Nesta semana, enfim, houve o encontro pessoal entre o ex-presidente Lula e o juiz Sérgio Moro, na audiência ocorrida em Curitiba. Algo tão aguardado, como inútil tendo como perspectiva o resultado final da percepção social em relação ao caso.
Digo isso porque em termos processuais, na prática, nada será alterado. O ‘juízo’ do juiz já é conhecido: indiretamente ele já deu seu veredicto há um bom tempo, como já demonstrou em seus vazamentos seletivos, conduções coercitivas e tantas outras manifestações. Da mesma forma, também já são sabidos todos os argumentos do ex-presidente, em sua defesa.
Legalmente, a oitiva faz parte do procedimento de julgamento – acusação e ampla defesa – já que nesse caso Lula é réu. Contudo, por meio da mídia, esse depoimento (em termos de troca argumentativa) já tivesse ocorrido ao longo dos últimos dois anos. O juiz, inclusive, utilizou falas publicadas nos jornais em suas perguntas.
Dado o alto índice de envolvimento social – de ambos os lados – esse depoimento sem dúvida foi o que trouxe mais custos para a sociedade, sejam eles financeiros ou políticos. Os segundos, aliás, se espalham por todo o país.
Aqui no Espírito Santo tem duplo efeito: a desqualificação da Política (com ‘P’ maiúsculo) já debatida em outros artigos, bem como a dormência nos debates de temas essenciais. Assuntos como o aumento de roubos e furtos depois da greve da PM – perceptível a olhos nus – e estratégias de dinamização da economia, poluição do ar e das águas, carências nos postos de saúde e em hospitais dão lugar à inércia sociopolítica ou a outros assuntos.
É muito contraditório, pois ao mesmo tempo em que parte considerável da população demonstra saturação em relação à política tradicional, parece sonolento – no interior de um pesadelo social – na proposição de alternativas aos problemas sentidos.