Por Fabrício Ribeiro
Ano complicado 2015. Atentados terroristas, boom de refugiados e imigrantes clandestinos com a consequente crise humanitária e muita tensão nas fronteiras russas e do oriente médio.
No Brasil, esses dramas são menos sentidos diretamente, mas penamos com o rigor de períodos, ora de chuvas, ora de estiagem. Os custos vão se acumulando a cada cheia, a cada seca, compondo uma contabilidade de déficit silenciosa e cumulativa. Como certas doenças. Uma trajetória de empobrecimento está em curso. Será que é reversível?
No Espírito Santo, essa assombração já ronda com força. Os últimos tempos viraram um rodízio de dramas – e prejuízos – entre cheias e estiagens severas. A conta está acumulada e interfere diretamente na capacidade de desenvolvimento.
A crise política – foi um ano inteiro de instabilidade: o fantasma do impeachment assombrando a presidenta Dilma, com o seu PT, hoje quase transformado num circo de horrores – se juntou a uma crise econômica com várias caras. Por parecer ser tendencial, uma justa preocupação é a desaceleração do parque industrial chinês que passou a comprar menos matérias-primas. Acertou em cheio o Brasil, que depende desse freguês.
Esse babado todo bateu – e segue batendo – forte nas contas e nas costas dos governos.
Presidenta quebrada, com um orçamento para 2016 literalmente sem fundo, como um cheque que não será compensado. Batendo as cabeças e de pires nas mãos, mais de duas dezenas de governadores, como Paulo Hartung, e cinco milhares de prefeitos sofrem com força, como o serrano Audifax Barcelos. Pouco dinheiro para saúde e educação e quase nada para o resto, como os investimentos e obras.
Ah, e vai ter que sobrar algum para as campanhas de prefeito e vereadores deste ano. Para encarar um eleitor revoltado e perplexo. Afinal, se trabalha tanto, se paga tanto imposto e tem tantos recursos econômicos, que fica difícil entender o galope do desemprego e da inflação.
Saída para tudo isso? Mais impostos e taxa para a população pagar.
Sudeste ou Sudene?
Tem uma tese, apreciada pelos gurus do marketing, da autoajuda e os otimistas de plantão, de que momentos de crise podem virar oportunidades.
Há alguns meses o Estado levou uma dura de Minas Gerais. Queriam mudar a divisa e ficar com a portaria capixaba do Parque Nacional do Caparaó que dá acesso ao preciosíssimo Pico da Bandeira. No final, ficou tudo como estava e ninguém saiu ferido. Mas o Espírito Santo perdeu uma oportunidade – barata – de se impor com mais vigor frente a Minas e, por consequência, na federação de estados brasileiros.
Talvez assim estaria mais preparado para cobrar as responsabilidade – de Minas Gerais, da União e empresas – sobre o acidente/crime ambiental da lama da Samarco (apelido do cruzamento da Vale com a BHP) em Mariana. Se para Minas e sua economia o impacto foi violento, para o Espírito Santo pode significar uma lenta e demorada agonia.
Tudo na cara de uma liderança política local tímida, sem jeito de enfrentar e ir à luta.
Mas é difícil imaginar uma postura melhor. Dezembro passado foi o centenário do naturalista e cidadão do mundo Augusto Ruschi, cientista capixaba de reconhecido calibre nacional e internacional. Nem uma festinha à altura rolou. Nem isso.
Agora vai restar à liderança política sublimar esse complexo de inferioridade mandando ver aqui dentro mesmo, no seu terreiro, definindo, ou quase isso, quem vai assumir ou permanecer frente às prefeituras.
Saída para isso? Deixar o Sudeste e entrar para a Sudene. Faça sol ou faça chuva!
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