O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado nas últimas semanas, aponta uma significativa queda da Serra no ranking estadual da qualidade educacional de alfabetização. O Município não registrou nenhum aumento no índice das séries iniciais, pelo contrário, ficou estagnado, não conseguiu crescer juntamente com as outras cidades capixabas e desceu 10 colocações. No entanto, nas séries finais, a Educação teve um leve aumento. Para professores e moradores, o principal motivo para essa má notícia é a falta de investimento por parte da Prefeitura da Serra, que nega as acusações.
De acordo com os dados apurados pela reportagem do TEMPO NOVO, em 2017 a Serra se encontrava na 56ª posição do ranking da qualidade educacional de cidades capixabas, isso referente as séries iniciais – onde ocorre a alfabetização do ensino fundamental. Agora, em 2020, a Secretaria Municipal de Educação desceu para a 66ª colocação. Essa lista é divulgada pelo Ideb – programa do Governo Federal que mede a qualidade do ensino nas escolas públicas. Apesar da queda na posição, a cidade conseguiu manter a pontuação de 2017: 5,6.
Também foi constatado que a Serra não conseguiu bater a meta definida pelo Ideb no ano passado, que era de 5,7 para as séries iniciais. Os dados preocupam já que é nesses anos que as crianças recebem a maior parte da sua alfabetização. Na prática, os estudantes dessas séries aprendem a ler, escrever, somar e outras matérias básicas para a vida estudantil desses alunos. Para professores e moradores da Serra ouvidos pela reportagem, a queda demonstra falta de investimento da Prefeitura da Serra na área educacional, além da desvalorização dos profissionais da Educação.
Os professores pediram para não serem identificados por medo de represálias. Um deles afirmou que entre os problemas que podem ocasionar essa baixa estão: a não valorização do professor, baixa remuneração, condições de trabalho precárias e falta constante de material didático. “Não somos valorizados e isso gera uma crise entre a categoria, além disso temos uma péssima estrutura na maioria das unidades escolares e faltam livros para as crianças. Tudo isso se junta e gera essa queda”, afirmou o profissional.
Outra professora também fez reclamações parecidas. “A prefeitura acaba acreditando que construir escola é o suficiente, mas do que adianta ter uma escola linda se falta materiais e livros? A estrutura da escola é essencial, mas também precisamos de muito mais do que cimento para conseguir oferecer um bom conteúdo aos alunos. Por fim, acho que isso tenha uma boa parcela de culpa nesse não crescimento do índice do Ideb”, disse a docente que também reclamou da carga horária exaustiva.
Já uma outra moradora da Serra que também é professora afirmou que a falta de contato entre a família e as escolas também tem culpa. “Eu acredito que seja pela falta de comunicação entre a família e a escola, pois na maioria das vezes a escola como instituição deveria deixar claro o papel da família na educação. Percebo que muitos responsáveis acreditam que a escola é a única responsável pela educação das crianças, então precisamos (enquanto profissionais da educação) relembrar os direitos das crianças e o dever da família”, destacou.
O Ideb não trouxe apenas notícias ruins para a Serra. Segundo o levantamento, a cidade teve um leve crescimento, em comparação a 2017, no ano de 2019. A Secretaria de Educação possuía uma nota de 4,0 e agora está com 4,4. Além disso, o Município subiu quatro colocações: estava em 58ª e agora está na posição 55ª. Mesmo assim, a cidade também não bateu a meta definida pelo Governo Federal para os anos finais do ensino fundamental.
A reportagem entrevistou a Subsecretária de Gestão e Recursos Humanos da Secretaria de Educação da Serra, Simone Spada. Ela foi questionada sobre a possível falta de investimento do Município, mas negou as acusações e disse que a Prefeitura da Serra fornece todos os materiais didáticos, inclusive livros, além de sempre investir na Educação. Simone também comemorou o crescimento na pontuação das séries finais e disse que a evasão escolar e reprovações são os fatores “culpados” da queda no ranking de séries iniciais.
“Eu acredito que investimento a secretaria tem feito sim. O Município tem investido na compra de equipamentos para as escolas, como computadores, livros. Nós também damos extensão de carga horária para os professores para eles trabalharem projetos e formação continuada. Todo investimento está sendo feito, mas para mim o maior ponto que interfere nesse resultado é a questão de migração e de reprovação desses alunos nos anos finais. São alunos que chegam sem saber ler e escrever”, afirmou.
E continuou: “A gente sempre trabalha em prol disso (medidas para aumentar o índice), mas como este ano é de transição, a gente espera trabalhar para que cada ano a gente possa melhorar esse resultado. Mas com a pandemia e suspensão das aulas, a previsão é que abaixe ainda mais”, finalizou a subsecretária.
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