Incrédulos, recebemos a decisão judicial proferida pela juíza Telmelita Guimarães a pedido do candidato Pablo Muribeca, que, na prática, impõe uma mordaça ao Tempo Novo, em evidente desacordo com a liberdade de expressão e de imprensa. Um precedente perigoso para o jornalismo no Espírito Santo.
A decisão obriga o veículo a deletar 16 matérias jornalísticas de cunho eleitoral, entre elas conteúdos que relatam decisões judiciais desfavoráveis a Pablo Muribeca, além de outras que reportavam apoios recebidos por seu adversário, Weverson Meireles, como o do deputado Vandinho Leite, após o segundo turno. Na prática, são 16 matérias, todas fundamentadas na linha editorial do Tempo Novo, que desagradam Muribeca e agora precisam ser removidas.
Como se isso já não fosse um flagrante atentado à liberdade de imprensa, a juíza também proibiu os sócios-proprietários do Tempo Novo, Eci Scardini e Yuri Scardini, de veicularem novas publicações que “ataquem direta e indiretamente o candidato Pablo Muribeca” ou favoreçam “desproporcionalmente a candidatura de Weverson Meireles”. Em caso de descumprimento, a multa diária será de R$ 50 mil.
A medida atende ao pedido de Muribeca, formulado em um processo assinado por sete advogados do renomado escritório Cheim Jorge Abelha Rodrigues – Advogados Associados.
Agora, resta saber quem determinará exatamente o que caracteriza um ataque direto e indiretamente ao candidato Pablo Muribeca. Se uma opinião editorial do Tempo Novo em qualquer tema o incomodar, não temos mais permissão da juíza para publicá-la? E se o candidato se envolver em mais uma de suas polêmicas, como o suposto atentado contra sua vida — que simplesmente não aconteceu —, como o jornal deve tratar o assunto?
Um veículo de comunicação deve ser imparcial na apresentação dos fatos, mas fiel à sua linha editorial e aos princípios em que acredita. O Tempo Novo tem um papel fundamental na Serra como uma voz ativa em diversos temas, não apenas na política, e essa credibilidade foi construída ao longo de 40 anos de jornalismo, enfrentando inúmeros desafios. Mesmo assim, nunca se deparou com uma situação tão preocupante quanto esta. Ao impedir que um jornal exerça seu papel crítico, ele se torna apenas um replicador de dados e informações desprovidas de reflexão. E agora estamos diante de uma indecisão sobre como se comportar, já que a liberdade de imprensa foi extraída de nós.
Sugerimos então a criação de algo semelhante ao DOI-CODI ou, especificamente, de um Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Aliás, por que não ressuscitar a Divisão de Censura de Diversões Públicas? Esses órgãos fiscalizavam e censuravam diretamente o conteúdo de jornais, revistas, rádios e TVs, impedindo a publicação de informações contrárias ao governo durante a Ditadura Militar. Seria uma boa inspiração para aqueles que querem amordaçar o Tempo Novo.
Fica aqui outra pergunta que o Tempo Novo se faz: é esse o “jeito Republicanos de governar”?Repressão e silenciamento da imprensa, especialmente daqueles que não emitem opiniões favoráveis a eles? Durante a ditadura, o controle da imprensa foi extremamente rígido, com reportagens sendo frequentemente vetadas ou alteradas, e jornalistas perseguidos, presos e até torturados por suas opiniões. Resta saber até onde isso vai parar, pois abre um perigoso precedente para a imprensa capixaba.