Jeremias Reis saiu de Central Carapina e conquistou todo o Brasil com seu carisma e voz encantadora ao vencer o programa The Voice Kids 2019. Mas por trás de todo o sucesso do menino cantor, existe um trabalho coletivo coordenado pela Rede de Atendimento Integrado à Criança e ao Adolescente (Aica), que existe há mais de 20 anos na Serra.
Além de ofertar serviços de acolhimento institucional, qualificação profissional e medidas socioeducativas, a instituição dá cada vez mais ênfase às atividades culturais nos oito projetos da Rede que funcionam na cidade, como o Projeto Legal, em Central Carapina. A coordenadora geral da Rede Aica, Dilma Ramos, conta que ali se iniciou a experiência com a música. “Temos atividades lúdicas, artesanais, cidadania. Incentivamos o protagonismo das crianças e adolescentes, para que eles se expressem. Nesse contexto, estamos tendo uma experiência muito boa com a parte cultural”.
Assim surgiu a iniciativa O Som da Vida, com aulas de violão e flauta. “Para modificar a realidade da violência generalizada, dos conflitos no bairro, resolvemos trazer a música para ressignificar o contexto em que eles vivem”, ressalta Dilma. Depois, conta ela, veio o coral, onde se descobriu vários talentos.
“Trabalhamos preocupados com a inclusão e a inserção, e em todas as possibilidades para inserir a criança e o adolescente em alguma atividade musical. Se não tem aptidão para o violão, talvez tenha para o teclado ou a bateria. Se não tem para nenhum instrumento, oferecemos o coral”, detalha. E foi assim com Jeremias, que não toca instrumentos, mas tinha talento para o canto.
Nos passos de Jeremias
E no compasso da música que protege vidas e ajuda a garantir direitos, novos bons frutos estão sendo colhidos por esse trabalho coletivo. É o caso de Itauana Gomes Santana, de 14 anos. A jovem entrou no Projeto Cidadão da Rede Aica, em Novo Horizonte, com sete anos e deseja seguir os passos de Jeremias.
“Meu maior sonho é tentar ir para o The Voice Kids. Amo muito cantar, gosto de participar do coral no projeto e, desde pequena, sonho em ser cantora. Me inspiro bastante no Jeremias”, revela Itauana, que tem vídeos no Youtube, onde ela mostra, com a ajuda do pai, todo o seu talento com a voz na igreja e quando está em casa.
Isso revela que o trabalho com a música ultrapassa os limites da Rede Aica e envolve famílias e comunidades onde vivem os meninos e meninas que frequentam a instituição. É o que relata um dos professores de música da Rede, Felipe Freitas. “Eles conseguem desenvolver as habilidades musicais em casa, e a família acaba interagindo. Onde o ambiente familiar é mais agressivo ou há conflitos, com a música conseguimos alcançar essas famílias e o resultado é muito positivo”.
O professor percebe o interesse real pela música que as aulas de instrumento e o coral têm despertado nos alunos. “Eles buscam as questões técnicas e alguns pensam em fazer faculdade de música e já se preparam para as provas”, frisa Felipe, que atua na Aica há três meses.
Rede de cultura e inclusão
A instituição existe há mais de 20 anos, atende a 1.200 jovens e hoje confere atenção especial à cultura, com foco na música em seus projetos espalhados pela Serra. No Projeto Legal tem instrumentalização, coral e banda; no Projeto Cidadão, em Novo Horizonte, tem aulas de flauta, violão, teclado e coral; no projeto Kairós, em Ourimar, os alunos aprendem violino; em Planalto Serrano, o Meninos e Meninas do Mestre oferece percussão e violão; no Adolescentes em Ação, em Jacaraípe, tem a oficina Musicalizando Talentos, com aulas de violão.
“Nós recheamos a Rede Aica com a música”, destaca Dilma Ramos.
A Aica trabalha com parcerias e vive de doações. “Para ajudar, venha conhecer o projeto e nossas ações, para que a doação tenha um objetivo e que possamos otimizá-las”, explica a coordenadora da Rede.