Bruno Lyra
A Serra tem o maior parque beneficiador de rochas ornamentais do ES, principal estado produtor do país, e está recebendo até domingo (10), no Pavilhão de Carapina, a maior feira do setor na América Latina: A Vitória Stone Fair. Embora emblemática, a ausência do nome da Serra no evento é o menor dos problemas que o setor gera na cidade. Assim como em outros municípios capixabas no caminho desse arranjo produtivo.
São mais de 200 indústrias de portes diferentes na Serra, que além do barulho e poeira, deixam resíduos sólidos. Casqueiros (pedaços de pedras) e a lama abrasiva, esta uma massa cinza com pó de pedra, água, solventes e fragmentos de lâminas e lixas usadas no processo de beneficiamento.
Por anos, pelo menos parte dessas indústrias descartavam esses materiais sem qualquer critério em terrenos baldios e áreas de preservação. Depois passaram a jogar num terreno próximo ao Barródromo, em Portal de Jacaraípe, na calha de drenagem da lagoa Jacuném. O local acabou desativado por determinação do Ministério Público.
Atualmente os rejeitos vão para um aterro aos pés do Mestre Álvaro. E além do impacto à água e solo num local onde há nascentes da lagoa Jacuném, este aterro também impacta a paisagem. Outro problema é o transporte, feito em sua maioria por rodovias. Gera desgaste das vias e riscos de acidentes. Muribeca, Nova Almeida e Jacaraípe são rotas para carretas com pedras e peso em excesso para fugir da fiscalização na BR 101, onde há balança próximo ao posto da PRF em Belvedere.
Os acidentes com carretas transportando pedras são brutais. Nos últimos 11 anos mataram pelo menos 55 pessoas em estradas capixabas. Problemas que começam desde a extração, com desfiguração da paisagem, solo, matas e nascentes. Segundo um levantamento do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), havia mais de 1,7 mil lavras licenciadas ou em processo de licenciamento no ES em maio de 2017.
É também um dos setores que mais coleciona acidentes de trabalho, com mortes, mutilações e doenças ocupacionais geradas pela aspiração de pó de pedra. Ao mesmo tempo é modesto gerador de tributos. Por exemplo, na Serra o setor recolhia menos de R$ 100 mil por mês de ISSQN em 2016, o que correspondeu à cerca 0,7 % de tudo que a cidade arrecadou desse imposto no período (dados do TCES). Na balança do custo-benefício, não é difícil concluir que o setor de rochas está em dívida com a Serra e com o Estado.