Por Bruno Lyra
A frente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento desde o início dessa 3ª gestão de Paulo Hartung, José Eduardo de Azevedo analisa os rumos do crescimento do estado e as possibilidade de investimentos neste momento de crise. Avalia também a situação da Serra neste contexto, onde foi secretário de governo até o final de 2014.
Como a crise o desenvolvimento do Estado?
Vivemos um momento muito grave na economia do país. A projeção do PIB brasileiro é negativa e a crise pode levar de 4 a 5 anos para passar. O principal efeito no ES é a suspensão de cerca de 1/3 dos investimentos previstos para os próximos 4 anos, principalmente petróleo e gás. Exemplo do complexo gás químico de Linhares. Outro é do fábrica de chassis de caminhão Liberato, também prevista para o norte do ES.
Quais as medidas do governo para não perder mais investimentos neste contexto?
Primeiro devemos fazer o dever de casa, organizando as contas, ajustando despesas, e direcionando os investimentos mais importantes para o estado. Reduzimos investimentos, mas mantivemos os mais importantes. A rodovia Leste-Oeste, que vai ajudar no Porto de Capuaba em Vila Velha e o Contorno do Mestre Álvaro, que ajudará no crescimento da Serra. Mesmo não tendo muitas expectativas de investimentos em novas plantas, só em investimento em melhorias operacionais, nos vamos ter aí 5 bilhões nos próximos quatro anos.
O contorno do Mestre Álvaro vai realmente começar esse ano? Quanto o governo tem para a obra?
Sim, acompanhamos de perto o projeto que tem recursos federais. Ele está licitado e temos expectativa que comece esse ano ainda. A obra é orçada em torno de R$ 300 milhões, mas para esse ano temos R$ 50 milhões, para desapropriação e terraplanagem.
Qual o impacto da unificação do ICMS para o ES?
O ES foi penalizado no passado com a reforma da Lei Kandir, o fim do Fundap e a mudança na distribuição dos Royalties do Petróleo. São experiências negativas não podemos ser penalizados de novo. Dependemos muito da arrecadação do ICMS. É preciso medidas compensatórias que permitam fazer uma transição sem perdas significativas e continuar competitivo.
Como garantir água para os empreendimentos que já estão aqui e os que virão?
Estamos criando políticas junto à Agência de Água, secretarias de Meio Ambiente e Agricultura. O governo já trabalha para recuperar os rios com reflorestamento, promover o uso consciente da água por todos os setores, em casa, no setor do agronegócio, com mais eficiência na agricultura, gastar menos. Esses investimentos são oportunidades para novas tecnologias. O governo também se prepara para viabilizar outras energéticas, como solar e eólica.
O norte do ES está Sudene. Isso não gera uma concorrência desigual com os demais municípios?
É uma condição diferente que tem sido importante para algumas empresas e que cria uma atratividade especial para a região. Mas é melhor ter o norte do estado na Sudene do que não ter nada, pois ajuda nossa economia.
Os novos projetos portuários no ES não podem derrubar o turismo de lazer no litoral como já aconteceu na Serra?
Os portos geram turismo de negócios, que hoje para o ES gera mais renda. Mas temos de ter essa preocupação. Os portos impactam o ambiente, mas é possível administrar isso. Todos os projetos portuários passam por licenciamento ambiental. Temos projetos no sul do estado, um em Itapemirim outro em Presidente Kenedy. Todos com áreas adequadas. No norte temos o Petro City, em fase inicial em São Mateus. Ampliação do Portocel, que será um terminal multiuso. Tem Imetame e o estaleiro Jurong. O de Manabi, em Linhares, é o que tem levantado mais questionamentos. E com a dragagem, 70% dos navios vão poder operar no Porto de Vitória. E temos o Porto de Tubarão que pode ser uma opção para águas profundas, assim como o Portocel.
A Serra sonha em ter uma área offshore na perspectiva de uma diversificação do terminal de Praia Mole. É viável?
É uma possibilidade que tem que ser estudada. É preciso melhorar a situação de contêiner. Tubarão tem uma adequação mais fácil. Porém uma área em Carapebus merece um melhor estudo.
Acabou o ciclo de grandes projetos comandados pelo Estado, como foi a Vale e CST?
Hoje o setor privado é a grande locomotiva da economia. O Brasil vai fazer essa transição e vivemos um momento que precisamos rever a legislação. É preciso melhorar os gargalos nas estradas, ferrovias, e o setor privado têm de estruturar isso. Não vamos fazer um porto grande de novo com dinheiro público, temos que construir os caminhos para que o privado entre com os projetos e coloque dinheiro.
Você vê como justa a concessão da BR-101?
Estamos evoluindo e melhorando. Dentro do modelo de negócios, é melhor como está mesmo ainda não sendo perfeito. Muita gente critica São Paulo, por ter muitos pedágios caros, mas as obras são feitas mais rápidas.
Como o senhor vê o papel da Serra no desenvolvimento do ES?
Não tenho dúvida de que a Serra continua sendo a grande locomotiva de crescimento do ES. Tem um parque industrial que está se modernizando, tem crescido serviço e comércio, área de metalmecânica, está consolidando um polo de serviço hospitalar e área de logística. E será polo comercial e de prestação de serviços, com novos shoppings, hipermercados.
Dá para ter perspectiva de um aeroporto internacional de cargas no município?
Nossa preocupação é concentrar a solução no aeroporto de Vitória que terá também o terminal de carga. Ele serve a toda Grande Vitória. Nesse momento de crise é difícil investimento desse tipo na Serra a em curto prazo.