Igor Elson foi eleito vereador da Serra em 2020 pelo Podemos, com 2.151 votos. Esse resultado veio após uma trajetória de serviços prestados no munícipio, tanto como assessor direto do ex-prefeito Audifax Barcelos, quanto nos anos em que ocupou a secretaria adjunta de Defesa Social e a titularidade da secretaria de Serviços.
Nessa entrevista, Igor conta um pouco de sua vida, fala do episódio em que levou Audifax ‘praticamente morto’ para o hospital; faz defesa por investimentos na Guarda Municipal da Serra; e alerta sobre uma dislexia que tende a atingir cada vez mais crianças: o autismo.
Pode contar um pouco da sua trajetória na Serra?
Tenho 41 anos, sou casado com a Elisângela, tenho duas filhas: Lorena, com 14 anos e Milena, com 17 anos. Morei em Serra Dourada II até os sete anos de idade, mas como minha mãe trabalhava no Hospital das Clínicas, em Maruípe e naquela época não tinha Transcol, fomos morar mais perto do trabalho.
E quando você volta a residir na Serra?
Nunca perdi o convívio com a Serra, amigos, igreja; sou membro da Maranata há mais de duas décadas… Mas aos 22 anos voltei a morar aqui, foram 12 anos em Jardim Tropical; e agora estou em Vista do Mestre. Tive a oportunidade de trabalhar na gestão passada (2º e 3º mandato do ex-prefeito Audifax Barcelos) como assessor direto do prefeito e depois na gestão.
“Havia perdido o meu pai quatro meses antes e agora estava perdendo o amigo”
Falando de Audifax, como foram os bastidores daquele episódio em 2016 do qual o ex-prefeito esteve com risco de vida?
Sim, ele estava praticamente morto com um choque séptico. Era uma sexta-feira; visitamos algumas obras; mas ele não estava bem. Deixei ele em casa para almoçar e 13h30 fiquei de retornar. Estranhei que às 13h45 ainda não tinha me ligado; entrei em contato com a secretária dele, que me informou que não estava muito bem. Depois de 10 minutos ela me retornou pedindo ajuda.
Estava consciente?
Suando barbaridade e delirando. Imediatamente, quis levá-lo para o hospital, mas ele não deixou. Mas percebi que o prefeito não estava bem e que eu precisava fazer uma intervenção; teimei e forcei ele ir. Enquanto eu o levava ele apresentava confusão mental. Por volta de 14h30 chegamos lá, ele estabilizou na sala de repouso e não havia a ideia de internação.
Então naquele momento ainda não se sabia a gravidade da doença?
Zero… As coisas começaram a piorar às 19h, ele internou para o CTI, fiquei até 1h da manhã. Às 5h da manhã o infectologista informou que ele estava entubado e muito mal. Audifax teve risco iminente de morte, entre sexta e sábado (dias 12 e 13/agosto de 2016) começaram a parar os órgãos; infecção generalizada e nisso havia muitas especulações. Para mim, foi um abalo muito grande porque eu havia perdido o meu pai quatro meses antes e agora estava perdendo o amigo. Por um milagre de Deus, os médicos jogaram uma bomba de antibióticos e remédios, e as coisas foram evoluindo depois de uma semana.
Após a reeleição do ex-prefeito Audifax, você passou a ter um papel mais protagonista na administração…
Entrei na gestão em 2017, na Secretaria Adjunta de Segurança Pública Municipal. Pegamos a greve da Polícia Militar; foi intenso porque nós implantamos a Guarda Municipal naquele turbilhão. Os agentes foram verdadeiros heróis. Não tem preço o que eles fizeram com poucos operadores de segurança pública na rua. E fomos para a rua com eles, aprendi muito, fizemos diversas operações com a Guarda Municipal: cumprimento de mandado, fiscalização, alvo monitorado pela P2, operações integradas.
Alguma dessas operações te marcou mais?
Chegamos ao Bairro das Laranjeiras para verificar uma denúncia de tráfico de drogas, falta de alvará e som irregular em um bar. Nós pegamos pessoas com drogas, traficando, usando; mas crianças de dois, três anos do lado, convivendo com esse ambiente. Isso me deu um choque muito grande, ainda mais pela vertente cristã. O que essas crianças vão ser?
