Bruno Lyra
Fabrício Ribeiro
Cariacica é o terceiro município capixaba mais populoso, mas tem o orçamento per capita mais baixo.Com pouco recurso e muita demanda para atender, o prefeito Geraldo Luzia de Oliveira Junior, o Juninho (PPS), reclama da perda de arrecadação para Vila Velha, mas garante que a saída é planejar e priorizar o que precisa e dá para ser feito, além de economizar e cortar custos. Nesta entrevista, entretanto, o prefeito falou sobre os grandes problemas sociais. Na saúde, apontou a lotação do PA de Alto Lage que atende 30% de não moradores e até internamentos improvisados pela falta de vaga na saúde estadual. Tudo custeado pelo município. Na educação, a falta de vagas em creches é a maior preocupação. Falando de habitação, destacou que Cariacica tem mais de 8 mil famílias carentes. Já na segurança pública, disse que os dados de violência e homicídio que estavam despencando voltaram a crescer depois da crise do policiamento no Estado.
Prefeito, como anda a arrecadação de Cariacica?
Tivemos uma forte queda e hoje estou numa briga. Antes, nossa arrecadação com o setor de logística era 70% maior do que hoje. Vila Velha me tomou isso. Começou a armazenar. Você passa na Lindemberg e vê aquelas montanhas de conteiners. Isso é ilegal. A lei é clara: as áreas para armazenamento de produtos portuários tem que ser alfandegadas e as únicas em condição na Grande Vitória são as de Cariacica. Armazenar, Cariacica. Transbordo, os portos. Trazendo isso de volta somado com os novos negócios a realidade da arrecadação vai mudar.
Como é administrar uma cidade com quase 390 mil moradores, muitas carências e um orçamento de menos de R$ 400 milhões? Por exemplo, a Serra e Vitória têm orçamentos de cerca de R$ 1 bi e de mais de R$ 1.5 bi, respectivamente, e nessas cidades há queixas de falta de recurso.
Tenho o menor orçamento per capta do estado. A única capixaba no G 100, grupo das cidades mais pobres do país com mais de 250 mil moradores. Como se consegue fazer toda essa engenharia e manter os serviços? Abrir o maior PA do ES, colocar tudo para funcionar? É engenharia, é gestão. Primeiro com bom planejamento. Segundo, estabelecendo prioridades. E ter uma linguagem muito clara com a população sobre o que dá e o que não dá para fazer.
Quais seriam essas prioridades?
Redução de custeio, por exemplo. Estamos saindo de cerca de R$ 2 milhões em aluguel para algo em torno de R$ 700 mil. Estou conseguindo isso juntando secretarias espalhadas pela cidade e trazendo para um único local, a 200 metros da prefeitura. Isso também vai facilitar a vida do contribuinte. Criamos a consciência no servidor que economizar no custeio dá a ele a garantia do salário em dia. Pago sempre antes do último dia do mês. Além da negociação com fornecedores, reduzi em 20% os orçamentos das secretarias, telefone, combustível. Reduzimos cargos comissionados.
A Saúde está funcionando bem na sua gestão?
A saúde não está. Quando informatizarmos, vai funcionar. O PA de Alto Lage, além de atender pelo menos 30% de pessoas de fora de Cariacica, está funcionando como um mini hospital, mas só com recurso do município. Os PA´s não foram feitos para internação. A Central de Vagas quem administra é o Governo do ES. Precisou internar já deveria ter vaga, mas não está tendo. Tem gente ficando 20 dias e até morrendo no PA por falta de vaga nos hospitais do Estado. E a gente leva a culpa. Estou fazendo uma grande auditoria e levantando gargalos, uma coisa que vai ajudar muito é o ponto eletrônico, que também vamos adotar em outras áreas.
Assiduidade de médicos e outros servidores é um problema?
Sim. E o pior: quando a gente aperta, médicos começam a pedir para ir embora. Nossos problemas de atendimento são porque não conseguimos repor os médicos no prazo, há burocracia para a contratação. E um debate a nível estadual é que uma cidade vizinha não pode oferecer um salário muito mais alto que outra. Aqui eu cobro o ponto e a outra não, aí eu perco o médico. Mas hoje isso está mais calibrado.
Você consegue médicos para as periferias?
Algumas unidades a gente ainda tem dificuldade de conseguir os profissionais. É um problema difícil de resolver. É um outro desafio na saúde.
Qual é o maior gargalo na educação?
Falta de vagas em creches é o maior problema na Educação. Quando cheguei só 20% das crianças de 0 a 3 anos estavam sendo atendidas. Agora chegamos a 23%. Agora temos que trabalhar e colocar em tempo integral, que é o outro desafio. Me comprometi que no meu governo faríamos pelo menos mais 10 creches, já licitamos cinco e iniciamos as obras de três. Atualmente temos 106 unidades educacionais, sendo 28 creches. Com essa crise muita gente ficou desempregada e aí perdeu o plano de saúde. Sobrecarregou a rede pública. Na educação, a mesma coisa. Não posso deixar de aparelhar melhor essas estruturas para atender essas pessoas, que tem o mesmo direito que as demais.
E na habitação? Há quantas famílias em situação de carência?
Pouco mais de 8 mil famílias. Tivemos uma reunião com Sinduscom e Caixa Econômica e as empresas estão muito interessadas em Cariacica e elas fizeram um planejamento de iniciar aqui na cidade cinco mil unidades do Minha Casa Minha Vida que atenderia um público enorme. Se esse ritmo for factível, até o fim do mandato a gente consegue chegar a 10 mil unidades habitacionais.
Como está a segurança pública, índice de homicídios?
Temos as 124 câmeras de videomonitoramento e parceria com as polícias. Mas o que aconteceu é que estamos com um fato novo no ES. Até iniciar o movimento da PM, Cariacica era referência na redução de homicídios. Chegamos a ficar 12 dias sem homicídios. Aí veio essa crise e a polícia não está emocionalmente mais no mesmo ritmo. As ocorrências voltaram a crescer.
Cariacica pretende ter guarda municipal?
Sim. Mas quando tivermos recursos financeiros. Por enquanto, temos a guarda de trânsito.