Por Bruno Lyra
Servidor público da Saúde desde 1979, o enfermeiro Luiz Carlos Reblin assumiu a Secretaria de Saúde da Serra no início desta gestão de Audifax, depois de ter comandado a pasta em Vitória no governo João Coser. Nesta entrevista Reblin faz um balanço dos problemas e avanços do setor na Serra.
Do orçamento global de R$ 1,4 bilhão do município, quanto é para Saúde?
São R$ 244 milhões de reais. Temos 2,6 mil servidores e a folha de pagamento consome cerca de 67% do orçamento. São poucos recursos para quantidade de atribuições que o município tem. Há uma lei que obriga o município a gastar pelo menos 15% dos recursos em Saúde. A União poderia contribuir com uma parte maior.
Qual cenário ideal para os municípios?
A União deveria aplicar pelo menos 10% da sua receita na saúde. Isso elevaria de imediato os recursos e aproximaria o Brasil de índices de investimentos no setor aplicados em países sul americanos como Chile e Argentina. Há mudanças na demanda de atendimento por conta do perfil da população, que está vivendo mais, por isso doenças crônicas vão acontecer. Também o trânsito, cujos feridos sobrecarregam o sistema de saúde.
Não é incomum a população da Serra reclamar de dificuldade no acesso aos serviços públicos de saúde…
Quando os municípios assumiram a Saúde, passaram a atender a atenção primária. A atenção secundária ficou com os estados, com exames complexos e especialistas. Com o tempo, municípios também passaram a ter centros de especialidades, como Serra, Vitória, Vila Velha e Cariacica. Mas esse continua a ser um dos maiores gargalos, não nosso apenas, como de todo o sistema de saúde do país.
Qual a avaliação que o senhor faz do programa Mais Médicos na Serra, especialmente dos profissionais estrangeiros?
Na Serra chegaram 112 médicos pelo programa. Acredito que somos uma das cidades que proporcionalmente mais temos profissionais que vieram pelo Mais Médicos. Temos uma estrutura que funciona e quando temos a possibilidade, trazemos esse profissional. Desses 112, a metade é de estrangeiros e metade brasileiros. Os estrangeiros têm diferença na sua formação. Pela vida pública que têm eles estão bem treinados.
Como está a preparação da cidade para doenças típicas de épocas chuvosas?
Esse é o ano com menos incidência na Serra. Tem vários motivos, não é só falta de chuva. Com as águas caindo agora, não cremos num aumento grande, pois a temperatura mais baixa atrapalha o mosquito. Mas continuaremos com as ações preventivas e nossas unidades de saúde têm estrutura para notificar e tratar casos. Se acontecerem situações absurdas, temos condições de ampliar o atendimento. Mas só quando surgir vacina é que teremos solução para a dengue.
Por que a Prefeitura não equipara o salário base dos agentes de saúde e endemias ao piso nacional de R$ 1.014,00?
Os agentes são as únicas categorias que conquistaram o piso com uma emenda na constituição. Ela estabeleceu que a União financiaria 95% o outros 5% pelo estado. Mas ainda falta a regulamentação por parte do Ministério da Saúde. Somados os benefícios que damos, o salário já chega ao valor do piso. Mesmo assim o prefeito autorizou a proposta de um piso para esses agentes.
Em 04 de maio a justiça condenou o município a pagar R$ 100 mil a uma paciente vítima de erro médico na maternidade de Carapina. Há outros casos semelhantes?
Esse é o primeiro caso desde que cheguei à secretaria. Processos assim não são comuns. O que tem é a justiça obrigando o poder público a prestar algum tipo de atendimento. Mas no caso de Carapina o município não pode deixar de recorrer.
O pó preto de Vale e Arcelor deixa a saúde pública mais cara na Serra?
Desconheço. Claro que poluição de qualquer natureza traz problemas. Não sei dizer se há aqui no estado algum estudo específico. Mas não têm estudos delimitando geograficamente a influência de agente poluidor na nossa cidade e desconheço de outras cidades do estado. Mas já é comum a maioria das doenças serem de problemas respiratórios em qualquer lugar do mundo.
E a força da população serrana nas reclamações sobre o pó preto em tempos de CPI…
A discussão sobre o pó preto tem pouca penetração na sociedade, ela tem que ter debate ainda no campo profissional, na área que discute sobre meio ambiente.
Nos Conselhos de Saúde essa agenda não chegou, ainda está muito distante dos segmentos gerais da população.
E quanto a fumaça das turfas, aumentou os atendimentos na saúde?
Em Pitanga chegou a 30 % de aumento. Nas outras unidades não houve essa percepção. Nas Unidades de Pronto Atendimento de Serra sede e de Carapina o aumento foi de 10%.
Como o senhor avalia a transferência da UTI Neonatal do Dório Silva para Vila Velha?
A gente tem notícia de que não haverá mais a transferência. A mobilização da sociedade, lideranças comunitárias e da própria câmara dos vereadores foi decisiva. Se fosse para lá dificultaria a presença dos familiares dos pacientes, por conta da dificuldade da mobilidade urbana.
Qual é a avaliação desses quatro meses da gestão de Paulo Hartung na Saúde?
O secretário Ricardo de Oliveira tem dito que não vai tratar aspectos da saúde isolados e sim de maneira regional. Ele coloca a diminuição de recursos, ele coloca que não tem recursos e com isso há uma redução. Estamos em uma locomotiva que diminuiu o seu ritmo, mas tem uma ladeira pra subir lá na frente.
Quais os maiores avanços da gestão Audifax na área da saúde e os maiores gargalos?
O maior gargalo são as reclamações sobre a falta de especialistas. Mas estamos melhorando a estrutura das unidades de saúde, dando melhores condições aos usuários e profissionais. Com o Mais Médicos conseguimos ter 80 mil consultas a mais por mês na atenção primária. Mais de 90% dos medicamentos estão sendo fornecidos no prazo e conseguimos expressiva redução da mortalidade infantil e das mortes de idosos.