Em meio à pandemia causada pelo coronavírus, outras doenças também continuam preocupando e adoecendo a população capixaba. É o caso da chikungunya, que cresceu disparadamente na Serra e só este ano já infetou mais de mil moradores. Segundo especialista, o município, assim como outros da Grande Vitória, sofre um grande e preocupante surto da doença, que é séria e pode deixar sequelas por toda a vida de quem é contaminado. O aumento de casos, em comparação ao ano passado, é de 1.118%.
Segundo um levantamento realizado pelo TEMPO NOVO, até o dia 16 de outubro de 2019, eram 88 casos de chikungunya na Serra. Este ano, no mesmo período, a doença já infectou 1.072 pessoas que residem na cidade. Outro dado que também confirma o surto que a cidade está vivendo é que, até abril deste ano, haviam sido 364 infecções. Após isso, em seis meses, a cidade confirmou 708 novos casos e ultrapassou os mil contaminados.
Rubia Miossi, médica infectologista da Unimed, conversou com a reportagem e confirmou que toda a Grande Vitória, inclusive a Serra, enfrenta um surto da doença, mas segundo a especialista isso ocorre há meses. Ela ainda alertou sobre os perigos da doença, que causa sofrimento por um longo período para suas vítimas. Ainda segundo ela, a melhor prevenção é combater o Aedes aegypti.
“Na verdade, o Espírito Santo está vivendo um surto de chikungunya desde maio. Nós tivemos muitos casos agrupados em Vitória, Vila Velha e Serra. É um problema da Grande Vitória. São muitos casos. Em abril, meu consultório estava funcionando normal, mas não atendia coronavírus, e eu atendia chikungunya todos os dias. Eram uns cinco casos por semana. Se no consultório particular atende isso tudo por semana, nos pronto atendimento (público) era para ter muito mais. Só que as pessoas procuraram menos com medo da pandemia.”
Rubia também falou um pouco sobre os sintomas e tratamento da doença. “Sintomas são febre e dor articular e parece um caso de dengue inicialmente, mas a dor nas articulações é muito importante. Pode vir acompanhada de inchaço nas articulações, que é o edema. O tratamento desta doença deve ser feito com reumatologista, que vai acompanhar para saber se a artrite causada por essa doença não vai ficar pra sempre, pois tem esse risco: sequelas com problemas sérios por toda a vida”, disse.
Por fim, Rubia disse que moradores de comunidades onde mais possuem casos dessa doença, podem se cuidar utilizando repelente. “É fundamental. Tem que reaplicar o repelente conforme o fabricante orienta, dentro do prazo, que na maioria diz de duas em duas horas. As pessoas acabam esquecendo isso. Passam o produto e acham que nunca mais precisam usar de novo. Usando corretamente é um bom aliado.”
Quem enfrenta os sintomas da doença até hoje é Márcia Pimenta, moradora de Parque Residencial Laranjeiras. Ela foi infectada há mais de seis meses, mas continua sentindo os impactos. “A chikungunya não é como a dengue, ela te desmonta, pés inchados, mãos inchadas, fiquei muito de cama. Eu mantenho o meu quintal limpo, a gente sabe que o mosquito existe e temos que cuidar. Mas todos os moradores precisam se unir e enfrentar”, disse à reportagem.
Prefeitura tenta esconder dados de doenças do Aedes aegypti
Vale lembrar, que conforme havia sido noticiado, a Prefeitura da Serra não estava divulgando os dados solicitados pela reportagem há duas semanas. Nesta semana, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesa) enviou as informações. Inclusive, a tentativa de esconder os dados foi denunciada numa matéria publicada no último dia 9 deste mês. Na ocasião, os moradores questionavam sobre a falta de carro fumacê e apresentava queixas contra a administração municipal.
Na última quinta-feira (15), a prefeitura enviou uma nota onde afirma que “vem desenvolvendo ações de educação e mobilização sociais intensas junto às comunidades com o objetivo de alertar e orientar sobre a limpeza de quintais e casas visando eliminar focos do mosquito. São realizadas ações de aplicação de larvicidas nos quintais, valões, terrenos e pontos viciados, além do carro fumacê e o uso de bombas costais. Temos também o disque dengue que recebe denúncias (telefone 3228-5394).”