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“Tenho o sonho de implantar um colégio militar em bairros carentes da Serra”

O vereador da Serra Cabo Porto concedeu entrevista ao Tempo Novo. Foto: Divulgação

Nessa entrevista o vereador Cabo Porto (PSB), de 43 anos, casado e pai de dois filhos,revela um pouco de sua história pessoal, de sua vida como policial e transição para política. Entre seus sonhos está a implantação de uma escola militar na Serra. Ele elenca projetos de sua autoria que se tornaram leis, como a Patrulha Maria da Penha, por exemplo, que visa combater a violência contra a mulher. No campo político, ele deixa em dúvida sua permanência no PSB, critica a crise política entre Câmara e Poder Executivo e “deseja” que o Governo de Jair Bolsonaro “prospere para o bem do Brasil”.

Vivemos uma época de elevado nível de descrédito na classe política, o que te levou a deixar a farda de policial para usar o terno de vereador?

Vamos começar pelo início, atéporque decisões importantes não são motivadas por uma única razão, é um processo existencial em nossas vidas. Em vim de baixo, sou criado em Castelândia, sou o irmão mais novo de três filhos de uma mãe divorciada. Vivíamos uma situação de muita dificuldade e nesse meio tempo, um homem se aproveitando disso, entrou em nossas vidas, ele viria a ser meu padrasto. Aqueles foram anos difíceis, pois ele era adúltero, alcoólatra e violentava fisicamente minha mãe. Cresci vendo isso de camarote.

Então sua decisão de ser policial tem origem nessa relação familiar abusiva?

Posso dizer que foi a gêneses, mas Deus colocou outros personagens em minha vida que foram importantes nessa decisão. Aos nove anos eu não ficava muito em casa, pois tinha medo do meu padrasto. Foi quando comecei a vender salgadinho na rua. Aos 13 anos, conheci um senhor em Jacaraípe, que me deu um trabalho de sorveteiro no meu contra turno escolar. Aos meus 16 anos, ele me demitiu. Comecei a chorar, e foi então que ele me disse: ‘estou te mandando embora, porque você pode ser mais que um sorveteiro’.

E nisso seu padrasto ainda estava na sua vida?

Sim e cada vez mais agressivo. Só que naquele momento minha mãe já tinha comprado um apartamento, portanto, era ele que vivia com a gente.  Dias depois de ser demitido, durante mais uma sessão de tortura física e psicológica contra minha mãe, eu tomei coragem e peguei um cabo de vassoura. Expulsei-o da nossa casa e da nossa vida e naquele momento eu já sabia que seria policial militar.

Quando você entrou para a tropa?

Em 1996 eu entro na corporação. Minha primeira patrulha foi com o Cabo Antônio Bananeira – uma lenda entre os policiais. Estava muito nervoso, queria mudar o mundo. Quando entrei na viatura, tomei um banho de água fria. A PM estava três meses de salário atrasado e meu primeiro serviço foi empurrar a viatura que estava quebrada, um golzinho geração1. O Bananeira dizia que eu nunca conseguiria ir longe naquela profissão. Nove anos depois, em 2005 estava recebendo o Prêmio Destaque Operacional, que é uma referência em termos de honraria. Ainda hoje, sou um dos PM’s mais condecorados da corporação.

Você contextualizou desde sua infância até seu primeiro dia como policial. Mas houve um fato determinante nesse processo de se tornar um vereador?

Olha, eu falo isso pouco com as pessoas, pois eu não me orgulho. Mas como policial eu já matei bandidos, certo?!Quando um PM precisa matar, é para proteger uma vítima, um irmão de farda ou nossa própria vida, portanto, quando se chega a esse ponto, quer dizer que a sociedade falhou. Em uma ocorrência específica, me marcou muito, quando três bandidos morreram num assalto em Jacaraípe. Ali me acendeu uma alerta, de que se eu quisesse ajudar a mudar as coisas em perspectiva, eu deveria mudar de rumo. Coincidiu com uma vontade popular, as pessoas me pediam para ser candidato, elas enxergavam esperança, me pediram para usar a minha experiência onde de fato as mudanças acontecem, que é na política.

Nestes dois anos e nove meses como vereador, o que você destaca como realização?

Tenho projetos que se tornaram leis, posso citar a 4.698 de 2017, que institui a patrulha da Maria da Penha e que visa inibir a violência contra a mulher. A Serra é a cidade mais violenta nesse sentido. Ainda não está sendo executada, mas o secretário me garantiu que até o final do ano será implantada. Outra que queria citar é a Lei 4.878 de 2018 que proibiu o chamado baile funk do Mandela. São festas clandestinas com livre uso de droga e prostituição e gera homicídios. Entre outras.

E o que você quer realizar até o fim do mandato?

Para muito estudantes, a referência é o traficante, que se veste bem, que anda de carrão, que ostenta. Por isso tenho o sonho de implantar um colégio militar em bairros carentes da Serra. Esse é meu objetivo desde o primeiro dia de mandato. Mas não depende de mim. Eu defendo isso porque existem experiências muito positivas nesse sentido. Um local que ensina matemática, português e etc. Mas também um local que passava valores morais, cidadania, amor a nossa bandeira, disciplina, que são filosofias militares.

Falando de eleição, qual o seu futuro político? Vai ficar sair do PSB, vai ser candidato à reeleição?

Sou fiel onde eu estou, mas tem que ser recíproco. Hoje estou no PSB, mas com todo o respeito ao partido, eu não posso descartar nenhuma possiblidade. Em 2018 eu recuei de uma candidatura para estadual, fiz com o coração partido. Então eu sempre fui fiel ao PSB, mas a gente espera que seja uma via de mão dupla. As pessoas me abordam perguntando se serei candidato a prefeito. Isso faz a gente pensar. Se a eleição fosse hoje, eu seria candidato à reeleição mesmo, mas sabe como é política… muda igual nuvem.

Você tem recebido convite de outros partidos?

Sim, de muitos partidos, como o PSL por exemplo. Isso é um prêmio para gente, pois quer dizer que estamos no caminho certo.

Câmara e Poder Executivo viveram dias de guerra nesse ano. Isso é página virada? Qual sua avaliação sobre aquela crise política?

Acredito que sim, passou. Foi uma coisa que ninguém ganhou. Aquele clima afastou investidores, tirou estabilidade, o foco dos mandatos e da população. Bom é que andem juntos, numa relação republicana. Quem perdeu com essa briga foi à sociedade. E que sirva de experiência para que nunca mais se repita. Já disse algumas vezes, ser oposição por oposição é muito errado. Audifax faz um bom mandato, tem muitas entregas de obras, em um contexto de crise econômica.

Como líder político como avalia o Governo de Bolsonaro?

Votei nele e torço para que faça um bom governo. Olha, nos Governo do Lula, eu votei nele, e agora votei em Bolsonaro, então eu sigo o momento das pessoas. Esse negócio de direita contra esquerda e vice versa é muito ruim, pois se Bolsonaro fracassar, é o fracasso de uma nação, todo mundo perde. Torcida organizada só serve para o futebol.

Redação Jornal Tempo Novo

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