O mundo saia do século 19 e entrava no século 20; a Serra não tinha grandes expectativas para aquele período. Com a abertura novas rotas comerciais, a cada dia a Vila do Queimado perdia importância econômica como um entreposto para o comércio de café e açúcar. Os índices populacionais da Serra caíam, em função do êxodo para a capital Vitória, que se desenvolvia a passos largos.
É neste contexto que em 7 de maio de 1900, nascia na Serra, Rômulo Leão Castello. Um dos seres humanos que mais iriam influenciar a cidade no processo histórico de formação e desenvolvimento.
Filho de João Dalmácio Castello e Maria Grata Leão Castello, Rômulo era irmão de Judith Leão Castello, que viria a ser a primeira mulher a se eleger para a Assembleia Legislativa – outra personalidade icônica e que já teve sua trajetória contada pelo Histórias da Serra (clique aqui para ler). Entre os expoentes da família atualmente, está o advogado e membro da Academia de Letras da Serra, João Luiz Castello.
Rômulo alfabetizou-se rapidamente, na escola do Professor João Loyola. Em um de seus livros, Judith faz um breve relato sobre a capacidade de aprendizado do irmão: “Venceu a tabuada. Ágil em cálculos aritméticos. Pendor para leitura, em prosa ou em verso. Declamava com boa dicção, sóbrio em gestos, preciso na expressão facial. (…) Loyola o fez monitor dos principiantes”.
Rômulo cresceu e foi para o internato do Ginásio São Vicente de Paulo, em Vitória, fundado por seus tios, entre eles, Aristóbulo Barbosa Leão, que também teve sua trajetória contada pelo Histórias da Serra (clique aqui para ler).
Mas seu certificado não foi dado como válido, porque naquela época só valiam os cursos de escolas do Governo. Restava aos alunos de colégio particular fazer provas de nivelamento. Então, Rômulo fez exames de Português, Francês, Latim e História Universal, provas escritas e orais. Foi aprovado com aplausos.
Rômulo, apesar de não vir de uma família necessariamente bem abastada, tinha uma situação considerada confortável para a época. Mas na contra mão da maioria de seus contemporâneos na mesma condição, ele já revelava o enorme coração.
Sua irmã, Judith, conta em um dos livros que certa vez, um menino que era filho de um homem leproso, caminhava com dificuldade numa estrada e, como era de praxe, se escondeu no mato ao avistar movimento. Quem se aproximava era Rômulo em seu cavalo. Este por sua vez chamou o menino e o colocou na garupa, levando-o até em casa, quando então pode conhecer o pai do jovem, um homem leproso do qual tinha sido excluído pela sua doença.
Em outro artigo do livro “Presença”, intitulado “Existe gratidão”, Judith relata sua emoção ao ouvir o testemunho da gratidão de José Santos Pereira, o “Zé Barraca”, e Hipólito Pedro da Silva, ambos músicos das Bandas Recreio dos Artistas e Estrela do Norte.
Segundo tais relatos, Rômulo adorava participar dos ensaios das bandas. Mais tarde, ele doaria terrenos para que as bandas construíssem suas respectivas sedes.
Rômulo tinha aptidão para o comércio, tanto que montou uma lojinha em casa quando ainda jovem. Mais tarde, salvaria da falência a loja que seu pai havia instalado em Vitória, que depois acabou vendida a “um capitalista do interior, a contento das partes”. Rômulo também trabalhou no cartório de Jair Etienne Dessaune, sucedendo-o quando se aposentou.
Mas na agitada Década de 1930, Rômulo deixou sua vocação para a política emergir; ele marchou com o interventor estadual João Punaro Bley, aliado do presidente Getúlio Vargas na chamada Revolução de 30.
Essa participação deu a Rômulo a oportunidade de ajudar os cinco prefeitos nomeados para governar a Serra (1930 a 1934) a realizarem inúmeras obras de que a cidade necessitava.
Com a Revolução Constitucionalista de 1935, dá-se a liberdade de criação de partidos políticos no país e Rômulo se filia à Aliança Liberal. O prefeito nomeado, Presciliano Biluia de Araújo convidou Rômulo para ser seu colaborador e braço direito; é neste período que Rômulo ganha mais protagonismo e começa a promover nova arrancada progressista na Serra.
Em 1937, Getúlio Vargas implanta o Estado Novo e cala o país, mas é deposto em 1946. Neste período, já muito conhecido na Serra, Rômulo se elegeu prefeito em um colégio eleitoral de singelos 1.621 eleitores, tendo recebido 950 votos. Quantitativo que hoje em dia não elegeria nem um líder comunitário de um bairro de porte médio na Serra.
É nesse período que a Serra volta a experimentar um ritmo de crescimento iniciado na gestão de Biluia em parceria com Rômulo e que tinha sido reduzido nas anos subsequentes.
Empossado em 27/12/47, Rômulo ocupou o cargo até 1951, consagrando-se como um prefeito desenvolvimentista, visionário e construtor.
Nas três legislaturas seguintes, se elegeu vereador: 1ª – 1951 a 1954 (presidente da Câmara em todo o período); 2ª – 1955 a 30/01/1959 (presidente de 01/03/55 a 04/03/58); e a 3ª e última, que vai de 31/01/59 até sua morte em 10 de dezembro de 1960.
A era do Abacaxi: Rômulo compreendeu a falta de fontes de trabalho e renda naquela época, que poderia esvaziar ainda mais a Serra. Logo no início do mandato de prefeito, ele criou uma sociedade chamada “Incentivadores da Cultura do Abacaxi”, que viria a ser a principal fonte econômica da Serra até a chegada da era industrial.
