Por Yuri Scardini, Conceição Nascimento e Bruno Lyra
Dez meses após deixar o comando do Palácio Anchieta, o ex-governador Renato Casagrande (PSB) divide o tempo entre seu escritório em Vitória e Brasília, onde comanda a Fundação João Mangabeira, ligada a seu partido. Nesta entrevista ele fala da conjuntura do país, das críticas feitas à sua gestão no governo do ES e dos rumos do PSB, em especial na Serra, cujo principal líder, o prefeito Audifax Barcelos, deixou em direção ao recém criado Rede.
O senhor acredita que a presidente Dilma chega até o final do mandato?
A situação nacional é muito grave. Estamos vivendo uma crise que, além da econômica, é politica, ética, energética, de fornecimento de água. É uma crise federativa. A política econômica é recessiva, não resolve o problema do Brasil. Com isso a Dilma vai tendo cada dia mais dificuldade. Se ela não conseguir dar um mínimo de resposta, não irá conseguir sustentar o cargo por muito tempo.
Qual o maior prejuízo neste contexto de crise para o ES?
O estado está preparado para enfrentar esse momento, pois deixamos R$ 2 bilhões em caixa. A maior dificuldade é com os municípios. Vamos terminar o ano com cidades atrasando até salários. Já no meu governo tivemos que ajudar os municípios com fundo de combate à pobreza, assistência social, transporte escolar, saúde. O atual governo cortou essa ajuda e os municípios vêm sofrendo demais.
Mas o governador Paulo Hartung veio a público dizer que o senhor deixou o Estado em situação ruim…
O Tribunal de Contas aprovou minhas contas sem ressalvas. E aí a farsa montada pelo atual governo caiu por terra. O atual governador tem essa prática de não conseguir conviver com quem pensa diferente dele. Ele, que já foi causador de destruição de pessoas no passado, achou que podia me destruir. Só que eu saí respeitado pela população.
Como o senhor avalia esses 09 primeiros meses da gestão Hartung?
O governo está perdendo um ano que não precisava ter perdido. Obras importantes já poderiam ter tido sequência desde janeiro. O governo ainda está parado para me prejudicar politicamente. E a população sofre.
Quais seriam essas obras?
A rodovia Leste – Oeste entre Viana, Cariacica e Vila Velha, que só agora está sendo retomada. Nosso governo já tinha feito as desapropriações, as obras de arte. Não tinha razão para parar. Começamos o Contorno de Jacaraípe, que está parado. Já tínhamos licitado o Contorno do Mestre Álvaro e o atual governo zerou tudo.
Falta uma ação mais enérgica do estado, incluindo aí a gestão do senhor, no combate à violência na Serra?
O atual governo desmontou o programa Estado Presente. Ele tem agora o programa Ocupação Social, que não teve nenhuma ação efetiva ainda. Em 2011, quando assumimos, o efetivo policial na Serra era muito pequeno e nós começamos a colocar mais policiais militares e fortalecer a Polícia Civil. O estado tinha 52,9 homicídios por 100 mil habitantes, entregamos com 39,4. A Serra precisa de uma nova Delegacia em Jacaraípe e mais um batalhão da PM, também em Jacaraípe. Estava no nosso planejamento. Se o governo não fizer esses investimentos, ficará difícil.
Como avalia a condução do estado em relação à crise da água?
Precisamos ser solidários. Tem muita gente sofrendo. Mas deixamos um edital pronto para construir 34 barragens, tinha dinheiro do Fundágua, fizemos uma barragem que está salvando São Roque do Canaã neste momento. Nós fizemos muitos investimentos, principalmente na Serra, com a Cesan, mas se o governo atual não tivesse demorado, as barragens já estariam prontas no ano que vem.
O PSB acabou de perder o prefeito Audifax para a Rede. Mesmo assim pretende caminhar com ele em 2016?
Temos uma aliança com a Rede a nível nacional. Temos um respeito enorme por Marina Silva e um acordo de caminharmos juntos, inclusive nos estados e municípios. Quando o Audifax sai do PSB, automaticamente o pré-candidato é o Bruno Lamas. É um deputado muito competente, dedicado, tem nos orgulhado muito andando o estado e fazendo política de alto nível.
O nome do senhor chegou a ser ventilado para a Prefeitura da Serra em 2016…
Sim. Recebi apelos para disputar a eleição na Serra e meu partido chegou de fato a avaliar. Mas a conclusão que chegamos é que na Serra tem o Bruno. Tem outras relações boas como a com Givaldo (Viera, Deputado Federal) do PT. Decidimos apoiá-los na Serra, e estar junto aos que praticam a nova política.
Renato Casagrande deseja disputar novamente o Governo do Espírito Santo?
É assunto lá para frente, a política não pode ser decidida com muita antecedência. Eu tenho que continuar na política porque não posso deixar que me destruam. Tenho que honrar minhas coisas, minha família, meu legado.
A rivalidade Audifax x Vidigal não está atrapalhando a Serra?
A divisão não é ruim. O que é ruim é a prática da calúnia, ir para a rede social e falar mentira do outro; paralisar obras como o governo do Estado está fazendo só para prejudicar o anterior. Mas acho que essa eleição na Serra pode não ficar só entre Audifax e Vidigal.
O PSB tem perdido vários prefeitos no ES. Há um enfraquecimento em curso?
O partido tem porta de entrada e de saída. Todos os prefeitos do PSB tiveram excelente apoio nosso. Quem tem coerência continua junto com agente, quem não tem procura outro caminho. É uma questão de coragem. É para fazer uma política sincera e não ficar escorregando, e o eleitor sabe identificar quem não tem coragem. Temos de identificar que tipo de pressão o governo está fazendo para tirar os prefeitos do PSB, mas também cobrar de pessoas que tenham postura e coragem para combater isso.
Na assembleia, qual orientação do partido para os deputados?
Orientação de equilíbrio, trabalhar em prol dos interesses da população capixaba. Ninguém orientou em ser a favor ou contra o governo.