Bruno Lyra
A Samarco (Vale + BHP Billiton) recebeu na última segunda-feira (11) duas licenças da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais (Semad). A obtenção dos documentos é o primeiro passo para que a mineradora volte a operar, já que ainda depende de mais autorizações. A empresa prevê retorno gradual das operações no 2º semestre de 2018.
É uma boa notícia para a economia capixaba, que viu o PIB despencar em mais de 10% após a paralisação da empresa, que faz pelotas de minério na usina de Anchieta e exporta pelo porto de Ubu, ambos no sul do estado. Para a economia da Serra também, uma vez que na cidade estão prestadoras de serviço e fornecedoras das atividades da Samarco em Anchieta.
Na outra ponta, o desastre/crime ambiental de Mariana foi devastador para o meio ambiente e para a sociedade mineira e capixaba. Os rejeitos permanecem no vale do rio Doce, descendo aos poucos para o mar capixaba, onde já atingiu uma área do sul da Bahia até o norte do Rio de Janeiro.
As ações de mitigação e reparação aos atingidos tocados pela fundação criada pela Samarco, a Renova, são alvo de duras críticas pela lentidão e baixa eficiência em Minas. Críticas que são ainda mais severas quanto à reparação dos capixabas diretamente prejudicados.
Isso sem contar os atingidos indiretamente, caso dos que perderam emprego na Serra, Anchieta ou Guarapari, por exemplo. O argumento de que a empresa precisa voltar a operar para pagar isso tudo é frágil, uma vez que as gigantes multinacionais Vale e BHP deveriam assumir, desde o 1º minuto do desastre, o ônus pela barbeiragem da joint venture que criaram.
Soa absurdo a Samarco obter licenças sem pagar as multas ambientais nem indenizar adequadamente a vida de quem ela arruinou. O mesmo vale para a falta de restauração ambiental. É uma tragédia crônica de prazo indeterminando. Basta ver a cor grená-alaranjada das águas do rio Doce e do mar de Regência nesses tempos de chuva.