Clarice Poltronieri
O rio que abastece a Serra, o Santa Maria, está secando. Caso não chova nos próximos dias e a Cesan deflagre o já anunciado racionamento, as plantas industriais da Vale e ArcelorMittal em Tubarão podem ficar sem o precioso líquido, já que a prioridade legal para a água que restar é a dessedentação humana e animal.
Situação com potencial para ameaçar a produção de pelotas de minério de ferro e de aço, já que são atividades que dependem de grande quantidade de água e que movimentam expressiva rede de fornecedores, prestadores de serviço e empresas que têm nos produtos siderúrgicos sua matéria prima.
No caso da Vale, a assessoria de imprensa da empresa diz que foram tomadas medidas para evitar diminuição na produção, como instalação de poços artesianos e captação de água de chuva. Acrescenta que 67% da água dos processos produtivos é reutilizada. A assessoria destaca que não é possível estimar possíveis prejuízos e desempregos caso a Cesan corte o fornecimento de água do Santa Maria seja cessada.
O consumo de água do manancial nas usinas da Vale em Tubarão já foi reduzido. Em maio de 2015 a então presidente da Cesan, Denise Cadete, disse que antes do agravamento da seca eram fornecidos 400 litros por segundo à empresa. Agora, segundo a Vale, o consumo de água do rio caiu para 70 litros por segundo.
Em todo o estado, a Vale gera 10,5 mil empregos, entre funcionários e terceirizados. Segundo a empresa, para cada emprego direto são gerados outros sete indiretos. Além disso, 60% dos fornecedores das atividades da Vale no ES são de empresas localizadas no estado.
Dependência da Arcelor é ainda maior
Quando se trata da ArcelorMittal Tubarão, a situação é ainda mais preocupante, já que fabricação de aço precisa de muito mais água do Santa Maria. Com uma produção anual de 7,5 milhões de toneladas de aço, gerando 4,5 mil empregos diretos e cerca de 6 mil indiretos. A fábrica de Tubarão consumia 850 l/s de água em 2014, tendo reduzido para 570 l/s em maio deste ano. A assessoria da empresa não detalhou o consumo atual.
Apesar da dependência do rio, a Arcelor garantiu que a produção não deve diminuir e nem há risco de demissões caso não possa mais contar com a água do manancial. Isto porque, a empresa investiu R$23 milhões em uma estação de tratamento de água para reuso, que já está em operação e pode chegar a produzir cerca de 111 l/s de água industrial, tendo sido responsável pela redução de 40% do consumo global na planta.
A Arcelor acrescenta que tem iniciativas internas de economia e reuso junto aos funcionários, como na limpeza e umectação de vias. Ressalta que 95,5% da água utilizada na usina é do mar, tendo apenas 4,5% provenientes do Santa Maria, das quais 97% recirculam. A empresa também planeja usar água de estações de tratamento de esgoto operadas pela Cesan.
Federação das Indústrias descarta demissões
Representante da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) na Serra, José Carlos Zanotelli disse que entre os empresários já há conversas no sentido de amenizar os impactos da seca.
“A indústria consome cerca de 20% da água potável. Existe uma consciência que a prioridade é para o consumo humano e as indústrias criaram um controle de consumo”, relata.
Sobre a possibilidade de desemprego, Zanotelli acredita que o risco é mínimo. “O maior risco é pela crise econômica. A crise hídrica só vai afetar se a seca continuar, mas acredita-se que é uma situação provisória. Algumas empresas reduziram a produção, mas os prejuízos estão sendo administrados sem demissões”, afirma.
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