extrapola as religiões e crenças. Precisamos olhar mais para os gestos de Jesus. Se aprendermos isso, já conseguiremos um grande passo.

Sacerdotisa – Passamos valores de amor ao próximo, como tolerância e respeito. Mas assim como as outras religiões não conseguimos deter a violência. Também procuramos fazer trabalhos sociais para ajudar ao próximo.

Espírita – Quanto mais houver medo, desamor e violência, mais difícil será a provação do indivíduo na prática dos ideais cristãos. Jesus ensinava que não basta amar em retribuição àqueles que nos amam; o verdadeiro cristão deve amar os inimigos.

Veja os costumes e casos de assombração na Quaresma. 

Mari Nascimento

Mari Nascimento é repórter do Tempo Novo há 18 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal, principalmente para a de Política.

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