Bruno Lyra
Devastada. Assim está a restinga que havia sido recuperada ao longo dos últimos 15 anos na praia do Solemar em Jacaraípe. O corte das plantas foi feito pela Prefeitura, autorizado pelo governo do Estado e gerou revolta de ativistas que participaram ao longo dos anos do trabalho de recuperação do ambiente, que por lei é Área de Preservação Permanente (APP).
Segundo a Prefeitura, o corte foi apenas de espécies exóticas (que não são daquele ambiente) e aconteceu a pedido dos moradores da região, que teriam alegado que a presença da vegetação gera insegurança, servindo de abrigo para bandidos.
Argumento que foi rebatido pelo geógrafo e morador da região Pablo Torres. “A questão da segurança é importante, poderia ter sido feita uma poda adequada para contemplar isso, mas mantendo as árvores de pé. Foram cortadas plantas nativas sim, aroeira, pitangueira, abricó, feijão da praia. E tudo sem manejo da fauna. Ninhos de pássaros foram destruídos, répteis e mamíferos perderam abrigo. A restinga também serve para controlar a erosão do mar e essa proteção natural foi reduzida”, alerta.
Pablo é um dos ativistas que se dedica a recuperação e cercamento da restinga, além do trabalho de educação ambiental na região. “Cortaram o trecho entre o pico do surf no Solemar até a altura da av. Guarani. Ainda tentemos conversar com uma técnica da Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente) que acompanhava o corte sobre a falta de critério na retirada das plantas e ausência de resgate de fauna, mas fomos tratados com ignorância”, afirma.
Outro ativista que também participa das ações de conservação na região, Wanderson ‘Negão’ Ferreira, não esconde a tristeza. “É muito sério. Isso teve a liberação do Idaf (Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do ES). Cortaram muitas plantas nativas. É triste ver um trabalho de tantos anos ir por água abaixo”, desabafa.
Em nota à reportagem, a assessoria de imprensa da Semma disse que foi cortado apenas castanheiras, leocenas e yuccas , plantas exóticas que prejudicam o desenvolvimento de espécies nativas. A assessoria disse que o corte teve autorização do IDAF e foi feito a pedido da população, já que o local servia como esconderijo para criminosos, mas não comentou a denúncia dos ativistas de que plantas nativas foram cortadas.
Da subgerência de Controle Florestal do Idaf, Pedro Heyerdahl de Sá, disse que o órgão autorizou o corte raso (no toco) apenas de plantas exóticas e que irá checar a denúncia dos ativistas. “Se forem confirmadas, a Prefeitura será autuada e multada”, adianta.
Pedro disse ainda que a Prefeitura tem autorização para podar 2,95hectares de restinga na região e que está tentando liberação para poder intervir numa área maior, do Solemar até a Praia do Barrote.
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