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Todas as formas de violência contra mulher aumentaram em 2022, diz pesquisa

violência
Os números apontam que 50.692 mulheres sofreram violência diariamente em 2022. Foto: Agência Brasil
ISABELLA MENON

Todas as formas de violência contra a mulher aumentaram no Brasil em 2022, aponta uma nova pesquisa Datafolha realizada a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A lista inclui desde vítimas de xingamentos e ameaças até aquelas que foram esfaqueadas ou alvo de tiros.

O levantamento, que aconteceu entre os dias 9 e 13 de janeiro deste ano, ouviu pessoas acima de 16 anos em 126 cidades do Brasil, abrangendo assim todas as regiões do país. Do total, foram realizadas 2.017 entrevistas, sendo 1.042 mulheres, das quais 818 responderam ao bloco sobre vitimização.

A pesquisa, chamada “Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil” e publicada na manhã desta quinta-feira (2), mostra um cenário ainda mais preocupante para a população feminina. Os números apontam que 50.692 mulheres sofreram violência diariamente em 2022.

A prevalência da violência ao longo da vida é maior entre mulheres pretas (48%), com grau de escolaridade até o ensino fundamental (49%), com filhos (44,4%), divorciadas (65,3%) e na faixa etária de 25 a 34 anos (48,9%). No geral da população esse número é de 33,4%.

Entre os índices que medem a violência contra a mulher, houve uma piora em todos os aspectos, seja tiro ou esfaqueamento, ameaça com arma de fogo ou faca, espancamento ou tentativa de estrangulamento até insultos, humilhação ou xingamento.

Para Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, três motivos explicam o aumento da violência contra a mulher.

O primeiro está ligado à queda do financiamento de projetos ligados ao acolhimento das mulheres em situação de violência.

Por exemplo, o Inesc (Instituto Instituto de Estudos Socioeconômicos) apontou que o orçamento federal para combater a violência contra a mulher em 2022 foi o menor dos últimos quatro anos.

Além disso, Bueno diz que houve uma precarização dos serviços de acolhimento em meio à pandemia. Alguns serviços, lembra ela, foram interrompidas ou tiveram a capacidade limitada de recursos. “Estamos falando de diversos funcionários públicos afastados por serem considerados grupo de risco e isso precarizou na ponta o atendimento”, diz.

Por fim, a diretora do Fórum cita que o agravamento da violência contra as mulheres pode estar ligado ao movimento ultraconservador que cresceu nos últimos anos.

“Isso vai desde o Escola Sem Partido que ataca questões como igualdade de gênero”, diz Bueno. “Mas isso ficou claro na gestão do [ex-presidente Jair] Bolsonaro com a criação do Ministério da Família e das tentativas da [ex-ministra e agora senadora] Damares Alves de impedir meninas grávidas em decorrência de estupros a realizarem um aborto.”

Ela compara a situação do Brasil com os resultados de uma pesquisa conduzida pela Monash University (da Austrália) e pela ONU Mulheres que buscou compreender como a expansão do extremismo em Indonésia, Bangladesh e Filipinas reverberou na agenda de gênero.

O estudo concluiu que pessoas que apoiam a violência contra mulheres são três vezes mais suscetíveis a apoiar o extremismo, ou seja, apoiar que práticas violentas sejam empregadas para alcançar objetivos ideológicos, políticos ou religiosos.

“Regredimos muito nessa discussão, o que mostra como a violência reverbera em diferentes esferas da vida”, diz Bueno.

Uma das recomendações do Fórum é o cumprimento de uma legislação aprovada em 2022, que determina que 5% da verba do Fundo Nacional de Segurança Pública seja destinada ao enfrentamento de violência contra mulher.

Pela primeira vez, a pesquisa mediu a porcentagem de mulheres que já foram agredidas fisicamente ou sexualmente ao menos uma vez na vida e aponta que 1 em cada 3 mulheres já sofreram alguma violência -o número é superior à média global de 27%, segundo uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) realizada em 2021.

Quando a pesquisa inclui a violência psicológica, o número sobe e chega a 43% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais, o que equivale a 27,6 milhões de pessoas.

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Bueno relembra que o Brasil é um país violento de maneira geral, não apenas com mulheres. Diz ainda que nos últimos 15 anos houve uma evolução da sociedade sobre o tema.

“O brasileiro está mais sensível a essa causa, mas isso não significa que os índices vão cair, mas a população está menos conivente”, diz ela que cita que a pesquisa aponta ainda como cresce, a cada ano, a incidência da violência dentro de casa e cai o número das agressões na rua.

A especialista afirma que uma das possibilidades para isso é de que os agressores se sentem menos encorajados a praticar a violência. “Por isso, esperam ficar em casa. Assim, aumenta a violência no espaço doméstico, um local de proteção para o agressor.”

A pesquisa aponta ainda que a maior parte das mulheres agredidas não pede ajuda. Em 2022, foram 45% que não fizeram nada após episódios de violência. Em segundo e terceiro lugar, respectivamente, as mulheres afirmaram ter pedido ajuda para familiares e amigos.

A maior parte afirma acreditar que consegue resolver a questão sozinha (38% das entrevistadas). o segundo maior motivo é a falta de confiança na polícia, resposta dada por 21,3%.

Além disso, 14% dizem não ter provas suficientes para provar terem sido vítima de uma agressão. “A mulher que não tem uma marca física muito evidente, muitas vezes não vai conseguir fazer um boletim de ocorrência e vai voltar para casa. Isso demonstra a incapacidade do estado de lidar com as diferentes formas de violência”, diz Bueno.

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