Uma pesquisa desenvolvida no Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, comprovou a eficácia de próteses de polímero de mamona na reconstrução de ossos da face. A descoberta pode ajudar a reduzir o custo do procedimento, uma vez que o produto é fabricado com polímero de mamona, uma substância sintética desenvolvida no Brasil.
O biopolímero de mamona tem a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não existia comprovação científica sobre a efetividade do material em cirurgias nessa região do corpo.
O estudo é inédito e ganhou as páginas de uma das melhores publicações mundiais da área da cirurgia bucomaxilofacial, o Journal of Cranio-Maxillo-Facial Surgery.
O autor da pesquisa é o cirurgião-dentista Renato Marano, especialista em traumas da face e do crânio. Ele explica que, propositalmente, os ossos em volta dos olhos são muito finos, e quando ocorre qualquer fratura nessa região, em vez de os ossos serem empurrados contra os olhos e causarem o esmagamento do globo ocular, a parede óssea absorve o impacto e se quebra.
Para entender melhor como isso funciona, é possível dizer que o sistema natural de amortecimento da face pode ser comparado com a estrutura de um carro de Fórmula 1, que se desmancha numa colisão, mas ao mesmo tempo protege o piloto. “A gordura ao redor dos olhos ajuda a amortecer o trauma e funciona como a cápsula de segurança onde fica o piloto nos carros de Fórmula 1. E os ossos, que se quebram com o impacto, seria como a estrutura do carro, que é projetada para se desintegrar com o choque, reduzindo a força da energia que chega ao corpo do piloto”, compara o cirurgião, que é membro do corpo clínico do Hospital Dr. Jayme.
Marano ressalta que sem esse sistema natural de segurança a energia do trauma poderia ser transmitida para o olho e aconteceriam muito mais traumatismos oculares com a perda da visão, assim como antigamente os pilotos se feriam muito mais nos acidentes automobilísticos porque os carros eram feitos com material rígido. O cirurgião esclarece que justamente por serem esses ossos muito finos, uma vez fraturados eles dificilmente conseguem voltar a sua posição e função originais, por isso a necessidade de substituí-los por outros materiais.
Segundo Marano, o objetivo da pesquisa era comparar a utilização do biopolímero de mamona com outros dois biomateriais de eficácia comprovada cientificamente nesse tipo de cirurgia, que são a tela de titânio e o polietileno de alta densidade.
“A investigação não apontou relação de superioridade entre um e outro. Na comparação, observamos que o biopolímero de mamona também é um material muito bom, com a vantagem de ser um produto nacional. Além disso, o resultado da pesquisa valoriza o país e aumenta a opção de materiais para reconstrução de ossos da face”, comentou o cirurgião, que realizou o estudo como tese do doutorado que acaba de concluir na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.