Por Clarice Poltronieri
O quadro Adoração dos Reis Magos, que fica na Igreja dos Reis Magos em Nova Almeida não é só a pintura a óleo sobre painel de madeira mais antiga do Brasil. A obra pode ser um dos únicos exemplares remanescentes do trabalho do pintor jesuíta Belchior Paulo.
Segundo o coordenador cultural da Igreja do Reis Magos, Alci Barroso Rangel, a obra retornou do Núcleo de Restauração da Ufes, há quase dois anos. “A pintura ficou quase quatro anos em restauração e é um dos atrativos do sítio histórico da igreja”, observa.
O pintor, restaurador e ativista cultural capixaba, Kleber Galveas, disse que a autoria e a data de produção da obra foram descobertos na década de 1940 quando houve a primeira restauração do quadro pelas mãos de Edson Motta, no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
“O quadro foi pintado pelo padre jesuíta Belchior Paulo, que veio ao Brasil no final do século XVI para decorar as igrejas. Antes de vir para o Espírito Santo, Belchior passou por Recife e Salvador. Depois esteve no Rio de Janeiro e São Paulo. Suas obras tinham uma característica marcante: trazer traços indígenas nos rostos dos santos”, explica.
Tais características, segundo Kléber, foram interpretadas por Marquês de Pombal como pinturas políticas, o que o levou a ordenar que destruíssem todas as obras do jesuíta à época da expulsão da ordem no Brasil, em meados do século XVIII.
Anchieta e Belchior
“Hoje só nosso estado tem obras de Belchior Paulo, em nenhum outro por onde ele passou foram encontrados resquícios. Podemos dizer que as obras dele são as primeiras pintadas nas Américas. Outra obra importantíssima do jesuíta é o retrato do padre José de Anchieta”, aponta.
Kléber conta que o retrato de Anchieta foi descoberto na década de 40, na restauração da Igreja de Anchieta. “Há tempos ela foi enviada para restauração, mas até hoje não retornou. Além disso, foi Belchior quem deu a extrema unção a José de Anchieta”, lembra.