Apontado como reforço contra a falta d’água na cidade, a solução chamada rio Reis Magos pode virar pesadelo. É que a água do mar está subindo até o trecho do rio onde a Cesan está construindo, ao custo de R$ 60 milhões, o novo sistema de captação e tratamento para atender as regiões da Serra Sede e Civit I. Na prática, significa que as águas podem chegar salgadas às torneiras dos moradores da cidade.
Dono de propriedade na região de Putiri, onde ficará o ponto de captação e tratamento de água do rio Reis Magos, Joel Falquetto, disse que a salinização começou a ficar intensa nos últimos quatro meses. “O nível do mar está subindo mais a cada ano e a seca violenta estão provocando essa situação”, explica.
Falquetto é presidente da Associação de Produtores Rurais da Serra. E disse que a entidade avisou à Cesan sobre o problema, e ainda pediu à empresa que não retire toda a água doce do rio em período de seca – coisa que já acontece no rio Santa Maria, que atende a Serra – pois isso deixaria os produtores de gado sem o líquido para dar de beber aos animais.
A reportagem esteve na região que fica a cerca de 12km do mar em linha reta, e constatou a salinização do rio em trechos próximos à captação, inclusive com a morte de vegetação aquática típica de água doce. “O capim morreu por causa do sal. Peixes de água doce também estão morrendo. Quando fizeram os estudos o para definir o lugar (de captação), o rio devia estar cheio e acharam que ia ter capacidade. Temos informação que o rio tem vazão só de 680 litros por segundo de água doce. Vão captar 500 litros e deixar só 180 litros. Tem toda uma vida de peixes e outros animais do rio que serão prejudicados”, aponta o também produtor rural, Teodoro Nascimento.
Funcionário há 15 anos da fazenda onde parte das terras foi desapropriada pela Cesan para o projeto, Anderson Siqueira, disse que o sal nunca tinha chegado a região antes dessa superseca que castiga o estado desde 2014. “Outras secas vão acontecer e o mar está subindo muito. Vai dar errado essa captação aqui”, alerta.
Através da sua assessoria de imprensa, a Cesan disse será construído um ressalto hidráulico (um tipo de dique) abaixo do ponto de captação para evitar que o sal entre no sistema. A empresa disse que a previsão é de que a obra seja concluída até outubro. E que a vazão média do rio naquele ponto é de 4,2 mil litros por segundo, o que seria suficiente para suprir os 500 litros que o novo sistema vai captar por segundo.
Produtor rural reclama de impacto em terreno
Uma peculiaridade do projeto Reis Magos, é que apenas a propriedade de Pedro Dal Col foi desapropriada pela Cesan, onde estão sendo instaladas o canal de captação, duas estações de tratamento de água e um reservatório de 4 milhões de litros. A tubulação (adutora) que levará o líquido até a Serra sede, está sendo toda ela implantada às margens da estrada que liga Putiri à sede do município, cerca de 15km.
Isso para evitar novas desapropriações. Mesmo assim, propriedades rurais às margens da estrada estão sendo impactadas. “Jogam barro e equipamento para dentro. E ainda estão quebrando minha cerca em vários pontos. Tudo sem autorização minha. Nem fui comunicado. Quero ver se vão consertar depois que terminarem”, diz Teodoro Nascimento, proprietário rural afetado e que é membro da Associação de Produtores Rurais da Serra.
Em nota, a assessoria de imprensa da Cesan garantiu que a empresa fará reparos nas cercas afetadas. Falou ainda que a concessionária fez reuniões com a comunidade de Putiri dando ciência das obras.
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