O morador de Vila Velha, Enio Bergoli, está a todo vapor à frente da secretaria de Serviços da Serra. Leituras do meio político da cidade, de diferentes grupos e matrizes partidárias, apontam para movimentos do ‘canela-verde’ visando ganhar musculatura eleitoral na Serra, utilizando toda a visibilidade que o cargo lhe confere para aumentar sua inserção em bairros do município, agregando aliados e relacionamentos eleitoralmente produtivos.
Enio é um dos sobreviventes do grupo do ex-governador Paulo Hartung, que em 2018, desistiu da tentativa de reeleição ao Palácio Anchieta, e deixou órfãos alguns de seus agregados. Ganhando prestígio nacional, Paulo Hartung caminhou rumo a um projeto mais abrangente fora dos limites do ES e ainda não sinalizou como deverá se comportar em 2022; entretanto alguns de seus aliados seguem muito vivos no cenário político capixaba e Enio é um deles.
Absorvido para o secretariado de Sérgio Vidigal, Enio foi escalado para titularizar a poderosa Secretaria de Serviços, que na Serra tem um histórico de formação de quadros políticos-eleitorais, haja vista, por exemplo, o canônico caso de Carlos Manato, que assumiu a Pasta em 2001 a 2002. Na eleição de 2002 se candidatou à Deputado Federal, elegendo-se com 56.219 votos, assumiu o mandato em 2003, e sendo reeleito por 4 mandatos consecutivos.
Neste processo, os caminhos de Manato e Vidigal se divergiram, ao ponto de transformar seu ex-secretário em um dos maiores críticos de Vidigal e da ex-deputada, Sueli Vidigal, com quem avizinhou o cargo de deputado em Brasília.
Enio gosta de passar uma imagem de técnico, que de fato é, mas é também um dos poucos que ultrapassaram a barreira da tecnocracia para ser também um autêntico político. Daqueles bons inclusive, que esconde o jogo e sabe fazer o meio de campo azeitando todo mundo ao redor. Ele é da escola hartunguista, craque da política local.
O secretário da Serra tem um currículo invejável: é engenheiro agrônomo concursado do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural) desde 1986; foi Diretor-Presidente do órgão de 2004 a 2008. Foi Secretário de Estado da Agricultura do Espírito Santo na primeira gestão de Renato Casagrande como governador (2011-2014); na 3º gestão de Hartung à frente do Anchieta, Enio ocupou a direção do Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo – DER/ES.
Ao longo desses anos lidando politicamente nos núcleos íntimos de decisões governamentais, o Secretário aprendeu a fazer política, pegou jeito e gostou; tanto é que ensaiou uma candidatura em 2018 pelo PSDB, tida na época como bastante competitiva; fato que não se concretizou, especialmente após os tucanos fecharem apoio a Casagrande naquele ano, obrigando Enio a adiar seus planos.
Agora, de volta ao cenário político pelas mãos de Vidigal, Enio trabalha uma candidatura a deputado federal ou estadual. Atualmente, fala-se que um caminho natural para o Secretário ser candidato é o PSD, partido do qual PH detém certa influência. Pelo menos, é uma afirmação bastante difundida nos bastidores da política da Serra.
Resta saber como vai se comportar a base do prefeito, que é notavelmente serrana de origem e que pode perder espaço para um ‘forasteiro’ muito inteligente politicamente e tecnicamente. Vide os vereadores da Serra, que adoram filmar, agradecer e elogiar os feitos de Enio a frente da Pasta, limpando suas comunidades e espalhando o nome do Secretário para suas próprias redes.
Fica a pergunta: Vidigal cria um novo ‘Manato’, dessa vez mais experiente e advindo de um grupo político forte? Não se sabe, política é assim, simplesmente vai acontecendo. O certo é que Vidigal já emprestou seu prestígio eleitoral junto à população da Serra, para erguer pessoas que com o tempo se transformaram em adversários; com ênfase em especial a um deles (que dispensa apresentação) que acabou tornando-se o seu inimigo mais íntimo.
Hoje, aos 64 anos, Vidigal é mais cauteloso, conversa contumazmente com seus aliados sobre a necessidade de deixar quadros políticos formados e preparados para tocar adiante as agendas reformistas que uma Serra em intensa mutação precisa; preza também pelo seu partido, o PDT, que é formador de quadros políticos.
A eleição ainda não está na boca do povo (a não ser pelos bolsonaristas), que quer superar as dificuldades da vida em sociedade que a pandemia terminou de piorar. Porém, nos bastidores já começou; e no ano que vem, só sentará à mesa para negociar seu espaço, aquele (a) que tiver tamanho… e Enio faz seu dever de casa muito bem, está passando o trator…