O que é preciso para que tenhamos uma guarda mais estruturada? O que você defende para essa instituição?
Não tem condições de um guarda combater crime e ganhar R$ 1.500 por mês; tem que melhorar. Além disso, precisa de investimento, sou a favor de viaturas blindadas e já protocolei pedido para troca do armamento, de pistola 838-Taurus para Pistolas Glocks Austríacas, consideradas infalíveis. Protocolei também o Complexo de Defesa Social, que é um local humanizado e integrado. O vídeo-monitoramento; a Defesa Civil, com os barcos, motos e carros; os agentes de trânsito e a Guarda Municipal. Não estou colocando culpa na gestão atual e nem na passada; estou olhando para frente; fazendo minha parte.
“Não tem condições de um guarda combater crime e ganhar R$ 1.500 por mês”
E como você na condição de vereador pode auxiliar nisso?
Conversei com o senador Marcos do Val, que do meu partido, o Podemos, ele tem uma vivência na segurança pública. O senador vai ajudar na captação de recursos e colocar emenda para a Guarda Municipal. Quero conversar isso com os deputados federais e estaduais. Resolvendo e melhorando a vida deles estou satisfeito.
O que fazer de curto prazo para diminuir os crimes na Serra?
Temos o lado cristão, o lado social, de acreditar nas pessoas… Mas o crime não se combate com rosas; se combate com estratégias. Eu acho que o cerco eletrônico é fundamental. Porque a câmera é ligada a um banco de dados. Então se ela está no alerta sobre algum crime, aquela câmara capta e faz um cerco para pegar os bandidos. É 95% mais fácil de você ir atrás e achar um veículo roubado, por exemplo.
E como foi sua experiência como secretário de Serviços?
A Secretaria de Serviços precisaria ter no mínimo, o dobro da estrutura que ela tem. É uma mini-prefeitura; questão de lixo, capina, roçada, tapa-buraco, iluminação. A Serra tem 522 mil pessoas; 129 bairros; com nove equipes de 15 homens você não consegue roçar um bairro. Então é uma secretária que precisa ser modernizada. Além do desafio de limpar uma cidade tão grande e populosa, com recursos limitados, ainda ajudamos em momentos importantes, como a luta para apagar os incêndios das turfas.
“Temos 534 crianças laudadas com autismo, e mais três mil que não sabem que têm”
Como legislador, representante da população na Câmara da Serra, quais são suas bandeiras de luta?
Estou levantando a bandeira da questão do autismo. Tem estudos que indicam que daqui a algumas décadas, a cada duas crianças que nascerem uma será autista. E isso me deixou sem dormir no dia que eu soube; porque está muito próximo.
Existem dados de quantos autistas residem na Serra?
Temos 534 crianças laudadas com autismo, na Secretaria de Educação, e mais três mil que não sabem que têm autismo, estatisticamente falando. É uma dislexia; existem graus do autismo e elas têm hiper-focos, depende do grau da criança. Estou tentando junto ao município para liberar um espaço da prefeitura para que abra o Centro de Referência dos Autistas da Serra, que inclsuive vai ajudar com os diagnósticos; Temos que nós preparar.
Atualmente seria a melhor forma de lidar com esse público, em relação ao ensino?
Não temos políticas públicas eficazes para melhorar a vida delas. Estamos brigando por isso. É uma dislexia que precisa fazer adaptações; não é simplesmente deixar um estagiário na sala de aula; precisamos de profissionais que conheçam sobre autismo; ele tem que ser capacitado. Temos também nossa preocupação em relação ao síndrome de down, libras, surdos, cegos e mudos. Precisamos evoluir paras as salas sensoriais e educação inclusiva.
Existem projetos de criar escolas públicas voltadas para crianças com autismo?
Nós temos a questão da AMAES, que é a Associação das Mães dos Autistas do Espírito Santo; uma associação muito séria, coordenada pela Poliana Paraguassu e a Heloísa, que são duas leoas. Na Serra temos 141 escolas; nós não temos nenhuma escola voltada para isso. Atualmente o autismo é uma caixinha dentro da Apae, que tem muito foco muito na questão do down; sabemos das limitações de recursos, a instituição faz o que é possível.