Bruno Lyra
O resíduo do beneficiamento de minério lançado pela Vale em Praia Mole pode ter chegado à Carapebus na Serra, cuja praia é vizinha ao local da agressão ambiental. É que uma fotografia feita por drone nesta segunda-feira(04), mostra uma grande mancha de águas alaranjadas na extremidade sul da faixa de areia, que faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Praia Mole.
A imagem foi feita pelo morador e ativista, Marcelo Warung, que é membro do Conselho Gestor da APA de Praia Mole. O presidente da Associação de Moradores da Praia de Carapebus, Anderson Soares, acompanhou a produção da imagem. E garantiu ser inequívoca a presença do resíduo da Vale, pois a mancha é da mesma cor do efluente despejado em Praia Mole.
Na imagem é possível ver a coloração mais barrenta das águas em Carapebus após as pedras e em frente a trilha que dá acesso à Praia Mole. Em postagem no Facebook, Anderson pede que Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente), Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis e Meio Ambiente) e Ministério Público Estadual e Federal apurem com rigor.
Anderson acrescenta que o litoral da região é ponto de desova de tartarugas e que moradores vivem da pesca. O temor da comunidade local é a contaminação de pescado e também impacto negativo ao turismo.
O lançamento do material, que segundo o Iema é rejeito não tratado de minério de ferro, calcário e betonita, teria começado na última sexta-feira às 15h e 30, durante a intensa chuva que atingiu a Grande Vitória. O órgão coletou amostras do material lançado para saber a composição química e concentração de poluentes e em 12 dias promete divulgar o resultado.
Na última sexta-feira (01) a diretora-presidente do órgão, Andreia Carvalho, já havia adiantado que a empresa será autuada e multada. O valor dependerá da avaliação do dano ambiental, o que ainda não foi divulgado pelo Iema.
Caso pode ser investigado pela Polícia Federal
Também segunda – feira (04) o Ministério Público Federal (MPF) requisitou a instauração de inquérito policial para apuração da situação, que chama de vazamento de resíduos da Estação de Tratamento da Vale.
Em nota, a Vale disse que tem realizado análises físico-químicas do material periodicamente desde a intensificação da chuva, na sexta-feira (1/12), e todas as amostras estão dentro dos parâmetros técnicos definidos no licenciamento. Informou também que vai enviar relatório ao Iema, conforme prevê o procedimento.
A empresa reforça que adotou todos os procedimentos de controle previstos e que todos os equipamentos do sistema de drenagem estão funcionando normalmente. Mas não informou se o lançamento já foi estancado.
Vitória ou Serra?
Devido à controversa divisa entre Vitória e Serra na região do Complexo de Tubarão (Vale e ArcelorMittal), surgiram dúvidas sobre em qual município o lançamento ocorreu. Inicialmente o Iema havia informado que era na Serra.
Porém o subsecretário de Meio Ambiente da Serra, Ronaldo Freire, afirmou que o caso é em Vitória, que o território da Serra fica a mais de 1 km ao norte do ponto do lançamento. Ronaldo disse que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) está monitorando a situação e técnicos do órgão foram à Carapebus no final da tarde desta segunda-feira(04) e não notaram o efluente naquela praia.
Ronaldo acrescentou ainda que, por hora, apenas notificou a Vale a apresentar dados do monitoramento do efluente.
É bom lembrar que todo área do Complexo de Tubarão já pertenceu a Serra. Mas, à medida que projetos industriais foram chegando ao local, a cidade foi perdendo território para a capital. Atualmente a Vale paga todos os impostos para Vitória (exceto o IPTU do pátio de locomotivas, que vai para a Serra) e a ArcelorMittal gera 50% a mais de tributos para a capital do que para a Serra.
Os impostos dos portos de Praia Mole e Tubarão, também ficam todos com Vitória.