Yuri Scardini
A história é recheada de ironias. Nas artes, o gênio e autodestrutivo Ludwig Van Beethoven, músico compositor que conduziu a transição do classicismo para o romantismo, dando início a uma nova era musical no Ocidente, ficou surdo. Na política, o rei britânico Jorge VI que assumiu a coroa real no prólogo da Segunda Guerra Mundial, era gago. Isto no auge da era radiofônica, quando se fez necessário falar à nação.
Aqui no Brasil, a última ironia histórica mais acentuada pode ser o voto favorável ao impeachment contra o governo petista dado pelo ex-presidente Fernando Collor. Em 1992, o PT foi o principal partido de oposição à esquerda que criou o cenário favorável ao impeachment de Collor, lançando a campanha “Fora Collor”.
Guardada as devidas proporções e respeitando o peso histórico de cada um, aqui na Serra também temos as nossas ironias históricas, principalmente envolvendo os dois caciques da política local, Audifax Barcelos (Rede) e Sérgio Vidigal (PDT). Com menor importância, mas simbolicamente representativo, ironicamente até na data de aniversário os dois competem: Vidigal faz aniversário dia oito de maio enquanto Audifax faz na data seguinte, nove de maio.
No campo mais sistemático da política, os dois líderes se revezam no poder há 20 anos, e pelo andar da carruagem esse monopólio de poder deve se esticar por pelo menos mais quatro anos, pois outros nomes que poderiam ser a terceira via ainda não tem a densidade eleitoral necessária.
Como um espelho, essas eleições de 2016 podem refletir o inverso das eleições de 2012. Na época, Vidigal era o prefeito, vinha desgastado e via a figura de Audifax, então deputado federal, como o único que poderia tira sua coroa de rei. Ironicamente, hoje em 2016, a situação é exatamente inversa.
O desfecho disso, poucos se arriscam a fazer prognósticos. Novamente, pela ironia ou não, até a eleição na Federação de Moradores (FAMS), que é tida como um termômetro para as eleições de outubro embolou. A chapa apoiada por Audifax empatou com a chapa apoiada por Vandinho e Vidigal com 171 votos para cada e a disputa foi parar na justiça.
Correria para tentar segurar a cadeira
Para não deixar que esse espelho invertido promova mais uma ironia política, Audifax corre para inaugurar as obras que pode, tem ido para a rua conversar com as comunidades e espera sair vencedor da disputa.
Ainda há algumas variáveis que podem interferir no desfecho dessa eleição. Alguns interlocutores próximos ao prefeito indicam que Audifax prefere uma disputa ‘tête-à-tête’ com Vidigal. Outros dizem que seria melhor para o prefeito estimular a candidatura de aliados para circular nos redutos eleitorais de Vidigal e tirar votos do pedetista, para forçar um segundo turno, dado o risco e a imprevisibilidade que uma eleição tem.
No meio disso, tem o PMDB, que ensaia fechar acordo com o PDT em Vitória e dar força extra ao deputado federal Lelo Coimbra, cotado para disputar a prefeitura de lá. Esse acordo pode usar o PMDB da Serra como moeda de troca junto a Vidigal.
Na internet pipocam sites e páginas em redes sociais, a favor e radicalmente contra, tanto Audifax quanto Vidigal. Grupos de Whats App são aos montes. Na Câmara está estabelecida a guerra de CPI’s e os debates acalorados uns com os outros. Alguém com um olhar mais atento irá perceber que a Serra está em guerra velada. Logo mais virão as coligações, o que dará um panorama mais tangível para criar análises mais assertivas, por hora são apenas ensaios das ironias que a história pode nos prover.