Donos de animais que vivem em áreas tropicais, como é o caso do Espírito Santo, precisam ficar atentos. Isto porque, um fungo tem aparecido em alguns bairros da Serra. Trata-se do Sporothrix brasiliensis, principal causador da esporotricose no país e encontrado em abundância em troncos de árvores e no solo. E segundo veterinários que atendem na cidade, casos têm sido registrados. Por isso os donos devem redobrar a atenção. A esporotricose é conhecida também como doença dos jardineiros, já que este tipo de profissional mexe muito com a terra.
O fungo costuma atacar especialmente os gatos que gostam de dar passeios ao ar livre. E, ao serem infectados durante escapadas de casa, eles mesmos se tornam vetores dessa zoonose para seus tutores e outros animais. Cães também podem ser atingidos, assim como animais silvestres.
Segundo a Prefeitura da Serra não houve denúncias de animais contaminados, até o momento na cidade. Caso haja, os agentes vão à residência para avaliação do animal e tratamento, caso necessário. A assessoria de imprensa da Prefeitura não respondeu quais providências o município está tomando para evitar que a doença se torne uma epidemia como aconteceu no Rio de Janeiro entre 2016 e 2017. Também não permitiu que a reportagem conversasse com o veterinário responsável pelas ações da Vigilância Ambiental em Saúde (VAS) da Serra para falar sobre o assunto.
O TEMPO NOVO entrou em contato com algumas clínicas veterinárias particulares da cidade, que disseram já ter atendido animais infectados com o fungo. Há registro de casos, tanto em gatos, como em cães. Os bairros que tiveram animais atendidos pelas clínicas são Jacaraípe, Porto Canoa, Cidade Continental, Manguinhos, Mata da Serra, Laranjeiras, São Diogo e Jardim Limoeiro. Tem ainda animais que vieram de Vila Velha e Cariacica.
O principal sintoma da doença são feridas na pele do bicho, principalmente no focinho, que podem apresentar uma secreção purulenta, além de queda de pelos, falta de apetite e vômitos.
A esporotricose afeta diversos animais, incluindo cães, cavalos, porcos e até espécies silvestres. Não se sabe por que os gatos são os mais atingidos — estima-se uma proporção de um cão para 25 felinos, segundo estudos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ligado à Fiocruz.
Para proteger os felinos, recomenda-se não deixar os animais terem acesso a rua e também a castração precoce, uma vez que a medida reduz o ímpeto do animal de sair dando voltas por aí.
A reportagem do TEMPO NOVO procurou o Ministério da Saúde que deu explicações, em nota, sobre o assunto, quando se trata da doença manifestada em humanos e dá sugestões de como agir, caso se tenha um animal infectado com a enfermidade em casa. Confira abaixo:
Quais orientações para os donos de animais com esporotricose?
Todo animal doente com suspeita de esporotricose precisa ser isolado das pessoas e de outros animais. As manifestações clínicas mais observadas no gato são feridas localizadas na face, especialmente no focinho, orelhas e patas, embora possam estar localizadas em qualquer parte do corpo do animal. Também podem apresentar áreas de alopecia (sem pelo). O uso de luvas é recomendado no manuseio do animal. Este deverá ser levado ao veterinário para a confirmação do diagnóstico e tratamento.
Uma vez confirmada a doença, o animal deverá ser separado do convívio das pessoas da residência, principalmente de crianças, recolhido em um local seguro. Seus utensílios, brinquedos e outros objetos precisam ser lavados com água e sabão e desinfetados diariamente. Em caso de morte do animal, este não deverá ser enterrado ou jogado no lixo, e sim encaminhado ao veterinário para incineração o mais rápido possível. Os locais onde o animal habitava precisam ser descontaminados, preferencialmente com hipoclorito de sódio.
Quais as causas da Esporotricose?
A esporotricose é causada por fungos do gênero Sporothrix. Estes fungos podem apresentar duas formas no seu ciclo de vida: micelial (de filamentos) e levedura (parasitária). Na forma micelial, o fungo está presente na natureza, no solo rico em material orgânico, nos espinhos de arbustos, em árvores e vegetação em decomposição. A forma de levedura é a que pode parasitar o homem e animais.
Os indivíduos geralmente adquirem a infecção pela implantação do fungo na pele ou mucosa por meio de um trauma decorrente de acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira; contato com vegetais em decomposição; ou arranhadura ou mordedura de animais doentes, sendo o gato o agente transmissor mais comum.
Como ocorre a transmissão da Esporotricose?
A transmissão ocorre por meio da contaminação de ferimentos já abertos ou pela inoculação (entrada) do fungo na pele a partir de um trauma com espinhos, farpas de madeira, arranhadura, mordedura, entre outros, alcançando o tecido cutâneo e subcutâneo. O fungo Sporothrixschenckii não é capaz de penetrar a pele sem lesão.
Atualmente, sua ocorrência está cada vez mais relacionada à transmissão por animais, principalmente a partir de gatos domésticos infectados e, ocasionalmente, por cães, pássaros, tatus e peixes.
A transmissão da esporotricose durante muito tempo foi relacionada exclusivamente a um trauma na pele, no entanto, tem sido observada a transmissão por via inalatória, decorrente, por exemplo, da tosse ou espirro de animais infectados.
Como é o tratamento da Esporotricose?
O tratamento dever ser realizado após a avaliação clínica, com orientação e acompanhamento médico. A duração do tratamento pode variar de três a seis meses, ou mesmo um ano, até a cura do indivíduo. Osantifúngicos utilizados para o tratamento da esporotricose humana são o Itraconazol, o Iodeto de Potássio, a Terbinafina e o Complexo Lipídico de Anfotericina B, para as formas graves, disseminadas.
O Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, oferece gratuitamente para humanos, o Itraconazol e o Complexo Lipídico de Anfotericina B para o tratamento da Esporotricose humana.
Como prevenir a Esporotricose?
A principal medida de prevenção e controle a ser tomada é evitar a exposição direta ao fungo. É importante usar luvas e roupas de mangas longas em atividades que envolvam o manuseio de material proveniente do solo e plantas, bem como o uso de calçados em trabalhos rurais. Os indivíduos com lesões suspeitas de esporotricose devem procurar atendimento médico, preferencialmente um dermatologista ou infectologista, para investigação, diagnóstico e tratamento.
Toda e qualquer manipulação de animais doentes pelos seus donos e veterinários deve ser feita com o uso de equipamentos de proteção individual (EPI). Além disso, animais com suspeita da doença não devem ser abandonados, assim como o animal morto não deve ser jogado no lixo ou enterrado em terrenos baldios, pois isto manterá a contaminação do solo. Recomenda-se a incineração do corpo do animal, de maneira a minimizar a contaminação do meio ambiente e, com isso, interromper o ciclo da doença.