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Mestre Álvaro
Yuri Scardini é autor do livro 'Serra: a história de uma cidade' e escreve sobre política e economia

Serra supera previsão e bate recorde de arrecadação, atingindo R$ 3 bilhões em 2024

Divulgação Secom/PMS

A Prefeitura da Serra bateu um recorde de arrecadação em 2024, atingindo R$ 3,07 bilhões, segundo o Tribunal de Contas do ES. Esse número é absolutamente surpreendente e reflete, sobretudo, o aquecimento da economia local, uma vez que a arrecadação está diretamente ligada à movimentação de capital no município. Para dimensionar esse crescimento, a arrecadação da Prefeitura da Serra aumentou 99,35% entre 2020 e 2024, ou seja, em cinco anos de exercício fiscal, o orçamento municipal praticamente dobrou, um fenômeno pouco visto no poder público.

Todas as principais fontes de receita registraram aumento na arrecadação. O ISS, por exemplo, que é um tributo municipal incidente sobre a prestação de serviços, atingiu R$ 427 milhões em 2024, representando um crescimento de 22,35% em relação a 2023 e de 129,57% em relação a 2020.

O ICMS continua sendo a principal fonte de receita na composição global do orçamento. Apesar de ser um tributo estadual, que incide sobre a venda de produtos e a prestação de determinados serviços, uma parcela do valor arrecadado é distribuída entre os municípios com base em critérios como população e atividade econômica. A Serra recebeu a maior fatia do estado, arrecadando R$ 609 milhões em 2024, um aumento de 7,41% em relação a 2023 e de 82,34% em comparação a 2020. Ambos os tributos refletem diretamente o crescimento e a movimentação econômica do município.

No rateio da arrecadação dos R$ 3 bilhões referentes a 2024, 33% tiveram origem em receitas próprias, como o ISS, já citado, além de outras fontes, como ITBI e IPTU. As transferências do Estado representaram 26% da arrecadação, incluindo ICMS, IPVA, convênios e recursos do petróleo. Em seguida, vieram as transferências da União (11%), as operações de crédito (10%) e outras transferências.

Todo esse volume de arrecadação faz da Serra a segunda maior cidade capixaba em orçamento, ficando atrás apenas de Vitória. O crescimento do orçamento é um indicador fundamental para a saúde financeira do município, especialmente porque, ao contrário de Vitória, onde o crescimento populacional está praticamente estagnado, na Serra a tendência é exatamente oposta.

Nos últimos 10 anos, a cidade ganhou aproximadamente 100 mil habitantes. Segundo estimativas do IBGE, a Serra atingiu 572 mil habitantes em 2024, consolidando-se, de longe, como o município mais populoso do Espírito Santo. Na verdade, o crescimento populacional da Serra é um processo incessante desde 1960 quando se iniciou o período industrial do município. 

Além do grande volume de habitantes, o perfil demográfico da cidade se caracteriza por uma alta proporção de pessoas de baixa renda, o que aumenta constantemente a demanda por serviços públicos, como educação e saúde. A pressão por novas vagas em escolas e pelo fortalecimento da rede pública de atendimento médico reflete esse cenário.

Essa realidade difere de Vitória, por exemplo, que possui uma das maiores rendas per capita do país. Enquanto a capital não enfrenta o mesmo nível de crescimento populacional e demanda por serviços, a Serra precisa continuar expandindo seu orçamento para atender sua crescente população e as necessidades associadas a ela.

A cidade tem uma forte dependência do setor industrial, especialmente das atividades ligadas à ArcelorMittal, a maior empresa sediada em território serrano. Nos últimos anos, a siderúrgica seguiu ampliando suas operações, embora tenha enfrentado desafios para competir com produtos chineses, que chegam ao mercado subsidiados pelo governo da China. A ArcelorMittal movimenta uma extensa cadeia de serviços e produtos, impulsionando uma das principais atividades econômicas do município: a metal-mecânica.

Além das indústrias, outra atividade de grande relevância na Serra é a logística, um dos maiores setores pagadores de ISS. Para fortalecer ainda mais esse segmento e atrair novas empresas, o município tem investido significativamente em obras de infraestrutura viária, ampliando sua capacidade de circulação e, consequentemente, estimulando a arrecadação municipal. Entre os principais projetos estão o Contorno do Mestre Álvaro, o Binário da Norte-Sul, a revitalização da Talma Rodrigues, a nova Rotatória do Ó e o Sistema Viário Sérgio Rogério de Castro (Civit I). Esses investimentos, realizados em parceria entre os governos municipal, estadual e federal, têm como objetivo consolidar a Serra como um dos maiores corredores logísticos do Brasil.

As perspectivas para o futuro seguem positivas, com novos investimentos a caminho. Entre eles, destaca-se o Contorno de Jacaraípe, que criará um corredor a oeste do balneário, com potencial de se tornar uma retroárea estratégica para as operações portuárias de Aracruz. Além disso, iniciativas como a municipalização do trecho da BR-101 entre Serra Sede e Carapina prometem dar uma nova utilidade a uma rodovia que, por anos, esteve sucateada e subutilizada sob a gestão do Governo Federal.

A abertura e a melhoria de estradas, somadas ao maior controle fiscal da Prefeitura, têm refletido positivamente no orçamento municipal. É desse montante que saem os recursos para administrar uma das cidades mais complexas do país. Embora os R$ 3,07 bilhões arrecadados em 2024 representem um valor gordo em uma perspectiva global, quando analisados sob a ótica proporcional, a Serra deixa de figurar entre as cidades mais ricas e passa a ser uma das mais pobres.

Isso ocorre porque, no ranking de arrecadação per capita, a Serra ocupa a 68ª posição entre os 78 municípios do Espírito Santo. Ou seja, apesar do alto volume de arrecadação, o grande contingente populacional dilui os recursos disponíveis por habitante, impactando diretamente a distribuição e a qualidade dos serviços públicos. Eis o motivo que valida a comemoração pelo crescimento contínuo da arrecadação municipal, pois se bem gerenciado, é o que faz da Serra a grande cidade capixaba que é.

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