O presidente da Câmara da Serra, Rodrigo Caldeira, está engavetando pelo menos duas CPI’s que estão na mira de colegas parlamentares que defendem investigação. Em seu segundo mandato como presidente, Caldeira se notabilizou pelo confronto em 2019 contra o então prefeito Audifax Barcelos, abrindo nove comissões de investigações, que geraram uma crise institucional e denúncias de crime organizado na Casa de Leis.
Mas se naquela época, Caldeira foi considerado duro em meio à guerra política, quando o assunto é trazer respostas para a população no trato com as empresas – em pelo menos dois casos específicos – o presidente da Câmara é mais sossegado.
Isso porque duas linhas de investigação, que são recorrentemente cobradas por outros vereadores, vêm sendo travadas pelo comandante da Câmara.
Um dos casos é o TIMS, polo industrial construído em área pública e concedido a uma empresa privada para exploração comercial, mas que supostamente nunca teria pago nada para o Município. A conta dessa empresa com a Serra já passaria de R$ 20 milhões, segundo informou um especialista da área ouvido pelo TEMPO NOVO. (Entenda todo o ‘Caso Tims’ clicando aqui).
O TIMS é vizinho de Caldeira no bairro Carapina Grande, local onde o vereador mantém seu círculo eleitoral, e que deve crescer, já que ele articula sua candidatura a deputado federal em 2022. Além de não pagar a taxa de uso pelo terreno público que explora há 29 anos, a empresa ainda está sendo questionada pelas escavações feitas próximo ao sítio histórico de São João de Carapina, que é uma das igrejas jesuítas mais antigas do Brasil e está ameaçada – outro fato que Caldeira ainda não se pronunciou sobre.
Seu colega, o vereador William Miranda, eleito pela primeira vez em 2020 pela corrente de renovação que varreu a Câmara, já cobrou Caldeira mais de uma vez no microfone do plenário. Foi William que repercutiu as denúncias levantadas pelo TEMPO NOVO há cerca de dois meses em seus pronunciamentos.
O segundo é sobre as águas da Serra, da qual a população paga pelo abastecimento e pelo esgotamento sanitário que compõe a conta de água mensal da Cesan, mas, paralelamente se acumula inúmeras queixas apontando má qualidade do serviço prestado.
A população vem sofrendo com cortes de água semanais e denúncias de má qualidade da água abastecida, especialmente na região de Serra Sede, que compreende 150 mil moradores. São eles que encaminham fotos e vídeos mostrando água amarelada, turva e mau cheirosa saindo pelas torneiras e chuveiros de suas casas.
Sem falar do serviço de esgotamento sanitário, que desde 2015 é gerido pela parceira privada da Cesan, a Ambiental Serra. Apesar da cobrança de 80% a mais na conta de água para residências e de 100% para comércio, moradores, líderes comunitários e representantes eleitos já denunciaram a situação caótica de poluição que se encontram os mananciais da cidade.
Segunda a vereadora Elcimara Loureiro – que ao contrário de Caldeira, já se posicionou a favor da CPI – a investigação poderia dar rumo para que se chegue ao âmago do problema e se busque uma solução para dar dignidade à população, possibilitando inclusive que o município desfrute de praias, rios e lagoas mais limpas e estruturadas para receber turistas e promover atividades econômicas sustentáveis, como a pesca.
Ela é uma das articuladoras da CPI da Água, que já conta com nove assinaturas desde o dia 19 de abril, número suficiente para abrir a comissão e convocar a quem é devido para prestar esclarecimentos.
Enquanto a população segue tendo que ‘matar um leão por dia’ para cumprir com seus deveres fiscais – pagando conta de água e IPTU, por exemplo – grandes empresas seguirão faturando sem que respostas sejam oportunizadas aos moradores da Serra. Isso porque essa reportagem procurou o presidente Rodrigo Caldeira para explicar quais medidas os representantes da população podem dar, e assim como ele tem feito com as CPI’s, o presidente ignorou as demandas jornalísticas.
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