Por Bruno Lyra
Para gerações de capixabas da metade do século passado até a década de 1990, trabalhar na Vale (Antiga Companhia Vale do Rio Doce – CVDR) era sinônimo de status e segurança financeira. Estatal criada por Getúlio Vargas em 1942 e privatizada em 1997 na gestão de Fernando Henrique Cardoso, a mineradora, siderúrgica e operadora de logística gozou de imenso prestígio junto à comunidade do Espírito Santo, notadamente na novíssima sociedade urbana da Grande Vitória, formada pelas imensas levas de migrantes que deixavam o interior do ES e de estados vizinhos.
Famílias se esforçavam para que seus filhos entrassem na escola técnica e daí, saíssem empregados da CVRD. Orgulhosas ficavam ao verem seus ‘meninos de ouro’ trajando uniforme cáqui, capacete branco e coturno com bico de aço. Chegar em casa com a pele brilhando de minério de ferro era ideal de vida.
Mas o mundo mudou. Cresceu a consciência de que o modelo de crescimento urbano acelerado e puxado por indústrias de base rejeitadas em países desenvolvidos após a 2ª Guerra traz pesados custos sociais, como a violência e a favelização.
Para ajudar a reduzir o prestígio da Vale, vieram as transformações estruturais da indústria, onde a mecanização e a terceirização reduziram, pelo menos proporcionalmente, o número de empregados da empresa.
A mudança para a ponta de Tubarão, o surgimento da CST lá (hoje ArcelorMittal Tubarão) e as expansões ininterruptas, agravaram a poluição do ar. Décadas de exposição ao pó preto, outras poeiras finas e mais nocivas, além dos gases siderúrgicos, repercutiram na saúde da população. Esta, mais informada, passou a compreender a origem da epidemia de problemas respiratórios que assola a região metropolitana.
E agora, o desastre/crime ambiental de Mariana. A inviabilização do rio Doce num estado em processo de desertificação e a contaminação contínua do mar rebaixaram ainda mais a reputação da Vale. O sonho de outrora das famílias capixabas, para um número crescente de pessoas, se transformou num pesadelo.