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Segundo ato da tragédia anunciada

Pela segunda vez em menos de um ano, a Serra é pega de surpresa com chuvas cujos volumes de água superaram as mais pessimistas previsões. Só entre o final da tarde até a meia noite da última quinta(30), mais de 300 milímetros de água caíram nas regiões do Civit I e II, Laranjeiras e entorno do Complexo de Tubarão. Em Novo Horizonte, foram registrados assustadores 385 milímetros.

Esse era o volume de chuva esperado para outubro e novembro, dois dos mais chuvosos meses do ano. O que se viu foi novamente catástrofe em cima de catástrofe. Nas chuvas dos últimos dezembro e janeiro, as imagens que ficaram marcadas foram o total alagamento dos polos industriais e logísticos na Rodovia do Contorno, na BR 101; a Lagoa Capuba que ameaçava romper e varrer centenas de casas no bairro Enseada de Jacaraípe; a rodovia ES 010 destruída na altura desse mesmo bairro e o transbordo das lagoas Jacunem e Juara que alagaram Jacaraípe.

Nessa chuva de sete horas que ocorreu na semana passada, as imagens mais desoladoras foram a destruição do Tobogã entre Laranjeiras e Chácara Parreiral, que foi levado pelas águas juntamente com uma casa, uma oficina mecânica e seis veículos; o muro de um condomínio em Jardim Limoeiro que caiu em cima do síndico, tirando-lhe a vida; e a situação dramática que viveram e vivem dezenas de famílias nas margens da Lagoa Pau Brasil, em Hélio Ferraz. O mesmo ocorreu em Taquara, Novo Horizonte e Guaraciaba.

As chuvas de dezembro e janeiro foram mais longas, atingiram um número maior de famílias, mas tudo foi perfeitamente compreendido pela população. Os estragos e os prejuízos sofridos foram creditados à natureza; e ao poder público coube fazer a sua parte, sanando pontos de retenção de água e limpando rios e canais.

As chuvas da fatídica quinta-feira foram mais rápidas e afetaram a parte mais urbanizada da cidade, onde o solo está mais pavimentado e rios e canais mais degradados.

Ao prefeito Audifax, ficou o desgaste com as manifestações dos atingidos, caso dos moradores de José de Anchieta e Hélio Ferraz.

Parcimônia que atrasa a cidade

Se for olhar a parcimônia do poder público para com o uso e ocupação do solo, é fácil de prever que dramas como esses irão acontecer sempre. E devem ser mais frequentes e piores, segundo o relatório da ONU para as mudanças climáticas divulgado na última semana.

As autoridades são burocráticas com as empresas que estão e que querem se instalar na Serra e frouxas com as invasões e ocupações irregulares, principalmente as que ocorrem em áreas de preservação ambiental e em áreas de riscos.

Todos os prefeitos da Serra, desde o falecido Aldary Nunes, fizeram vistas grossas para as invasões. Hoje só não vingam mais as grandes invasões porque os terrenos valorizaram e os donos correm atrás da reintegração; mas invasões de pequenas áreas, próximas das já existentes e dispersas por todo o município, seguem acontecendo.

Como nenhum agente público enfrenta esse problema de frente por conta das reações contrárias e pela comoção social que causaria, um barraco a mais, um barraco a menos é visto como inofensivo, só que ao final do ano são centenas deles levantados e espalhados por vários pontos do município e as consequências são vistas nesses momentos de chuvas torrenciais.

Os prejuízos são compartilhados entre as famílias que perdem tudo, com o poder público que gasta recursos com paliativos e com o cidadão que paga seus impostos e não os vê retornar adequadamente em qualidade de vida.

Ana Paula Bonelli

Moradora da Serra, Ana Paula Bonelli é repórter do Tempo Novo há 25 anos. Atualmente, a jornalista escreve para diversas editorias do portal.

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