Com a pandemia do novo coronavírus, muitas empresas e profissionais tiveram que adotar emergencialmente o sistema de home office. Outrossim, as escolas tiveram que seguir o mesmo modelo de trabalho para dar continuidade ao processo de aprendizagem. Embora separados fisicamente, os profissionais da educação tiveram que se reinventar para transmitir o conhecimento de forma efetiva e para que o vínculo entre aluno e escola não se perdesse. Essa decisão significou enfrentar desafios e ressignificar a formação docente.
Sem treinamentos para o uso das tecnologias digitais, sem recursos, pois muitos profissionais não possuíam computador e internet e em um curto período de tempo, os professores tiveram que viabilizar os instrumentos de trabalho, aprender a utilizar o Google Classroom, gravar aulas pelo Youtube, além de dominar outros aplicativos de reuniões online, tudo para oferecer conteúdo de qualidade aos alunos.
Talvez nem seja preciso mencionar o fato de que o ensino remoto têm demandado um esforço imenso por parte dos professores que buscam com os poucos recursos que possuem, aprender sobre o mundo digital e se empenhar para ensinar os estudantes da melhor forma o possível.
Antes da pandemia, os professores podiam se dedicar ao preparo das aulas nos horários de planejamento, o que exigia reflexão e bastante cuidado. Atualmente, passamos muito mais tempo em frente ao computador preparando aulas remotas, de segunda a segunda, criando tarefas, corrigindo exercícios, esclarecendo dúvidas, preocupando-se com alunos que porventura estão passando por necessidades financeiras e que estão perdendo familiares para a doença, cumprindo com as muitas questões burocráticas, desnecessárias, descabidas e cuidando para que nenhum aluno se perca durante o período da suspensão das aulas presenciais.
Foi necessário repensar a questão da carga horária, readequação dos conteúdos, na reorganização do ano letivo, mas o capital humano e intelectual das instituições escolares foi e está sendo negligenciado. A comunidade escolar não está sendo ouvida!
Sobrecarregados pelo ensino remoto, a saúde emocional dos professores têm sido abalada. A grande carga de responsabilidade somada às cobranças, juntamente com a rotina familiar que acabou adentrando no homme office colaboram para o adoecimento desses profissionais. Estamos perdendo colegas de trabalho pelo novo coronavírus, temos professores que são do grupo de risco e lecionam em duas ou mais escolas em municípios diferentes, além de dependerem do transporte público. Também possuímos família que estão no grupo de risco e em alguns momentos somos surpreendidos com a notícia da perda de um familiar, de um vizinho, ou de um conhecido.
Não se pode pensar num retorno às aulas sem um efetivo controle da pandemia. O bom senso e as orientações da comunidade científica devem ser respeitadas e prevalecer. Mesmo que hajam protocolos rígidos de segurança e que todos se empenhem para o seu cumprimento, existe uma impossibilidade no controle dos alunos que utilizam transporte público e que descumprem o isolamento social. Quando uma pessoa viola o isolamento social, ela assume os riscos de se contaminar. A questão é que se contaminados, eles podem levar o vírus para dentro de casa, contaminando familiares e na escola contaminando seus pares e os profissionais da educação. O governo não pode institucionalizar de forma leviana o risco de contágio.
Retomar às aulas presenciais num momento como esse, sem vacina, abrindo brechas para o fim do isolamento social representa colocar em risco a vida de milhões de estudantes, profissionais da educação e seus familiares. Será um genocídio!
O texto acima é de autoria das professoras da Serra: Ana Silva e Gabriela Siqueira
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