Por Clarice Poltronieri
Uma comunidade da Serra está passando aperto com a seca. Trata-se de Cidade Nova da Serra, que fica às margens da BR 101 entre Serra Sede e Fundão. É que o córrego Chapada Grande que abastece o bairro secou e a água agora só com caminhão-pipa. Segundo o presidente da associação de moradores do bairro, Fábio Lopes, cerca de 550 famílias convivem com a falta d´água.
“A situação está péssima. Há uns 25 dias, o depósito de água da Cesan é abastecido com caminhão-pipa e depois é distribuído para a comunidade. Mas nos finais de semana e feriados ficamos sem água. No acampamento dos sem terra, perto da comunidade, a situação é ainda pior”, denuncia Fábio.
No acampamento, como não há rede de distribuição, a água não chega. “Crianças vão para a escola sem banho, eles andam quilômetros para lavar as roupas em um córrego e dependem de água da comunidade para cozinhar e beber. Só ontem (14) que conseguimos um caminhão-pipa para eles”, conta Mayara Pissara de Jesus Passos, vice-presidente da associação de moradores.
Um morador do acampamento, Manoel Messias do Carmo, confirma. “Nosso poço principal secou há uns 38 dias. Temos apenas um pequeno que serve para distribuir um pouco de água, mas ainda dependemos da boa vontade dos moradores de Chapada Grande. Tem muita poeira e muita sujeira. São umas 18 famílias no local e está difícil. Usamos a água da louça para dar descarga”, relata.
A assessoria de imprensa da Cesan informou que seis caminhões-pipas, com 10 mil l de água, abastecem a estação diariamente a cada duas horas e que a água segue para as casas passando pelo hidrômetro. Ela afirma, apesar da fala dos moradores, que a distribuição no bairro acontece nos finais de semana e que no acampamento a Cesan tem levado água desde a semana passada.
Abastecimento da Serra cada vez mais ameaçado
Se a situação de Cidade Nova da Serra é dramática, o restante do município não está confortável e o fantasma do desabastecimento é real. É que o rio que abastece a cidade, o Santa Maria, está com a vazão muito baixa com 2,9 mil litros por segundo. A média histórica para outubro é de 8,9 mil litros. Os números são da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh).
O Santa Maria também pode sofrer com a salinização, pois com o pequeno volume de água doce o mar avança rio adentro, fato que já prejudica o rio São Mateus, no norte e que está prestes a comprometer o rio Jucu em Vila Velha.
Segundo o diretor da Agerh, Paulo Paim, o Santa Maria tem água para o abastecimento humano até abril do ano que vem, por conta da água reservada na represa da hidrelétrica de Rio Bonito em Santa Maria de Jetibá. Mas não garante o abastecimento das indústrias até lá, incluindo Vale e Arcelor.
Já a prefeitura da Serra, que chegou a anunciar que multaria quem desperdiçasse o líquido usando mangueiras para lavar fachadas, carros e calçadas, resolveu adiar a medida. “Isso seria em último caso e só depois que a Câmara aprovar o projeto de lei que ainda estamos elaborando”, disse a secretária de Meio Ambiente Andreia Carvalho.
Já o governo do Estado montou um comitê desde o início do ano para acompanhar a crise e vem restringindo a captação de água em diversas regiões do ES para usos que não seja abastecimento humano.