Alegando que a estudante Victoria Bermudes – aprovada em 1º lugar no curso de Nutrição – não é parda, mas branca, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) negou o ingresso da jovem à faculdade. A decisão gerou revolta no Campus e nas redes sociais, trazendo até dúvidas sobre o sistema de avaliação para aprovação dos futuros alunos.
De acordo com Victoria, que mora em José de Anchieta na Serra, a universidade pede que o estudante afirme qual é sua etnia. No caso, a aluna se autodeclarou parda e foi indeferida pela Ufes. “Eu passei em primeiro lugar em nutrição para candidatos autodeclarados pardos, mas minha autodeclaração foi indeferida pela Ufes. A entrevista durou menos de três minutos e foi on-line e a avaliação foi extremamente subjetiva já que conta só características físicas”, explicou.
Ainda de acordo com a estudante, ela não recorreu até o momento, mas pretende questionar quais critérios estão sendo utilizados nessa avaliação. “A subjetividade da análise de candidatos autodeclarados pardos e a incoerência da banca que por muitas vezes aprova candidatos brancos nessa categoria gera muita revolta”, acrescentou.
Victoria também afirmou que o mecanismo foi feito para diminuir a desigualdade e aumentar a pluralidade dentro da faculdade, mas isso não está acontecendo. “A categoria, por exemplo, exige a autodeclaração como parda e eu não me deparo como branca, como amarela, como negra, mas sim como parda porque é assim que eu me vejo, é assim que eu me vejo na minha característica física, na minha vivência social”, finalizou.
Victoria Bermudes contou sua história através das redes sociais. Por lá, muitos estudantes declaram apoio à Victoria e também dispararam críticas contra a Ufes. “Nunca entendi qual o critério deles, pois a Victoria é obviamente parda, mas no meu curso de Odontologia, por exemplo, 80% das pessoas dessa categoria são brancas”, informou uma aluna da universidade.
Outra estudante também confirmou que alunos brancos ocupam vagas destinadas para o público pardo. “Muito engraçado que eles passaram pessoas de cor realmente branca nessa modalidade e, quando vem uma pessoa real considerada parda, eles não aprovam. Essa banca está complicada”.
Em nota enviada ao TEMPO NOVO, a Comissão de Avaliação Étnico-Racial da Ufes informou que não comenta casos individuais de candidatos que concorrem a uma vaga na Ufes por meio da modalidade de reserva de vagas.
“Em relação ao processo de verificação, a Pró-Reitoria de Graduação da Ufes explica que a análise étnico-racial do candidato considera características fenotípicas, ou seja, o conjunto de características físicas do indivíduo, predominantemente a cor da pele, a textura do cabelo e os aspectos faciais que, combinados ou não, permitirão validar ou invalidar a autodeclaração”, diz o texto da nota.
Ainda segundo a Ufes, o candidato cuja avaliação for indeferida poderá interpor recurso em até 48 horas corridas após o indeferimento por meio do Portal do Candidato. “O recurso será analisado pela Comissão Especial para Reserva de Vagas (CERV), que não participa do processo de avaliação inicial”, finaliza.
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