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Talma Rodrigues Ribeiro: O prefeito-marinheiro que deu nome à avenida da Serra

Talma Rodrigues Ribeiro (foto) foi prefeito interventor da Serra em 1945. Crédito: Gabriel Almeida.

A Avenida Talma Rodrigues Ribeiro é uma das vias mais importantes para a economia e a urbanização da Serra. Ela conecta a ES-010, que percorre o litoral, à BR-101, através da Avenida Eldes Scherrer Souza, passando pelo Civit II, o maior polo industrial do Espírito Santo.

Além de sua importância econômica, a Avenida Talma é o principal acesso a bairros como Feu Rosa e Vila Nova de Colares, que juntos formam o maior complexo habitacional do estado. Porém, ao contrário do que muitos podem supor, Talma, a pessoa que deu nome à avenida, não é uma mulher, mas sim um homem.

Talma Rodrigues Ribeiro nasceu no Rio de Janeiro – então capital do Brasil – em 1º de março de 1914, vindo de uma família da elite carioca. Seu avô materno foi o Almirante Gaspar da Silva Rodrigues, um importante militar que lutou na Guerra do Paraguai e na Guerra dos Farrapos.

Na infância, Talma iniciou seus estudos no colégio público Visconde de Cayru e na Escola Bahia. Nessa época, sua família mudou-se para o Espírito Santo, onde Talma estudou no renomado Grupo Gomes Cardim. Contudo, sua permanência no estado foi breve, pois, ainda na juventude, ele retornou ao Rio de Janeiro, onde as oportunidades eram significativamente maiores. Lá, Talma fez um curso de piloto na Marinha Mercante e, durante esse período, se envolveu na Guerra Constitucionalista de 1932.

O conflito armado ocorreu entre o estado de São Paulo e o governo federal, liderado por Getúlio Vargas. Os revoltosos estavam insatisfeitos com o governo provisório de Vargas, que havia assumido o poder após a Revolução de 1930, deposto o presidente Washington Luís, e suspendido a Constituição de 1891.

Os paulistas exigiam a promulgação de uma nova Constituição e o fim do governo provisório de Vargas. A guerra começou em julho de 1932 e durou cerca de três meses. Apesar de contar com apoio popular, os paulistas foram derrotados militarmente pelas forças federais, mas a pressão exercida pelo conflito contribuiu para que Vargas convocasse uma Assembleia Constituinte e promulgasse a Constituição de 1934.

Pilotando o navio chamado “Jaboatão”, Talma foi alistado para o serviço militar, transportando tropas e material bélico em suporte ao governo de Vargas. Ele permaneceu na Marinha até 1936, quando decidiu se estabelecer em terra firme. Prestou concurso para o Instituto de Aposentados e Pensões dos Comerciários (IAPC). Ele fez carreira como servidor federal, ocupando diversas funções, especialmente na área da Previdência Social, durante um período em que a legislação de seguridade social estava avançando no Brasil.

Nesse período, no início de 1938, Talma conheceu no Rio de Janeiro a professora Judith Leão Castello. O casal se apaixonou e, em agosto daquele ano, se casaram em Vitória. Sua esposa era uma das mulheres mais influentes do Espírito Santo; serrana, ela foi a primeira mulher na história política capixaba a se eleger deputada estadual, cargo que ocupou por quatro mandatos. Talma se mudou para a Serra e foi um dos maiores incentivadores de Judith; ele era considerado um alicerce para a família Castello, que por anos protagonizou a política na Serra.

Além de Judith, Talma foi um dos maiores apoiadores de seu cunhado, o poderoso Rômulo Leão Castello, que foi a maior força política da Serra por pelo menos 30 anos, entre 1930 e 1960. Foi por meio dessa articulação, liderada por seu cunhado Rômulo, que Talma Rodrigues Ribeiro foi convidado pelo interventor do Estado, Dr. Jones dos Santos Neves, para exercer o cargo de prefeito-interventor da Serra. Ele assumiu em 7 de maio de 1945 e permaneceu no cargo até meados do ano seguinte, quando retornou ao seu posto federal na superintendência do Espírito Santo.

Naquela época, o Brasil vivia a queda do Estado Novo, em 1945, quando Getúlio Vargas foi deposto. Até que as eleições fossem restabelecidas, algumas cidades ainda eram governadas por prefeitos interventores, como foi o caso da Serra.

Talma foi uma importante personalidade nos bastidores políticos da Serra, dando suporte à família Castello nas disputas com a família Miguel, que mais tarde daria origem à ramificação dos Feu Rosa. Ele ajudou Rômulo a implantar na Serra a cultura do abacaxi, uma solução provisória para evitar que a economia da Serra entrasse em colapso. O cultivo do abacaxi impulsionou a economia municipal e precedeu a chegada da era industrial na região. Talma era considerado um homem culto e bem relacionado.

Ele governou a Serra em um período de profunda crise econômica, quando não havia recursos para grandes intervenções e investimentos públicos. Ele também se envolveu em polêmicas, como no caso do atentado contra um homem conhecido como Alcyr.

Alcyr, que era primo dos Castello, decidiu apoiar os adversários em uma eleição entre as décadas de 1940 e 1950. Ele foi vítima de um atentado a bala, que na época foi atribuído a Talma, após uma briga entre Rômulo e Alcyr. A autoria dos disparos nunca foi comprovada, e a família Castello alegou que se tratava de uma tentativa de difamação com o objetivo de obter vantagens eleitorais. Talma Rodrigues Ribeiro faleceu em 15 de novembro de 1988, aos 74 anos, vítima de pneumonia.

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