No início de março a cidade aderiu a agenda estadual para ampliar atendimento às mulheres vítimas de violência e ameaçadas. A secretária Municipal de Políticas Públicas para Mulher (Seppom), Gracimeri Gaviorno detalha, neste terceiro bloco (veja o primeiro e o segundo nos respectivos links) da entrevista concedida ao Tempo Novo no último dia 17, uma das ações previstas nesta agenda.
No início de março o município criou incentivo para empresas que empregam mulheres ameaçadas de morte por seus companheiros e que precisaram sair de casa. Como é isso?
O prefeito assinou a intenção da Agenda Mulher do governo do Estado, promovido pelo gabinete da vice-governadora, para intensificar os serviços no ES no atendimento às nossas mulheres. Criou, no dia 08 de março, um selo social chamado ‘Conta Comigo’, concedido à empresas que acolhem nos postos de trabalho mulheres que sofreram violência e precisaram deixar seus lares. E a mulher quando está nessa situação de deixar o lar, precisa trabalhar. E existe muito preconceito dentro das empresas.
A Seppom ajuda no encaminhamento dessas mulheres ao mercado de trabalho?
A gente ajuda. E esse é objetivo do selo. A empresa se cadastra no Sine e diz ‘eu quero x vagas ou essa vaga para mulher vítima de violência’. Aí nós encaminhamos essa mulher através nosso serviço de atendimento psicossocial. Para a empresa, fica nosso reconhecimento moral por sua responsabilidade social ao promover a autonomia da mulher.
A cidade também manifestou interesse em aderir a pacto global da ONU onde estão previstas ações para reduzir desigualdade de gênero….
Isso. Assim o município se compromete a efetivar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Há um decreto municipal referendando isso e a gente está fazendo articulação entre as secretarias. Entre esses objetivos, faço o recorte do ODS 5, que é a promoção da igualdade de gênero, do enfrentamento da violência.
Como a senhora avalia o machismo? A sociedade caminha para superá-lo?
As pessoas compreendem de forma errada o machismo e quando isso acontece a gente reage a uma coisa que não deveria reagir. O machismo é perverso para homens e mulheres. Coloca o homem num lugar que nem ele quer. Ele nasce e a sociedade fala pra ele você não pode chorar, tem que ser o provedor da casa, tem que ser o super-herói da mãe, do pai, da irmã, da filha, da esposa. E isso vem dessa estrutura. Como estava no código civil até pouco tempo: o homem é o provedor da casa. O homem deixaria de ser homem se ficasse desempregado. Penaliza e desumaniza o homem. E também a mulher, pois isso deixa o homem agressivo.
O que fazer para combater isso?
A gente só muda isso com muita educação, pois se o mundo diz que o homem manda e a mulher deve ser subjugada, não podendo estudar, trabalhar, administrar os bens, não pode escolher a roupa que vai se vestir, ela vai ser violada. A violência vai sendo legitimada pela estrutura do machismo. Essa mesma sociedade que diz meu filho é macho, meu filho não chora, diz pra ele que precisa ser sensível, parceiro da sua esposa. Então homens e mulheres ficam perdidos. Isso precisa ser desconstruído. Nós somos seres humanos e deveríamos estar aqui em condições iguais, cuidando uns dos outros. Homens e mulheres são vítimas do machismo.