Bruno Lyra
Quem acompanha o rio Santa Maria, responsável pelo abastecimento da Serra e cidades vizinhas da Grande Vitória, já percebeu que a água do manancial tem ficado cada vez mais verde. Principalmente nesses últimos quatro anos, com a seca histórica que castiga o ES. E mais do que um alerta para a degradação do rio, o esverdeamento da água pode esconder perigos para a saúde da população.
É o que alerta o especialista Danilo Camargo, biólogo e coordenador do curso de Biologia do Centro Universitário Católico de Vitória. Segundo Danilo, o esverdeamento ocorre na barragem de Rio Bonito, nas montanhas de Santa Maria de Jetibá, e atinge todo o curso principal do rio até o ponto de captação para abastecer a Serra, na região do Queimado.
Ainda como estudante da UFES, Danilo participou de pesquisas sobre ecologia aquática na barragem de Rio Bonito em 2008. “Tem alto grau de certeza que o fenômeno das águas verdes esteja sendo provocado pela proliferação de microalgas, também conhecidas como cianobactérias. Estas, por sua vez, se proliferam por conta da alta concentração de matéria orgânica na água, seja de esgoto doméstico, seja de resíduos de granjas ou mesmo de fertilizantes usados na agricultura. Com a baixa vazão, altas temperaturas e o represamento das águas em Rio Bonito, cria-se o ambiente propício para a infestação das microalgas”, explica.
O biólogo destaca que nem todas as microalgas produzem toxinas. “Mas as espécies que produzem costumam ter vantagens sobre as demais. Quando pesquisei a represa em 2008, mesmo com a vazão alta do rio, inclusive com águas passando sobre o vertedouro da barragem, já havia detectado espécies que produzem as toxinas. Com a seca e o aumento da poluição do rio, é possível que o problema tenha aumentado. É preciso estudo mais aprofundado e o monitoramento permanente dessa situação”, aconselha.
Segundo Danilo, são três os tipos de toxinas: as dermatoxinas, que podem causar coceira e irritação na pele de quem tem contato com a água; as neurotoxinas, essas de efeito mais agudo, podendo gerar paradas cardíacas. E as hepatotoxinas. “Essas últimas são até mais perigosas, porque causam danos no fígado a longo prazo, onde a pessoa está há muitos anos consumindo aquela água sem perceber a princípio qualquer problema. Como poucos médicos conhecem do assunto (microalgas), acabam atribuindo a cirrose de seus pacientes ao alcoolismo ou mesmo a hepatite contraída anteriormente, mas a verdadeira causa pode estar na água”, adverte.
Cesan garante que abastecimento é seguro
Responsável pela captação, tratamento e distribuição das águas do Santa Maria para cerca de 700 mil pessoas (toda a Serra, zona norte de Vitória, parte de Cariacica e Praia Grande em Fundão), a Cesan garante que não há riscos.
A empresa diz que realiza “sistematicamente o monitoramento da qualidade da água no ponto de captação, conforme determina a Portaria nº 2914/2011 do Ministério da Saúde”. Acrescenta que “as condições de tratabilidade da água estão dentro da normalidade” e que o líquido que chega às torneiras da população atende aos parâmetros de potabilidade. Falou ainda que a captação está cerca de 45 km abaixo da represa de Rio Bonito.
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