Estimuladas pelo então prefeito, caravanas de caminhões transportavam abacaxi para Rio de Janeiro, São Paulo e até Argentina (de navio). Até os anos 60 a Serra foi a maior produtora de abacaxi do ES, economia que se iniciou com Rômulo.
Serra Sede: o então prefeito investiu muito na região de Serra Sede, desde instalação de luz elétrica; abertura da larga e extensa Avenida Getúlio Vargas, principal via de Serra Sede até hoje; delegacia de Polícia, que foi um amplo prédio, seguindo as exigências carcerárias modernas à época.
Rômulo também construiu um prédio próximo a Praça da Matriz com a Casa dos Vicentinos. O imóvel tinha 4 andares, que seriam futuras salas de operação destinada a um Hospital.
Também foram feitos aterros e arborização da praça da Bandeira, atual praça Dr. Pedro Feu Rosa (principal praça de Serra-Sede). A praça recebia o nome de Bandeira, pois era o ponto de concentração das Escolas em dia de festas.
Próximo à Serra Sede, onde hoje seria o bairro Campinho, Rômulo construiu, de acordo com o Bispo D. Luiz Scortegangna, uma capela-escola de grandes proporções, que por longo tempo cumpriu suas finalidades.
Calogi (região rural da Serra): Rômulo construiu um espaçoso prédio escolar, além da estrada rodoviária ligando o povoado à Estrada de Ferro Vitória-Minas.
Pitanga: Rômulo promoveu obras de levantamento da principal estrada do bairro, para que a drenagem das águas laterais descessem através de gigantescos bueiros e acabassem com os alagamentos. No bairro foi construída uma ponte ligando duas regiões que eram separadas por um riacho volumoso na época de chuvas. A antiga ponte existente, que era improvisada, trazia prejuízos aos pecuaristas e cultivadores de café.
Queimado: O histórico distrito de Queimados, de terras pantanosas, foi ligado por rodovia a Serra Sede. O local, que até então era habitado, mas já estava em fase de esvaziamento, recebeu um prédio escolar para atender as crianças.
Carapina: No início da década de 50, a construção da BR-101 foi iniciada – obra essa que no futuro seria fundamental para o desenvolvimento da Serra.
O distrito de Carapina teve a principal estrada na época reconstruída por Rômulo; e recebeu a construção do Grupo Escolar, hoje a Escola, que por ato oficial do Governador Carlos Lindemberg, tem numa homenagem póstuma, o nome de Rômulo Leão Castello, que é uma das escolas estaduais mais importantes e tradicionais da Serra até hoje.
Jacaraípe: O grande balneário de Jacaraípe tinha um lugar especial no coração de Rômulo. Sua família passava as férias na praia, local em que ele cultivou muitos amigos e posteriormente residiu por muitos anos, até sua morte; como prefeito, ele pode devolver o carinho que tinha por Jacaraípe com investimentos que colocaria o balneário no rota do turismo.
Rômulo foi o responsável por trazer parte significativa da luz elétrica e água canalizada, na época, distribuída gratuitamente à população. Em Jacaraípe Rômulo deu início a configuração ordenada do balneário, quando vastas áreas foram loteadas e abertas largas ruas, convergindo para a ampla e larga avenida central, reservando uma faixa de terra extensa no sentido Manguinhos-Jacaraípe, que posteriormente se transformaria na atual Avenida Abido Saad, asfaltada em 1972.
As casas feitas com telhado de palha, foram substituídas por casas de alvenaria e telhas; na época, consideradas um privilégio em termos de condições de higiene; os imóveis foram doados aos pescadores da região. Rômulo levantou também o amplo edifício, chamado “repouso clínico das irmãs de caridade da Congregação de São Vicente de Paula”.
O local funcionava como uma casa para atender doentes que tinha um ambulatório médico, coisa que não existia em Jacaraípe
Para dar início a um processo turístico em Jacaraípe, Rômulo doou três quadras de seu loteamento pessoal para construção da colônia de férias dos ferroviários. Assim, os mineiros que atuavam na implantação da Vale do Rio Doce poderiam visitar a praia. A companhia, por sua vez, retribuiu com materiais para a distribuição de energia elétrica.
Houve também a construção da ponte sobre o Rio Jacaraípe (feita no Governo Biluia em parceria com Rômulo), usada até 1976. Essa ponte substituiu uma travessia improvisada de madeira feita voluntariamente em 1928, pelo próprio Rômulo e seu pai, João Dalmácio. A influência do então prefeito na região litorânea da Serra, fez com que historiadores entendessem Rômulo Leão Castello como o criador urbanístico de Jacaraípe.
Nova Almeida: aprofundamento do Poço dos Padres, onde a população pegava água, até encontrar até o lençol freático. A água que era escassa passou a ser mais abundante e pode ser distribuída por toda a vila. Atualmente, o local não existe mais, já que foi ocupado por imóveis irregulares que soterraram a fonte de água pura.
Também foi feita a estrada rodoviária que liga a Nova Almeida (ambos feitos na época do Governo Biluia com parceria de Rômulo).
Rômulo Leão Castello faleceu em 10 de dezembro de 1960, aos 60 anos. Três dias antes, o ex-prefeito e na época ocupante do cargo de vereador, tinha sofrido um derrame. Ele morreu na casa onde residia, em Jacaraípe. Naquele ano, a Assembléia Legislativa fez um requerimento de pesar. O então Presidente da Assembleia, Deputado Mario Gurgel, fez um significativo pronunciamento exaltando a trajetória de vida e o papel histórico que ele teve na Serra.
Este texto é uma adaptação feita pelo jornalista Yuri Scardini, a partir da coletânea produzida e publicada pelo Jornal Tempo Novo em 2011, com o nome: ‘Protagonistas da Serra’. Escrito originalmente pelo jornalista Maurilen de Paulo Cruz e publicado na edição 937.
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