Por Yuri Scardini
Segundo dados do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TC-ES), na Serra existem cerca de R$ 130 milhões em obras paradas de responsabilidade da prefeitura da Serra. Entre essa obras estão pavimentação e drenagem; unidade de pronto atendimento; escolas; entre outras. Sem dúvida não é uma realidade apenas do município da Serra.
Muitas prefeituras capixabas, senão todas vêm sofrendo com a dificuldade de manter a agenda da realização das obras previstas. Porém na Serra, a cidade que registrou maior crescimento efetivo nos últimos anos, essa realidade é mais cruel. Além das obras, as cidades começam a ter problemas financeiros graves e o fantasma do colapso fiscal que vive o Rio de Janeiro causa cada vez mais temor.
A Serra tem a maior demanda social do estado, que em épocas de crise fica mais latente. E vem perdendo terreno até mesmo na atração de empresas. Cidades mais pobres e com infraestrutura mais modesta como Cariacica e Viana estão tendo mais êxito neste quesito; Uma concorrência que não existia nos anos 80 e 90, quando o crescimento da Serra consolidou a cidade como a locomotiva econômica do ES.
Há situações específicas que ajudaram a mergulhar a Serra neste cenário preocupante: a paralização da Samarco – diversas fornecedoras da mineradora ficam aqui, o fim do Fundap, a crise econômica internacional e a desaceleração do crescimento econômico da China, que contribuiu para jogar para baixo o preço das commodities que fazem parte da matriz econômica capixaba, principalmente o petróleo. Mais recentemente a saída do centro de distribuição da Petrobrás do polo do TIMS agravou a situação.
Isso visto a curto prazo, é claro. Se for analisar a longo prazo, o buraco pode ser muito mais embaixo, uma vez que estes dinossauros do carbono (mineração/siderurgia e petróleo) estão cada vez mais em xeque com políticas de reciclagem, o apelo da sustentabilidade e do aquecimento global.
Para a locomotiva não quebrar
Apesar do discurso ufanista do Governo do Estado, o Espírito Santo vive dias preocupantes. Tem a seca que se estende por três anos, um duro golpe em nossa agropecuária que é quase toda familiar – exceções feitas ao arranjo produtivo da produção de ovos em Santa Maria de Jetibá e as áreas de cultivo de eucalipto da Fíbria para a produção de celulose.
E no meio dessa crise toda permanecem as graves deficiências de logística, que atrofiam nosso potencial para diversificar a pauta de exportações e importações, dada a posição que o estado tem no litoral Brasileiro. Deficiência essa que atinge em cheio a Serra.
O potencial turístico é subaproveitado. Tanto pela degradação ambiental de nossas principais praias, quanto pela ausência de uma política consistente de apoio ao setor. Boa parte de nosso turismo de verão continua com baixo gasto per capta e pressão inversamente proporcional sobre a deficiente infraestrutura das mesmas. Nas montanhas, Pedra Azul é uma exceção.
Quando se olha a economia sob tal perspectiva, a questão das obras públicas na Serra parece o menor dos problemas que a cidade irá enfrentar. A Serra precisa de uma nova âncora de economia, capaz de dinamizar a vinda de investimentos mais sofisticados e sustentáveis. Mira-se em um aeroporto internacional de cargas entre Jacaraípe e Nova Almeida, um porto em Carapebus e o polo tecnológico na Rodovia do Contorno são projetos arrojados que o poder público ainda não deu a atenção necessária. Talvez por não saber ao certo como começar, esbarrando sempre em questões políticas e econômicas.
Enquanto isso, o poder público municipal se resume a gestor da imensa e cada vez maior demanda social, conta que vai estourar em breve se o rumo não for corrigido. Este é o grande desafio para que a locomotiva econômica capixaba volte a puxar o crescimento do estado.